Com mais de 40 anos de resistência, Bloco ‘Urubu Cheiroso’ volta às ruas de Rio Branco

Usando uma cartola na cabeça, o famoso urubu guiou o cortejo com standart e uma banda composta por nove músicos

O ano era 1983, quando um grupo de amigos acreanos, que estudava fora do estado, se organizou para criar um “bloco de sujo”. De forma despretensiosa surgia a “Sociedade Urubu Cheiroso”, que em 1985 reuniu mais de 10 mil pessoas e no ano seguinte desfilou oficialmente levando seu primeiro título de campeão no Carnaval de Rio Branco. Parado desde a pandemia, o bloco volta às ruas neste domingo (11), no Centro da capital.

Nos primeiros anos, o bloco que é hexacampeão, saía do Colégio Acreano até à Prefeitura da cidade. Em 2024, com o tema “Nem pior, nem melhor. Apenas diferente”, a concentração começou às 15h, em frente ao INSS (Av. Getúlio Vargas) e saiu às 19h em direção ao Mercado Velho.

Usando uma cartola na cabeça, o famoso urubu guiou o cortejo com standart e uma banda composta por nove músicos. “A proposta é a mesma: é quem chegar, chegou! É marchinha de carnaval, é samba enredo, é axé, é o funk, mas o fundamental é o monobloco!”, afirma Eró Chaves, um dos fundadores do bloco.

Urubu Cheiroso é tradicional em Rio Branco/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Inicialmente, o bloco desfilou de 1983 até 1991. Voltou às ruas em 2014 e parou na pandemia. Neste ano, faltando uma semana para o carnaval, os amigos decidiram botar o “Urubu” na rua novamente. Com foliões de todas as gerações, o bloco buscou resgatar as saudosas festas dos anos 80.

“Está muito bonito aqui! Acho que esse resgate para a Av.Getúlio Vargas vai mudar o carnaval de Rio Branco. A gente vai resgatar as coisas boas e , se Deus quiser ano que vem também vai ser bom e a gente vai fazer um carnaval fora de época também!”, comemora Eró.

Crítica e irreverência

Durante a criação do bloco, na década de 80, o grupo pensava em algo irreverente, mas que também criticasse, de alguma forma, o período em que viviam, a Ditadura Militar. O nome surgiu a partir de um jogo do FlaxFlu no Maracanã, quando a torcida flamenguista soltou um urubu que pousou perto de Álvaro, torcedor tricolor, que assistia ao jogo.

“As pessoas estavam reclamando do mau cheiro e um torcedor disse ‘Você já viu urubu cheiroso?’ Então, lembrei que na época, na região da Corrente, em Rio Branco, havia um matadouro e que havia muitos urubus que sobrevoavam alí. Tinha uma pista de pouso, na atual Amadeo Barbosa, e os aviões corriam risco na descida próxima ao matadouro. Então liguei o nome por conta disso”, explica Álvaro.

Álvaro foi um dos idealizadores do nome do bloco/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Com o sucesso do bloco nos anos seguintes, o “Urubu Cheiroso” foi convidado a disputar o Carnaval de Bloco Oficial da Prefeitura. De 1986 (primeira vez que competiram) até 1991, o bloco venceu o concurso quase todos os anos, com exceção em 1989, em que um carro enganchou no desfile, devido ao tamanho.

“Como a gente estudava fora, a gente trazia de lá os materiais para as alegorias, adereços e fantasias, com muito brilho, a partir do que era apresentado no carnaval do Rio de Janeiro. A gente fez parceria com a Varig e com a Vasp pra trazer esse material à custo zero”, recorda Álvaro.

O acreano lembra ainda que o bloco parou de desfilar porque a partir de 1992 não houve mais Carnaval promovido pela prefeitura ou governo. Fazendo com que o “Urubu” adormecesse por 25 anos.

“Mas aí, nossos filhos e netos viram as fotos e começaram a cobrar a volta do ‘Urubu Cheiroso’. E retomamos com nova roupagem, não só bateria, mas com marchinhas, estilo MPB/monobloco, mas no Covid paramos de novo. Ficamos quatro anos afastados e estamos retomando agora!” comemora.

Veja fotos exclusivas do Bloco Urubu Cheiroso:

Assista a transmissão da terceira noite do Carnaval 2024:

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