Prêmio Houdini de escapismo: acreanos desafiam muros altos e segurança baixa em fuga inédita

Em uma reviravolta digna de entrar para a história

No mais recente episódio de fuga nos presídios brasileiros, dois audaciosos acreanos protagonizaram o que pode ser considerado um roteiro digno de Hollywood, diretamente das instalações federais de segurança máxima em Mossoró. Esse evento não apenas chama a atenção pelo seu ineditismo mas também lança luz sobre as fragilidades profundas do nosso sistema prisional, que, vamos admitir, tem mais buracos do que a trama de uma novela das oito.

Imagine a cena: dois detentos, supostamente sob a vigilância de um sistema intransponível, simplesmente decidem que é dia de tomar um ar e… puff! Desaparecem. A fuga em si é um feito digno de nota, mas o verdadeiro espetáculo começa quando percebemos que não foi magia, mas sim uma série de falhas sistêmicas que permitiram tal ato.

Em uma reviravolta digna de entrar para a história – ou pelo menos para o anedotário nacional -, nossos protagonistas acreanos conseguiram o que nenhum escapista antes deles havia ousado sonhar. Com uma mistura de audácia e um quê de magia digna de Houdini, eles não apenas saíram para esticar as pernas fora dos muros de segurança máxima, como também se tornaram os primeiros a conquistar tal feito espetacular. Sim, meus caros, enquanto o restante do país batalha no ranking de inovações tecnológicas e avanços científicos, o Acre nos surpreende com pioneirismo no campo das fugas prisionais. Um brinde aos nossos ilustres escapistas (contém ironia), que não só colocaram Mossoró no mapa das grandes evasões como também garantiram que, daqui para frente, ‘fazer um Acre’ seja sinônimo de contrariar todas as probabilidades.

E aqui, caros leitores, é onde a ironia se faz mais fina do que a lâmina de um bisturi cirúrgico. O sistema prisional, essa estrutura arcaica que parece ter sido desenhada por alguém profundamente apaixonado pelo conceito de medievalismo, falha novamente. E enquanto os altos muros de concreto se erguem, tentando tocar o céu em busca de segurança, nossas políticas de ressocialização rastejam pelo chão, implorando por atenção.

Não é surpresa que a fuga tenha sido possível. Entre reformas inacabadas e a vigilância que deixa a desejar, nossos presídios são mais permeáveis do que gostaríamos de admitir. E enquanto os fugitivos agora ganham o título de celebridades do submundo, o sistema prisional brasileiro recebe mais um troféu para sua coleção de incompetências.

Mas, vamos ao que interessa: a necessidade de uma reforma urgente. Não basta apenas tapar os buracos nas muralhas ou aumentar o número de guardas, como sugere o Ministro Lewandowiski, em tentativa desesperada de dar uma resposta à população. É necessário repensar o sistema como um todo, desde a infraestrutura até as políticas de reintegração dos detentos à sociedade. De que adianta encarcerar se não podemos garantir segurança, muito menos reabilitação?

Por fim, enquanto os dois acreanos desfrutam de sua liberdade momentânea, nós ficamos aqui, refletindo sobre as lições que insistimos em não aprender. Talvez seja hora de parar de investir em muros e começar a investir em pessoas. Afinal, até quando vamos permitir que nosso sistema prisional seja palco de fugas mirabolantes e de uma tragédia humana silenciosa e constante?

Assim, somos convidados a uma profunda reflexão: Quanto tempo mais permaneceremos meros espectadores diante desse teatro de erros, sem demandar transformações substanciais? A verdadeira e mais alarmante fuga que se desenrola diante de nossos olhos não é apenas a dos detentos, mas sim a do bom senso e da responsabilidade ética, que se esvaem silenciosamente pelas brechas de um sistema obsoleto e falho. Um sistema que, paradoxalmente, parece ter como maior ambição a punição, negligenciando seu papel fundamental na correção e na reinserção social. Estamos, portanto, diante de uma encruzilhada crucial: continuar a alimentar um ciclo vicioso de falhas e punições ou tomar as rédeas para instigar uma mudança verdadeira, que priorize a humanidade e a justiça social. A escolha é nossa, e o tempo para fazê-la, cada vez mais escasso.

*Advogado, Membro da Comissão de Advocacia Criminal da OAB/AC.

PUBLICIDADE