A biomédica acreana Luana Almeida, de 32 anos de natural de Rio Branco, Acre, enfrenta um desafio diário com a Síndrome de Parry-Romberg, uma condição rara que afeta uma em cada 700.000 pessoas. Ela é a única pessoa conhecida com a síndrome no Acre. A síndrome provoca a deterioração progressiva de um lado do rosto, resultando na perda da visão no olho direito de Luana e necessitando de inúmeras cirurgias e procedimentos estéticos.
Apesar das dificuldades, Luana transformou sua luta pessoal em uma missão para ajudar outras mulheres, fundando uma clínica de estética e compondo uma música inspirada em sua jornada de superação. Em uma entrevista com Douglas Richer, do site ContilNet, Luana compartilhou detalhes de sua vida e de seu trabalho.
Douglas Richer: Luana, você pode nos contar um pouco mais sobre a Síndrome de Parry-Romberg e como ela afetou sua vida?
Luana Almeida: A Síndrome de Parry-Romberg é uma condição rara que afeta 1 a cada 700.000 pessoas. No meu caso, ela deforma progressivamente o lado direito do meu rosto, e também me fez perder a visão do olho direito. Comecei a notar os primeiros sinais aos 7 anos e, aos 13, a assimetria facial já era bastante evidente. A adolescência foi um período particularmente difícil, marcado por bullying e insegurança. Só fui diagnosticada aos 19 anos, após anos buscando ajuda médica. O diagnóstico foi devastador, pois fui informada de que precisaria passar por cirurgias constantes para controlar a progressão da doença.
Douglas Richer: Qual foi o momento mais desafiador para você durante o tratamento e as cirurgias?
Luana Almeida: A primeira cirurgia em 2012 foi extremamente difícil. Era uma cirurgia ortognática para corrigir a estrutura óssea do meu rosto. Passei 30 dias sem poder mastigar, alimentando-me apenas com líquidos e alimentos pastosos, e perdi 10 kg. Depois, precisei de reabilitação para reaprender a falar e mastigar. Em 2020, quase perdi a vida durante uma cirurgia em São Paulo devido a uma embolia pulmonar grave. Foi um momento aterrorizante, mas, felizmente, não fiquei com sequelas. Outro grande desafio foi aceitar a perda da visão do meu olho direito. Cada consulta anual com o oftalmologista trazia notícias piores, mas com o tempo, fui me adaptando.
Douglas Richer: O que te motivou a continuar lutando e buscando tratamentos, mesmo nos momentos mais difíceis?
Luana Almeida: Trabalhar no Pronto Socorro de Rio Branco foi uma grande lição de vida. Ao ver pacientes em estado grave na UTI, percebi que meu problema não era tão grande assim. A empatia por eles me fez valorizar o que eu tinha. Nunca questionei a Deus por ter essa síndrome, nem mesmo quando perdi a visão de um olho. Sempre procurei enxergar o lado positivo de cada situação e ser grata pelo que ainda tinha.
Douglas Richer: Pode nos falar sobre o impacto emocional de lidar com essa condição e como você encontrou forças para superar esses desafios?
Luana Almeida: Eu tinha duas opções: deixar a tristeza me dominar ou levantar a cabeça e ser forte. Escolhi ser forte. Não posso curar a síndrome, mas pude curar minha autoestima e, assim, ajudar outras mulheres a se curarem também. Encontro forças no meu trabalho, ajudando meus pacientes a elevar sua autoestima através das minhas mãos e da minha história.
Douglas Richer: O que te inspirou a abrir uma clínica de estética em Rio Branco?
Luana Almeida: Escolhi a biomedicina estética para cuidar do meu rosto e me encantei com o poder de cura da estética. Não é sobre vaidade, mas sobre autocuidado e amor próprio. A estética impacta nas relações mentais e sociais, contribuindo para uma saúde melhor e bem-estar. Comecei atendendo a domicílio, com apenas uma maca e um sonho. Aos poucos, fui crescendo e hoje tenho meu próprio negócio.
Douglas Richer: Como sua própria experiência influenciou a forma como você conduz sua clínica e atende suas clientes?
