Pesquisador alerta para a necessidade da adaptação diante dos eventos extremos do Rio Acre

Degradação da bacia do Rio Acre e mudanças climáticas contribuem para eventos extremos de secas e enchentes

Após enfrentar as devastadoras consequências da enchente do Rio Acre em fevereiro deste ano, a população da capital acreana agora se vê diante de um novo desafio: a previsão de uma iminente seca severa que se aproxima nos próximos meses. O manancial, que ultrapassou os 17 metros, em pouco menos de um mês, apresentou uma redução acentuada, ficando abaixo dos cinco metros no início de abril.

Os eventos climáticos extremos têm se tornado uma triste rotina não só no Acre, mas em toda a região Norte, onde as enchentes e secas intensas se alternam com frequência preocupante. Tal fato tem deixado marcas na população e no meio ambiente, que lutam para se adaptar e se preparar para enfrentar os impactos cada vez mais intensos.

Segundo o pesquisador, eventos extremos do Rio Acre devem se tornar recorrentes/ Foto: Jaun Diaz, ContilNet

Para falar acerca do tema, o ContilNet conversou com o pesquisador e professor do curso de Geografia, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Waldemir Lima, que associou os eventos extremos enfrentados pela população acreana, com relação ao Rio Acre, às mudanças climáticas e as alterações na bacia do afluente, provocadas pela ação do homem.

“São questões como desmatamento, degradação das áreas de nascente, que são as áreas de recargas dos canais menores que abastecem o canal maior, o Rio Acre, então uma vez degradadas as nascentes nas áreas de recarga, automaticamente nós vamos ter uma redução no volume de água. Paralelo a isso temos as mudanças climáticas, que são fenômenos climáticos que independem da nossa atividade, como por exemplo, o “El Niño”, que atuou de forma muito forte no país no ano passado”, ressalta.

Em 2023, o país enfrentou aos efeitos do El Niño, que trouxe consigo, a ocorrências de sucessivas ondas de calor, e a estiagem severa na região Norte, que teve seus principais rios em níveis críticos, a exemplo disso, o Rio Acre, que em novembro, chegou à marca de 1,37 metros, menor cota já registrada para o mês.

O Rio Acre atingiu um de seus piores níveis em 2023/Foto: Juan Diaz, ContilNet

Já em fevereiro de 2024, o rio atingiu outro extremo, alcançando a cota de 17,84 metros, se consolidando como a segunda maior enchente da história enfrentada na capital acreana. Ao todo, 45 bairros e 18 comunidades rurais foram atingidos, deixando mais de quatro mil pessoas desabrigadas.

O professor Waldemir Lima, ressaltou que a tendência é que esses eventos climáticos, bem como o “El Niño”, aconteçam com frequência ainda maior daqui para frente. “A gente tem os fenômenos atmosféricos que agora ocorrem praticamente o ano inteiro. Antigamente o El Niño acontecia de 10 em 10 anos, se intercalando com o La Niña. De duas décadas para cá, acelerou o processo de formação desse fenômeno atmosférico e estamos passando agora por esses problemas de enchentes e secas extremas”, pontuou.

Mais de 50 bairros foram atingidos pelas águas na capital acreana em 2023/ Foto: Juan Dias, ContilNet

O pesquisador alertou, ainda, para a degradação da bacia do Rio Acre, que tem colaborado para as mudanças repentinas no comportamento do afluente. “de 1970 para cá observamos que a bacia do Rio Acre foi duramente castigada, pelo processo de desmatamento, e a água que, ao cair da superfície tende a ser infiltrada com a presença da vegetação, sem ela, vai cair e vai escoar mais facilmente. Assim, temos cheias repentinas, seguidas de secas também repentinas”, enfatizou.

Necessidade de adaptação

De acordo com a previsão da Defesa Civil de Rio Branco, a previsão é que neste ano a capital acreana enfrente uma das piores estiagens de sua história, com o Rio Acre podendo alcançar níveis críticos. Sobre a questão, o geógrafo alertou para a necessidade de adaptação e enfrentamento ao período de seca.

“Nós perdemos cerca de 13 metros de água em um mês e não reservamos água. Agora estamos entrando em um período crítico de seca e agir preventivamente é a saída para enfrentar esses problemas de escassez hídrica. Uma das soluções seria, por exemplo, com o rio a 15 metros, bombear essa água para reservatórios e vamos ter água para enfrentar pelo menos dois a três meses de seca. Então é preciso a gente se adaptar para enfrentar esses eventos extremos, já que não podemos evitar que aconteça”, propôs.

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