“A democracia no banquete dos urubus”: confira o artigo do advogado Roraima Rocha

A democracia virou uma piada que, se não fosse trágica, seria cômica.

Estamos na reta final das eleições de 2024, e o espetáculo do absurdo atinge novos picos, especialmente no nosso querido Acre. Com destaque para Sena Madureira, a democracia virou uma piada que, se não fosse trágica, seria cômica.

A “Capital do Iaco”? Sena, que é o 3º maior colégio eleitoral do estado, as vísceras da política são expostas sem pudor. O atual prefeito, num ato de coragem (ou desespero), resolve apostar publicamente R$ 50 mil com um deputado sobre quem sai vitorioso. Isso mesmo, senhoras e senhores, a política virou jogatina de bar, e o povo? Ora, o povo assiste a essa tragicomédia como se fosse o último capítulo de uma novela das nove. Afinal, o que são mais de 35 mil denúncias (cerca de 150 no Acre) registradas no Pardal, aplicativo para denunciar crimes eleitorais do TSE, diante de tanto entretenimento gratuito?

Mas vamos falar sério, se é que dá. Os crimes eleitorais, essas “pequenas transgressões” que tornam nosso sistema democrático tão… peculiar. A compra e venda de votos, que deveriam ser punidas com até quatro anos de reclusão, são vistas como um negócio de ocasião, trivial. E a boca de urna? Uma tradição quase folclórica, ao lado das já batidas fake news, que inundam as redes como um dilúvio de mentiras, e que têm o mesmo efeito devastador de uma praga bíblica, só que espalhadas por memes e vídeos de qualidade duvidosa.

E enquanto os candidatos apostam e se xingam em público, a Justiça Eleitoral tenta botar ordem no galinheiro. Mas como? Com o aplicativo Pardal? É como tentar apagar um incêndio florestal com um copo d’água (com o fumaceiro que estamos enfrentando diariamente, essa foi a primeira analogia que me veio à cabeça). No fim das contas, o que realmente importa é que o eleitorado de não só de Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, mas de todo Acre, talvez precise de uma dose de realidade—e outra de vergonha na cara.

Porque, convenhamos, quando a democracia é vendida tão barato, quem é o verdadeiro palhaço dessa tragédia? Talvez seja você, caro eleitor, que aceita essa moeda de troca e continua a assistir de camarote enquanto os urubus banqueteiam sobre os restos do que deveria ser um processo limpo e digno.

*Advogado; sócio fundador do escritório MGR – Maia, Gouveia & Rocha Advogados; Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Faculdade Gran; Especialista em Advocacia Cível pela Fundação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (FMP); Membro da Comissão de Advocacia Criminal, e Conselheiro Seccional da OAB/AC.

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