Luana Almeida: Atendo meus pacientes com atenção, cuidado e zelo, visando sempre a satisfação de cada um deles. Gosto de ouvir suas histórias, conhecê-los e compreendê-los, pois isso me ajuda a alcançar um resultado final melhor. Trabalho com amor e sou muito realizada profissionalmente.
Douglas Richer: Quais foram as principais fontes de apoio para você ao longo dos anos?
Luana Almeida: Meus pais, Inês e Arnoldo, sempre me apoiaram, mesmo com poucas condições financeiras. Depois, meu esposo Mario sempre me enxergou com amor. Hoje, temos nossa filha Clara, que me impulsiona ainda mais a lutar pela vida.
Douglas Richer: Você participa de alguma rede de apoio para pessoas com Síndrome de Parry-Romberg ou outras condições similares?
Luana Almeida: Criei um grupo no Facebook e no WhatsApp para portadores da síndrome. Hoje, temos 90 membros de todo o Brasil. Lá, trocamos experiências e apoiamos uns aos outros. Através do Instagram, continuo alcançando mais portadores.
Douglas Richer: Como surgiu a ideia de criar uma música baseada na sua história de vida?
Luana Almeida: Sempre gostei de escrever e compor. Todas as minhas composições são baseadas no que vivo. Um dia, uma paciente minha chorou muito durante uma consulta, queixando-se de não se achar bonita. Naquele momento, percebi que a autoestima não tem relação com a beleza física. Falei para ela se olhar no espelho com mais amor e foi aí que a música nasceu, baseada nessa frase e na minha história de vida.
Douglas Richer: Qual é a mensagem principal que você espera transmitir com essa música?
Luana Almeida: Quero que todas as mulheres se enxerguem com mais amor próprio. Que parem de se depreciar diante do espelho e comecem a se apreciar, se valorizar, se cuidar e se amar. Para que outra pessoa ame você, você precisa se amar primeiro.
Douglas Richer: Quais são seus planos futuros para sua clínica e para seu trabalho com autoestima e estética?
Luana Almeida: Quero expandir a clínica e impactar a vida das pessoas de forma positiva, deixando um legado.
Douglas Richer: Que conselho você daria para outras mulheres que enfrentam desafios de autoimagem e autoestima?
Luana Almeida: Às vezes, o problema com a autoimagem está na nossa cabeça. Nem todos enxergam nossos defeitos como nós mesmos enxergamos. Portanto, pare de se depreciar tanto. Busque ajuda, melhore o que pode ser melhorado e aceite o que não pode ser mudado. Acima de tudo, ame-se.
Douglas Richer: Como você vê o impacto do seu trabalho na vida das suas clientes?
Luana Almeida: Fico feliz com cada mensagem de feedback positivo, de vidas transformadas através do meu trabalho e da minha história de vida. Isso recarrega minhas forças para continuar firme no meu propósito.
Douglas Richer: O que você espera deixar como legado para futuras gerações de mulheres?
Luana Almeida: Quero que elas se olhem no espelho e se empoderem, se apreciem e se amem. Não deixem ninguém destruir sua autoestima. Reclame menos e veja a vida com mais gratidão.
Douglas Richer: Como você se sente ao saber que sua história e seu trabalho estão ajudando tantas mulheres a recuperar a autoestima?
Luana Almeida: Fico imensamente feliz. Recebo mensagens de pessoas do Brasil todo, e até de fora. O poder da internet me ajuda a alcançar quem precisa de uma palavra de ânimo, seja sobre autoestima ou superação. Isso me impulsiona a continuar com meu trabalho. Espero alcançar o mundo todo.
Recentemente, Luana lançou uma música e um videoclipe que abordam a autoestima e sua luta contra a Síndrome de Parry-Romberg. Inspirada por sua própria história e pela de outras mulheres que enfrentam desafios de autoimagem, a canção busca transmitir uma mensagem de amor próprio e resiliência. A iniciativa faz parte do compromisso de Luana em ajudar outras mulheres a se enxergarem com mais carinho e a enfrentarem suas batalhas com coragem e esperança.
Veja o clipe:
Veja fotos: