Projeto leva experiência tradicional das feiras para dentro de condomínios em Rio Branco

A iniciativa, reúne 18 pequenos negócios dos mais diversos segmentos e acontece em diferentes condomínios da capital acreana

A rotina em alta velocidade dos tempos modernos faz com que prazeres cotidianos tenham desaparecido do dia a dia da população. Dentre eles está aquela visita às feiras de rua. Como forma de levar uma autêntica experiência de feira para dentro dos condomínios, aliando o lazer com a praticidade, surgiu um novo projeto.

As feitas coletivas chegaram ao estado do Acre/Foto: ContilNet

Desde outubro de 2022, moradores de condomínios em Rio Branco têm tido a oportunidade de viver uma feira no conforto de seus lares. O projeto, pioneiro no estado, une conforto, segurança, praticidade e valorização do empreendedorismo local em um só espaço.

Sandra, empreendedora à frente do “Amor com Geladin” e organizadora da iniciativa, reúne cerca de 18 pequenos negócios dos mais diversos segmentos, que participam das feiras em diferentes condomínios da capital acreana.

Inspirada por feiras semelhantes que viu em São Paulo, Sandra trouxe a ideia para a capital acreana com um objetivo claro: criar oportunidades reais para empreendedores locais, sem fins lucrativos. “Sempre orei pedindo que Deus direcionasse e juntasse as pessoas certas, para que pudéssemos ser bênção e também sermos abençoados”, conta a idealizadora do projeto.

A Feira de Condomínio se diferencia por seu formato acolhedor e exclusivo. Ao contrário das feiras tradicionais, com barracas e alta circulação de público, o evento é voltado apenas para os moradores e seus convidados, garantindo segurança e tranquilidade. A proposta é transformar um dia comum em um momento de lazer e convivência entre vizinhos, em um ambiente seguro e familiar.

Variedade e qualidade artesanal

Os empreendimentos participantes oferecem uma ampla gama de produtos e serviços. Na área de alimentação, o público encontra desde doces artesanais, mini tortas e rabada acreana até pipocas gourmet, churrasquinho e embutidos caseiros. Já no setor de variedades, há opções como brinquedos educativos, semijoias e bijuterias artesanais.

A feira funciona em um esquema colaborativo. Os empreendedores não pagam taxa para participar, e o condomínio não arca com custos. Quando há necessidade de algum investimento, como material gráfico ou infraestrutura extra, os expositores dividem os valores entre si. “É uma parceria em que todos ganham”, explica Sandra, uma das expositoras e criadora do Amor Congeladim.

Sandra é a organizadora do coletivo e participa com o seu empreendimento/Foto: ContilNet

Ela conta que sua trajetória empreendedora começou com o apoio do Sebrae. “A primeira coisa que fiz, quando pensei em empreender, foi procurar o Sebrae da minha cidade para saber como eles poderiam me ajudar. O ano era 2019 e eu queria começar do jeito certo”, lembra. “Abri meu MEI, agendei uma consultoria no SebraeLab e fizemos o Canvas, uma ferramenta visual que ajuda a planejar e estruturar os principais aspectos do negócio, como proposta de valor, público-alvo e canais de venda.”

Sandra destaca que o apoio do Sebrae foi fundamental não apenas no início, mas ao longo de todo o processo. “Depois, o Sebrae ainda me auxiliou na criação da identidade visual da minha marca, por meio do programa Empretec, e, mais recentemente, com serviços importantes como a elaboração da tabela nutricional e a geração do código de barras dos meus produtos.”

No ano passado, ela teve seu trabalho reconhecido. “Tive a honra de participar da Semana do MEI, promovida pelo Sebrae de Brasília, após ser convidada e indicada pelo Sebrae de Rio Branco”, conta. “O Sebrae é um parceiro essencial na minha caminhada empreendedora. Sempre aconselho que todos que desejam desenvolver um negócio próprio, seja ele qual for, busquem o Sebrae. O apoio, as orientações e os recursos que oferecem fazem toda a diferença.”

Além dela, outra empreendedora que se faz presente durante as feiras é Lucilene Nonata da Silva, dona do Sabor Nativo, microempresa responsável por doces naturais feitos de forma totalmente artesanal. Lucilene revela que trabalha com doces há mais de 20 anos, utilizando receitas próprias, e destaca a importância do Sebrae em sua profissionalização, desde a formalização do MEI até a criação de rótulos personalizados.

Lucilene é uma das empreendedoras presentes na feira/Foto: ContilNet

“Quando mais nova, fazia tudo sozinha. Hoje meu marido me ajuda, mas, sem dúvida, o Sebrae me ajudou muito no processo de criar o MEI, de criar minha rotulagem. O Sebrae conseguiu me dar uma boa autoestima de novo!”, afirmou.

E a clientela?

Os moradores dos condomínios, por sua vez, ganham a oportunidade de viver uma experiência de feira autêntica. O barulho das conversas espalhado pelo local, crianças correndo e brincando, os feirantes com seus produtos organizados, o cheiro da comida preenchendo o ambiente — tudo isso está presente.

Em um dos condomínios em que o projeto acontece, a moradora que tomou a frente para receber os feirantes foi Larissa Nunes. Ela conta que a praticidade de receber o evento no “quintal de casa” é um dos grandes atrativos.

