O mundo das finanças, por muito tempo, foi dominado por modelos que buscavam a racionalidade absoluta nas decisões econômicas. No entanto, a realidade nos mostra um cenário bem diferente, onde emoções, heurísticas e vieses cognitivos moldam significativamente o comportamento financeiro das pessoas.
É nesse contexto que surge a Finanças Comportamentais, um campo interdisciplinar que une psicologia e economia para compreender as nuances da tomada de decisão financeira.
De uma forma simples e resumida, temos:
- Emoções: são sentimentos, positivos (alegria, gratidão, amor, paz, esperança, orgulho) ou negativos (tristeza, medo, raiva, frustação, vergonha, culpa, inveja), que influenciam nossas decisões;
- Vieses Cognitivos: são como “atalhos mentais” que distorcem a nossa percepção da realidade; ou ainda, padrões de pensamento que nos levam a tomar decisões baseadas em emoções, experiências passadas ou informações incompletas, em vez de raciocinar de forma lógica. e,
- Heurísticas: são “regras práticas” que utilizamos para tomar decisões mais rapidamente, ou também, atalhos mentais que simplificam a complexidade do mundo, mas que podem nos levar a cometer erros de julgamento, ou seja, a vieses cognitivos.
Exemplo: Ao comprar um carro novo, a emoção da excitação pode nos levar a tomar uma decisão impulsiva e escolher um modelo mais caro do que podemos pagar. Nesse caso, a emoção da excitação é um fator que influencia a decisão, enquanto o viés de confirmação (buscar informações que confirmem nossa escolha) pode ser uma heurística utilizada para justificar a compra.
O que são Finanças Comportamentais?
As Finanças Comportamentais investigam como os fatores psicológicos influenciam as escolhas financeiras dos indivíduos. Ao invés de assumir que as pessoas são agentes racionais que maximizam a utilidade, essa área de estudo reconhece que somos seres emocionais e sujeitos a diversos vieses cognitivos.
Principais Vieses e Heurísticas
- Aversão à perda: a dor de perder é, em geral, mais intensa do que o prazer de ganhar, levando as pessoas a tomarem decisões arriscadas para evitar perdas.
- Efeito dotação: tendemos a atribuir um valor maior aos bens que possuímos, mesmo que objetivamente não valham mais do que quando os adquirimos.
- Ancoragem: a primeira informação que recebemos sobre um determinado assunto serve como âncora para nossas decisões subsequentes, mesmo que essa informação não seja relevante.
- Disponibilidade: julgamos a probabilidade de um evento com base na facilidade com que conseguimos lembrar de exemplos.
- Otimismo excessivo: a crença de que eventos positivos têm mais chances de acontecer conosco do que com outras pessoas.
- Status quo: a preferência por manter as coisas como estão, mesmo que existam opções mais vantajosas.
Implicações para a Tomada de Decisão Financeira
Os vieses e heurísticas identificados pelas Finanças Comportamentais têm implicações significativas para a tomada de decisão financeira. Por exemplo:
- Investimento: a aversão à perda pode levar os investidores a manterem ativos perdedores por mais tempo, na esperança de que o valor se recupere.
- Consumo: o efeito dotação pode dificultar a venda de bens, mesmo quando isso seria financeiramente vantajoso.
- Poupança: o otimismo excessivo pode levar as pessoas a subestimar a necessidade de poupar para a aposentadoria.
As Finanças Comportamentais oferecem uma nova perspectiva sobre o comportamento financeiro, revelando a complexa interação entre razão e emoção na tomada de decisões. Ao compreender os vieses e heurísticas que influenciam nossas escolhas, podemos tomar decisões financeiras mais conscientes e alcançar maior bem-estar financeiro.
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Ruama Demir, planejadora financeira comportamental