A região conhecida como Amacro – divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia – e correspondente a 10% da floresta amazônica sofre um cenário devastador. Segundo informações do jornal Varadouro, nesta sexta-feira (08), homicídios, torturas e desmatamento rondam a área de 45 milhões de hectares.
“[Os pistoleiros] pegaram o pai de um amigo nosso e o torturaram das sete da manhã até uma hora da tarde, dizendo que tinham matado todo mundo, que tinham tocado fogo no barraco e que, se ele quisesse procurar o corpo do filho dele, podia ir ou então podia voltar pra casa dele”, conta Mizael Magalhães de Araújo, morador da Vila Caquetá, em Porto do Acre.
O relatório “Conflitos no Campo 2023”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), revelou que a região da Amacro registrou oito assassinatos em disputas por terra em 2023, de um total de 31 no Brasil, cinco deles atribuídos a grileiros. No Acre, os municípios de Rio Branco e Acrelândia lideram em conflitos fundiários, enquanto no Amazonas, Boca do Acre concentra o maior número de ocorrências, com 76 casos no total.
Segundo a reportagem, a Amacro é responsável por 80% do desmatamento nos três estados que a compõem, cenário marcado por violência em disputas de terra, incluindo ataques a residências, tentativas de homicídio e tortura.
Em 24 de setembro, a Justiça Federal condenou quatro pessoas por desmatamento ilegal no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Antimary, em Boca do Acre, impondo uma indenização superior a R$ 11 milhões, além da obrigação de restaurar a área degradada.
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A sentença inclui uma inédita quantificação do dano ambiental por emissões de gases de efeito estufa, ressaltou o procurador da República Rafael da Silva Rocha.
Em agosto de 2023, a Polícia Federal deflagrou a Operação Xingu, que desmantelou uma rede criminosa que envolvia um grileiro, dois pecuaristas e um técnico de georreferenciamento. O grupo é acusado de desmatamento para criação de gado, o que causou a destruição de 800 hectares de floresta amazônica e um prejuízo ambiental estimado em mais de R$17 milhões.
Boca do Acre, município amazonense com cerca de 38 mil habitantes, é frequentemente confundido com o estado do Acre, mas pertence ao Amazonas, situado na foz do rio Acre, onde este se encontra com o rio Purus.