Estudo publicado na revista “Cadernos de Saúde Pública” (CSP), revista de periodicidade mensal publicada pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), publicado nesta segunda-feira (20), associa aumento de mortes por Covid-19, durante a pandemia do Coronavirus, aos municípios onde o então presidente Jair Bolsonaro foi mais votado.
O município brasileiro onde Bolsonaro alcançou o maior percentual de votos quando disputou a reeleição, em 2022, é Rodrigues Alves, no Vale do Juruá, interior do Acre, embora não se possa associar a votação às mortes do Covid porque o processo eleitoral ocorreu quando a pandemia já havia arrefecido em todo o país.
Usando os dados municipais em declarações de óbito registrados no Ministério da Saúde e resultados eleitorais do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 e 2022, o estudo avaliou a hipótese de que há associação entre excesso de mortalidade e partidarismo político no Brasil.
Dada a postura do ex-presidente brasileiro de desacreditar e negligenciar a gravidade da pandemia, o estudo aponta relação entre as taxas excessivas de mortalidade durante a crise sanitária da COVID-19 e o número de votos municipais para Bolsonaro.
Os mapas do excesso de mortalidade nos municípios brasileiro e votos no primeiro turno para Bolsonaro em 2018 e 2022, associam o Acre. O estudo cita que Bolsonaro demonstrou descrença sobre a pandemia, criticou o uso de máscaras de demorou na implementação de uma campanha de imunização e isso contribuiu para o aumento de mortes.
O mesmo estudo aponta que durante pandemia de Covid-19, Bolsonaro adotou discursos em que defendia procedimentos sem comprovação científica, como o uso de cloroquina e isso, segundo o estudo, fez com que em municípios onde o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu mais votos nas eleições de 2018 e 2022 foram os que registraram mais mortes por covid-19 no Brasil.
“Uma explicação para esta correlação pode estar ligada ao papel desempenhado por Bolsonaro como figura pública e influenciador do seu eleitorado. A descrença sobre os efeitos nocivos da pandemia, a não aceitação do uso de máscaras, a resistência inicial à compra de vacinas e a lenta implementação de uma campanha de imunização podem ser alguns dos motivos desta associação entre os votos de Bolsonaro e o excesso de mortalidade”, destaca o estudo.
Segundo a pesquisa, cada aumento de 1% nos votos municipais para Bolsonaro de 2018 a 2022 correspondeu a uma alta de 0,48% a 0,64% no excesso de mortes nos municípios durante os picos da pandemia. “O voto pode representar um conjunto de atitudes do eleitorado alinhadas com as ações do seu líder político.
Também pode refletir as medidas sanitárias inadequadas adotadas pelos governos locais onde Bolsonaro teve um grande número de votos”, cita o estudo. Os pesquisadores destacaram que, apesar da associação observada, o estudo apresenta algumas limitações, como a falta de variáveis demográficas, como idade e índice de escolaridade.
As ações de Bolsonaro durante a pandemia foram objeto de investigação de Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, que, depois de seis meses de trabalhos, produziu um relatório de 1,1 mil páginas, com o indiciamento de 80 pessoas, incluindo o ex-presidente da República. Bolsonaro foi indiciado por nove crimes: prevaricação; charlatanismo; epidemia com resultado morte; infração a medidas sanitárias preventivas; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade.
Dessas ações, quatro foram arquivadas definitivamente. Nossos resultados mostraram que, em ambas as eleições, o percentual de votos municipais no primeiro turno para Bolsonaro foi positivamente associado aos picos de excesso de mortes nos municípios brasileiros em 2020 e 2021. Mesmo com o excesso de mortalidade durante a pandemia, a lealdade política de Bolsonaro não diminuiu durante o segundo período eleitoral em 2022.
Uma possível explicação para isso está ligada ao cenário político brasileiro, que vive um ambiente de política tribal e polarização afetiva. Legenda para os mapas Mapas do excesso de mortalidade nos municípios brasileiro e votos no primeiro turno para Bolsonaro em 2018 e 2022