Diretor gasta verba de série gravada em SP com carros de luxo e joias

Carl Erik Rinsch usou parte da verba da série Conquest para comprar criptomoedas e itens de luxo. Produção tinha Keanu Reeves no elenco

Team One, Saatchi LA Present New Directors’ Showcase In Los Angeles

John Sciulli/Getty Images

Em abril de 2019, o então governador de São Paulo, João Dória, postou nas redes sociais uma foto com o astro de Hollywood Keanu Reeves. A imagem comemorava a vinda do ator ao país para conhecer as locações da maior cidade brasileira, que seria cenário do seriado Conquest. Bom, seria mesmo, porque… a produção não vai rolar mais, depois de um investimento de US$ 55 milhões por parte da Netflix.

Keanu Reeves de terno cumprimentando João Dória - Metrópoles

Keanu Reeves e João Dória em foto postada em 2019 – Reprodução Redes Sociais

A empolgação inicial não foi apenas de João Dória, que chegou a dizer que São Paulo “se consolidaria no mercado de grandes produções cinematográficas internacionais”. A Netflix nutria grandes expectativas em relação a Conquest, projeto do diretor Carl Erik Rinsch. Acontece que, alguns anos depois, a série foi cancelada e o criador do projeto é acusado de gastar o dinheiro da produção na compra de ítens de luxo, na bolsa de valores e em criptomoedas, como revela matéria do The New York Times.

Nome conhecido do mercado publicitário, com direito a prêmio em Cannes, Carl Erik Rinsch tornou-se famoso no cinema após assinar 47 Ronins, filme estrelado por Keanu Reeves e lançado em 2013. Cinco anos mais tarde, o cineasta apresentou ao mercado uma série de ficção científica, chamada Conquest, narrando a história de uma inteligência artificial enviada para resolver conflitos em todos os lugares do planeta.

Naq época, os serviços de streaming viviam um período de bonança, investindo pesado em projetos para aumentar o catálogo de produções originais. Assim, Rinsch, com apoio da produtora 30West e de Keanu Reeves, desenvolveu seis episódios de até 10 minutos para seduzir possíveis compradores. Após um leilão, envolvendo Amazon Prime Video, HBO, Hulu, Apple e YouTube, a Netflix adquiriu os direitos e prometeu investir US$ 61 milhões no desenvolvimento do seriado.

Superprodução

É aí que tudo começa a dar errado, em uma sequência de eventos digna de uma superprodução hollywoodiana – talvez até melhor que a ideia original de Rinsch. Após o sinal verde da Netflix, o diretor colocou o bloco na rua e partiu para filmar em vários locais, como Budapeste (Hungria), Montevidéu (Uruguai) e São Paulo (Brasil).

Em terras tupiniquins, Conquest teve gravações no Vale do Anhagabaú e na Avenida Paulista. A produção local ficou a cargo da O2 Filmes e envolveu forte esquema de policiamento, com fechamento da principal rua da cidade e imagens de Keanu Reeves no set. Mas, nem tudo foram flores, o Sindicato de Atores de São Paulo precisou intervir após a equipe relatar agressões verbais por parte de Rinsch.

Então, veio a pandemia, e, após um investimento inicial de US$ 44,3 milhões, de acordo com o The New York Times, o diretor pediu mais US$ 11 milhões – mesmo que a Covid-19 tenha feito com que o mundo audiovisual tenha reduzido a quase zero suas atividades. A alegação de Rinsch era desenvolver uma versão extendida do projeto original.

Em uma virada de roteiro difícil de ser imaginada pelos melhores escritores, Rinsch e, consequentemente, a produção de Conquest viraram uma das maiores roubadas do mercado do entretenimento.

Perdeu (quase) tudo

Documentos obtidos pelo New York Times, indicam que o diretor e showrunner pegou US$ 10.5 milhões do dinheiro recebido e investiu em ações, no mínimo duvidosas, como a de uma farmacêutica que desenvolvia um remédio para Covid. Em semanas, ele perdeu US$ 5,9 milhões do dinheiro… da Netflix.

Nem tudo foram perdas, ao menos não imediatas. Rinsch teria colocado os cerca de US$ 4 milhões restantes na criptomoeda Dogecois e, ao liquidar a conta em 2021, possuia um montante de US$ 27 milhões. Essa grana foi usada para criar o universo distópico de Conquest? A Netflix diz que não, mas o diretor garante que sim.

Segundo o jornal norte-americano, Rinsch comprou cinco Roll-Royces, uma Ferrari, joias, relógios, móveis de design e roupas.

As compras de luxo teriam sido, então, a gota d’água e motivaram o rompimento definitivo da Netflix com Rinsch, o que deu início a uma briga judicial ainda em vigor nos Estados Unidos. A empresa cancelou o projeto, alegando que o showrunner não cumpriu as metas. Conquest pode até ser vendida para outro canal, desde que a Locadora Vermelha seja indenizada dos investimentos.

Já Rinsch processa a Netflix, alegando quebra contratual, pedindo uma indenização de US$ 14 milhões. Em sua defesa, o diretor alega que os carros, joias e móveis fariam parte da cenografia da série. Ao New York Times, Thomas Cherian, porta-voz do serviço de streaming, alega que a empresa financiou o projeto de Rinsch, mas “após muito tempo e eforço, ficou claro que o diretor nunca terminaria a série que foi vendida e por isso o projeto foi cancelado”.

Estado mental deteriorado

A reportagem traz relatos que indicariam que Carl Erik Rinsch estaria vivendo momentos de dificuldade emocional. Além dos relatos de agressões verbais nos sets de filmagem, o diretor teria dado declarações confusas sobre a pandemia e eventos naturais.

Em 2020, Gabrila Rosés Betancor, então esposa do diretor, entrou com um pedido de divórcio. Nos documentos, ela, que é ex-parceira criativa do homem, apontou comportamentos erráticos dele e falou em um “estado mental deteriorado”. Ele teria alegado ter “compreendido o mecanismo secreto de transmissão da Covid-19” e ter “adquirido a capacidade de prever raios e erupções vulcânicas”.

Rinsch rebate questões ligadas à sua saúde mental. Em um e-mail obtido pelo NYT, ele diz: “Para simplificar, eu estou com a mente e o corpo sãos”.

Pelas redes sociais, o diretor disse que a reportagem é imprecisa e que se recusaria a responder às acusações porque a matéria tenta questionar sua condição mental.

Ao Metrópoles, O2 filme afir,ou que realizou apenas a produção local. “A O2 Filmes realizou o production service para Conquest no Brasil em 2019 – ou seja, apenas montou a estrutura, apoio e equipe, sem participação criativa ou decisória no projeto. As gravações ocorreram em São Paulo totalizando 25 diárias, duas filmagens aéreas e 28 locações – com uma média de 150 a 200 pessoas por dia”, diz a nota.

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