As críticas pela demora nas obras de revitalização da ponte Juscelino Kubitschek, sobre o Rio Acre, em Rio Branco, são injustas por dois motivos: a complexidade do trabalho e pelo desconhecimento técnico de quem acha que a recuperação possa vir a ser uma coisa simples. A opinião é do governador Gladson Cameli, manifestada durante uma conversa com jornalistas nos estúdios da Rádio Difusora Acreana, na semana passada, quando admitiu, candidamente, que a ponte poderia vir a ruir em pleno funcionamento com a trafegabilidade de veículos e pessoas e a tragédia poderia ser sem precedentes para a história do Acre. Apesar das dificuldades, a previsão de entrega da ponte totalmente revitalizada é para fevereiro do ano que vem.
“Quando me chegaram as informações de que havia problemas estruturais na ponte, saí do Palácio e fui lá, pessoalmente. Olhei tudo bem de perto e com o olhar de quem entende do assunto, já que sou engenheiro com especialização em cálculo”, disse o governador.
Segundo ele, pelo que viu, a ponte, que vem enfrentando sucessivos repiquetes do Rio Acre e sendo forçada por balseiros e pela voçoroca nas margens do manancial que ameaça a estrutura, oferecia mais riscos do que se poderia imaginar.
“Por isso, não tive dúvidas em mandar interditar a ponte pelo período que fosse necessário porque, pelo que vi lá, percebi que a ponte poderia cair e, que Deus nos livre, se isso acontecesse, a responsabilidade sobraria para o papai aqui”, disse o governador, apontando para o próprio peito.
Além dos fenômenos da natureza, os problemas da ponte são decorrentes também do próprio tempo e do progresso, disse o governador. “Quando o projeto da ponte foi originalmente concebido, os veículos de cargas mais pesados eram bem mais maneiros do que os atuais. Não havia, por exemplo, as carretas bi-trens”, disse o governador, deixando escapar a possibilidade de, no futuro, quando as obras de recuperação forem concluídas, no primeiro semestre do ano que vem, o tráfego de veículos mais pesados, como as grandes carretas de carga, ser terminantemente proibido sobre a ponte.
Não é por acaso que a ponte que oficialmente leva o nome de um ex-presidente da República, é conhecida também como “ponte velha”. A expressão sintetiza o fato de a estrutura ter sido a primeira construída no Acre, ainda nos tempos de território. As tratativas para a construção de uma ponte capaz de substituir as catraias na travessia do rio entre os dois distritos da cidade, numa época em que Rio Branco era apenas uma cidadezinha de ruas de terras batidas e o maior número de veículos de transporte ainda era o de tração animal, os chamados carros de boi, vêm desde o governo territorial de Valério Magalhães. Foi o então governador do território que comprou as primeiras peças a serem utilizadas na ponte, em 1957, junto à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
A construção da ponte era parte essencial do plano de governo de Valério Caldas Magalhães. Em seu primeiro ano de governo, começaram a chegar as peças e lotes das estruturas metálicas compradas da CSN. Com a elevação do Acre a Estado, o projeto da ponte foi momentâneamente arquivado e só retomado em fevereiro de 1963, com a posse do primeiro governador constitucional do Acre, José Augusto Araújo. Após a implantação das pilastras, a montagem e instalação, a ponte projetada pelo engenheiro Machado da Costa só ficou pronta em 1969, no governo Jorge Kalume. O governador Wanderley Dantas, que assumiu em 1970, foi responsável pela constrção da segunda ponte sobre o Rio Acre, a chamada “Ponte Nova”, a qual leva o nome do pai do ex-governador, o seringalista conhecido como Coronel Sebastião Dantas.
A ponte metálica resistiu com sua estrutura original até 1978, quando uma de suas cabeceiras, a do Segundo Distrito, chegou a ruir e o trânsito no local ficou interditado, só voltando a funcionar, de forma provisória, em 1983, no governo Nabor Júnior, quando o então secretário de Transportes, Rubem Branquinho, substituiu a parte levada pelas enxurradas do rio por uma passqarela em madeira, sustentada por cordas. Era uma passarela destinada a pedestres e, no máximo, em se tratando de veículos, a ciclistas.
Como a passagem de pessoas e bicicletas pelo local fazia a passarela balançar no ar, a estrutura e a própria ponte logo passaram a ser chamadas jocosamente de “Baila Comigo” ou “Balança Mas Não Cai” – alusão a uma novela e a um programa humorístico da Rede Globo, na época.
As obras de recuperação da ponte só começaram em agosto de 1984, no governo de Nabor Júnior e levaram oito meses para serem concluídas, sendo reinaugurada em abril de 1985. Totalmente recuperada, com 230 metros de extensão, feita em concreto armado e estrutura asfáltica, a velha ponte sofreu novo baque após as grandes enchentes as quais levaram inclusive o governo da época a colocar caçambas carregadas de material estacionadas sobre a estrutura afim de fazer mais peso para que as águas da cheia não rompessem a estrutura e levasse a ponte rio abaixo.
Ao admitir a existência do problema, o atual governador do Acre disse que, se fosse um gestor irresponsável, tomaria medidas paliativas e deixaria o problema estourar, com a possível derrocada da ponte, daqui mais alguns anos, quando ele não fosse mais o governador. “Mas tomei à frente porque entendo que gerir a coisa pública é também tomar decisões que vão impactar ou não no futuro”, disse o governador Gladson Cameli.
Gladson Cameli disse reconhecer que o desvio do trânsito para a ponte de concreto, que passou a ser de mão dupla, prejudica o comércio das imediações da ponte metálica. “Por isso, eu peço que as pessoa que tiverem que fazer compras no centro da cidade, mesmo que não passem pela ponte, não deixem de fazer compras ali nas imediações, tanto do Mercado Novo como do Mercado dos Colonos, porque aqueles comerciantes precisam sobreviver e manter seus negócios enquanto a ponte é recuperada”, pediu o governador.