O impacto do recorde do dólar e da alta taxa de juros no cotidiano do brasileiro

O dólar a R$ 6,00 não é apenas uma notícia para investidores

A economia não é uma ciência distante; ela está presente nas decisões que tomamos todos os dias, seja ao decidir entre cozinhar em casa ou pedir um delivery, ou até mesmo na escolha de fazer uma compra a prazo ou poupar para o futuro. Nos últimos meses, dois fatores econômicos têm influenciado diretamente o bolso do brasileiro: o câmbio recorde do dólar e a alta taxa de juros. Mas, além das cifras e indicadores, o que isso significa no nosso dia a dia? E, mais importante, como nosso cérebro responde a essas mudanças econômicas?

O dólar a R$ 6,00 não é apenas uma notícia para investidores. Ele afeta diretamente o preço de produtos que consumimos. Do café que bebemos pela manhã – com insumos importados, como fertilizantes – ao celular que compramos para trabalho ou lazer, o custo em dólar influencia o preço final no Brasil.

O câmbio é um reflexo direto da confiança (ou falta dela) no país. Quando investidores estrangeiros acreditam que há instabilidade em uma economia – seja por questões políticas, fiscais ou incertezas regulatórias – eles tendem a retirar recursos ou evitam novos investimentos. Essa saída de dólares pressiona a moeda americana para cima.

No Brasil, fatores como as indefinições fiscais (com dúvidas sobre o controle do déficit público), mudanças nas regras do arcabouço fiscal e a percepção de instabilidade política têm gerado receios. Esses fatores alimentam o medo dos investidores de que o país não consiga entregar um cenário de estabilidade e crescimento sustentável. Em resumo, o investidor prefere buscar mercados mais seguros, mesmo que ofereçam retornos menores, como os Estados Unidos ou países europeus.

Com menos dólares entrando no Brasil, a oferta da moeda diminui, enquanto a demanda (especialmente para importações e pagamentos de dívidas externas) permanece alta, fazendo com que o preço do dólar dispare.

Já a taxa de juros no Brasil (conhecida também como taxa Selic), que está entre as mais altas do mundo, afeta tanto quem toma empréstimos quanto quem investe. Por um lado, pode parecer vantajoso deixar o dinheiro na poupança ou em investimentos de renda fixa, que passam a render mais. Porém, para a maioria dos brasileiros que dependem de crédito para adquirir bens duráveis ou financiar suas dívidas, o cenário é alarmante.

Imagine que você precisa financiar um carro. Com a taxa de juros elevada, o valor final pago ao banco pode ser quase o dobro do preço do veículo. O mesmo acontece com financiamentos imobiliários, parcelamento de compras no cartão de crédito e empréstimos pessoais. Isso reduz o poder de compra, deixando as famílias mais endividadas e inibindo o consumo.

Como tomar decisões financeiras mais conscientes?

Em momentos de volatilidade econômica, pequenas mudanças no comportamento podem fazer grande diferença. Aqui estão algumas estratégias práticas para navegar por essa tempestade econômica:

  1. Reavalie prioridades: faça uma lista das suas despesas e identifique o que é essencial e o que pode ser reduzido. Por exemplo, trocar o pacote de streaming premium por um básico ou ajustar hábitos alimentares para cozinhar mais em casa.
  2. Evite o crédito caro: fuja de financiamentos e parcelamentos com juros elevados. Se possível, prefira pagar à vista ou adiar a compra.
  3. Planeje metas financeiras: use ferramentas como planilhas ou aplicativos para organizar seu orçamento. Estabeleça metas pequenas, como economizar uma porcentagem fixa da renda mensalmente.
  4. Invista na sua saúde emocional: a ansiedade financeira é real e pode levar a decisões impulsivas. Atividades como meditação, exercícios físicos ou até mesmo conversar com um especialista em finanças comportamentais podem ajudar.
  5. Educação financeira em família: inclua todos da casa nas conversas sobre o orçamento. Explique, de forma didática, como a alta do dólar e dos juros impacta o lar. Isso pode criar uma cultura de responsabilidade compartilhada.

Oportunidades em meio à crise

Por mais desafiador que o cenário pareça, é importante lembrar que toda crise traz lições e oportunidades. A alta do dólar pode ser um incentivo para explorar alternativas locais, valorizando produtores nacionais. Já a taxa de juros elevada reforça a importância de construir uma reserva de emergência, aproveitando os rendimentos maiores da renda fixa.

Como planejadora financeira comportamental, meu convite é que você encare esses desafios como uma chance de reavaliar hábitos e construir um relacionamento mais saudável com o dinheiro. Afinal, a economia não é apenas sobre números; ela reflete, acima de tudo, nossas escolhas e prioridades.a

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