Renato Paiva deve ter se preocupado. Nesta quinta-feira, o português de 54 anos, novo técnico do Botafogo, assistiu dos camarotes do estádio Nilton Santos à derrota de 2 a 0 para o Racing – que confirmou o título da Recopa Sul-Americana aos argentinos. A atuação alvinegra escancarou o colapso daquela equipe envolvente, encantadora de três meses atrás: não há mais um time.
A sensação de recomeço é total: o ataque terá que ser recomposto com as contratações que chegaram em substituição àqueles que saíram; o sistema defensivo, envolvido pelo Racing em níveis constrangedores, precisará ser reordenado; e a torcida, que vaiou e xingou o time, agora deve ser reconquistada.
É um pecado que o melhor time do Brasil em 2024 tenha se sabotado dessa forma. A espera de quase dois meses por um novo treinador, vendida como cuidado com o planejamento, ecoa como trapalhada depois de o clube decidir contratar um técnico que sempre esteve à disposição. O Botafogo, na figura de John Textor, exagerou na autossuficiência – como se a superioridade da temporada anterior bastasse para o novo ano. Não bastava.
A contratação de Renato Paiva é duvidosa. O Botafogo rodou o mundo em busca de um treinador (sondou nomes no México, na Argentina, na Itália, em Portugal) e acabou encontrando um que estava no Rio de Janeiro à espera de uma oportunidade – depois de ser demitido do Toluca, do México, em dezembro. Quase dois meses depois da saída de Artur Jorge, o clube não contratou o técnico que idealizava: contratou o técnico possível.
O português Renato Paiva — Foto: Hector Vivas/Getty Images
Dado o cenário, é difícil não concluir que os maiores predicados encontrados pelo Botafogo em Paiva foram a nacionalidade – a mesma de Artur Jorge e Luís Castro, que fizeram ótimos trabalhos no clube – e a disponibilidade.
Esta será a segunda experiência do treinador no futebol brasileiro. A anterior foi no Bahia, onde em 2023 conquistou o Campeonato Baiano, caiu na primeira fase da Copa do Nordeste, lutou contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro e, pressionado pela torcida, pediu demissão. Teve 49% de aproveitamento.
Paiva teve boa escola. Começou nas categorias de base do Benfica, em Portugal, e depois passou pelo Independiente del Valle, do Equador – um clube muito bem organizado. Trabalhou ainda no México, onde treinou León e Toluca. É um currículo interessante, mais robusto do que o de Artur Jorge quando chegou ao Botafogo.
John Textor disse que, na conversa que teve com Renato Paiva, identificou no treinador encaixe com as ideias de jogo que pensa para o time – aquilo que ele chama de “Botafogo way.”
– O “Botafogo way” que queremos é inteligente, técnico e rápido. Eu falei com vários treinadores que queriam vir pelo dinheiro, pela fama, queriam treinar um campeão. Eu precisava achar alguém que estivesse pronto para treinar e jogar do nosso jeito – afirmou o dono da SAF após o jogo contra o Racing.
Recuperar a naturalidade com que o time jogava e encaixar as novas peças nesse modelo de jogo serão as missões iniciais de Renato Paiva para reviver o “Botafogo way” mencionado por Textor. A boa notícia para o novo treinador é que ele terá cerca de um mês sem jogos para organizar a equipe. Passado o prazo, será a vez de encarar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores da América, competições conquistadas no ano passado por aquele ótimo time que agora precisa ser redescoberto.