“É raríssimo vê-los ao vivo. Isso é impressionante; este é o menor que eu já vi”, comenta um dos banhistas no vídeo. “Parece que ele veio até aqui para morrer.” Outro homem do grupo é filmado tentando guiar o peixe de volta para o mar, afirmando que vê-lo vivo foi uma “descoberta muito importante” e que “ninguém vai acreditar nisso”.

Exemplar de peixe-remo encontrado na Nova Zelândia em 2015. Com o corpo no formato de fita, peixe-remo virou sinônimo de mau presságio por causa de uma lenda japonesa/Foto: Reprodução Wikimedia Commons
Esses peixes raramente se aproximam da superfície, especialmente das areias das praias. Esse comportamento atípico ocorre apenas quando estão em estágio terminal ou profundamente desorientados, geralmente após um confronto com um predador. A maioria dos exemplares que se aproximam da costa não consegue sobreviver — a mais recente aparição da espécie, inclusive, foi registrada em uma praia na Califórnia, nos Estados Unidos, já sem vida.
Por que o apelido “peixe do juízo final”?
O apelido que associa esses peixes a desastres naturais e os vê como um mau presságio se popularizou após o terremoto seguido de tsunami no Japão, em 2011. Uma antiga lenda japonesa já relacionava o surgimento desses peixes antes de grandes eventos sísmicos. Conhecidos como Ryugu no tsukai (“Mensageiro do Palácio do Deus do Mar”, em português), cerca de 20 exemplares foram encontrados nas costas do Japão antes desse desastre, que ficou marcado como um dos mais devastadores da história do país.
Apesar de ser conhecido como o “peixe do juízo final”, especialistas afirmam que não é possível afirmar com certeza que suas aparições estejam vinculadas a eventos sísmicos. Na realidade, fatores como mudanças no clima e nas condições oceânicas ou até mesmo um aumento na população da espécie podem explicar esses avistamentos. Contudo, devido à raridade de observações de exemplares vivos e à impossibilidade de realizar buscas em seu habitat, que carece de luz, os estudos sobre o peixe-remo ainda são limitados e inconclusivos.
No último mês, foi registrado um outro avistamento de uma espécie que habita as profundezas oceânicas, desta vez nas Ilhas Canárias. O Melanocetus johnsonii, popularmente conhecido como “peixe diabo negro”, foi visto nadando em águas rasas e, poucas horas depois, encontrado morto. Essa espécie, que normalmente vive a profundidades entre 200 e 2.000 metros, marcou o primeiro registro mundial de um exemplar adulto na superfície do oceano, exposto à luz do dia.
De acordo com a ONG Condrik Tenerife, responsável pelo registro, o animal poderia estar desorientado após algum conflito ou por conta de alguma condição oceânica. “O motivo da sua presença em águas tão superficiais é incerto. Pode ser por doença, uma corrente ascendente, fuga de um predador”, publicou David Jara Boguna, um cientista da ONG de Tenerife, em uma publicação em seu perfil. “Um peixe lendário que poucas pessoas terão tido o privilégio de observar com vida.”