“É muito bom ter as coisas aqui no condomínio, o pessoal vem e aproveita bastante. Temos outras coisas como roupas e artesanatos, mas as comidas são de fato nosso carro-chefe”, conta ela, que também tem seu empreendimento na feira: uma loja de roupas.

Ela reforça que a feira é o momento em que as pessoas se juntam, entram no clima do evento e têm a oportunidade de confraternizar com os vizinhos, descansar e aproveitar um momento diferente, sem sair do conforto de seu condomínio.

Larissa Nunes é uma das principais parceiras do coletivo no condomínio onde mora/Foto: ContilNet

Carlos Saraiva, morador há cinco anos do condomínio, compartilhou sua experiência com a feira e destacou os impactos positivos da iniciativa.

“No início a gente nem prestava atenção. Hoje é um ponto de encontro, e isso é bacana. A gente vê pessoas do condomínio empenhadas em reunir os moradores. Isso é o mais importante. Você mora num condomínio e, às vezes, não conhece o seu vizinho”, pontua.

Segundo Saraiva, a feira se tornou um espaço de convivência importante. “Você não precisa vir e comprar. Mas você compartilha o espaço, e isso é o mais importante. Você abre para a iniciativa privada e vê os moradores, conversa com eles e tem esse momento.”

Carlos relata ainda que, com a rotina, é comum os moradores deixarem de se ver, o que torna o evento ainda mais relevante. “Um amigo hoje falou: ‘Poxa, você estava viajando?’ Não, estou aqui, mas a gente não se vê, porque é o horário que às vezes eu posso e ele não pode. As crianças se veem com mais regularidade porque vêm no parquinho. Então é muito importante a feira, e a gente tem que estar aberto pra ela.”

Ele reconhece que há regras e possíveis reclamações, mas acredita que o diálogo e a organização resolvem qualquer questão. “Desde que seja organizado como está sendo hoje, não tem problema. Agora, outras coisas que possam vir a ser reclamadas, os condôminos estão aqui também para frear, para normatizar o espaço. A gente não pode fugir dessa responsabilidade”, pontua.

Para ele e sua família, a feira só agrega. “Não é uma coisa que acontece todos os dias, então é uma coisa que vem unir o condomínio, e esse é o principal intuito. A partir do momento que a gente vê alguém aqui que não respeita as regras, o espaço, a gente não vai ser conivente com isso.”

Para além das comidas, a feira também contou com cosméticos/Foto: ContilNet

Carlos lembra que no início não participava, mas hoje espera pela feira. “Depois de um dia puxado de trabalho, você está aqui próximo de casa. Você pode vir andando e isso é uma qualidade de vida.”

Ele compara o ambiente a um pequeno shopping no quintal de sua casa. “Esse fator de você ter várias possibilidades de comida, de pequenos negócios, é um pequeno shopping. E, quando você concentra todos eles aqui, é benéfico.”

Outro ponto que chamou atenção de Saraiva é a segurança garantida de participar do evento, já que acontece em um ambiente controlado. “Hoje estão assaltando dentro de shopping centers e estacionamentos. Você tem que estar atento a todo momento, então essa questão de estar num espaço que você se sente seguro é muito importante.”

A feira também representa economia e incentivo à produção local. “Hoje, quando tem a feirinha, é um dia que eu não quero sair para comer fora. Eu quero ver os meus vizinhos, eu quero ter a minha segurança. São pequenos comércios, eles não vão te cobrar caro, então você vai ter uma reciprocidade muito boa. Fora que é uma forma de movimento da economia local também.”

Carlos conta que já viu moradores saírem de casa tarde apenas para prestigiar os comerciantes. “Chega no finalzinho, o pessoal fala assim: ‘O caldinho tá aqui, ó, tá bom, tá maravilhoso’. O pessoal ainda tem. Daí o pessoal sai de casa ali às 9, 10 horas da noite pra pegar um caldinho que tava gostoso. E, com a graça de Deus, o pessoal deixa aquele pequeno comerciante também feliz e realizado.”

Artesanatos também são marca registrada das feiras em condomínios/Foto: ContilNet

Ele torce para que outros condomínios sigam o exemplo. “A gente tem pessoas aqui que incentivam a gente a ter uma feirinha no sábado, às vezes aqui. E isso a gente incentivou. Olha, a pessoa sai da casa dela para vir vender para a gente. Então vamos prestigiar.”

E finaliza com entusiasmo:

“Se tiver uma próxima edição, eu volto com certeza. Espero te ver aqui pra você falar: ‘ó, gostei, voltei também’. E me convidem pras próxima, porque esse tipo de coisa não é só pra unir os condôminos. Você pode trazer um irmão, um parente, pra incentivar, pra ver. A gente vê as crianças aqui interagindo, curtindo, isso é muito bacana. A união dos moradores, é isso que falta um pouco, você olhar e incentivar o comércio local, estender a mão para o seu vizinho. Porque às vezes você mora num lugar e não conhece nem o seu vizinho”

Crescimento acelerado

A adesão dos condomínios tem sido crescente. Se no início os organizadores precisavam apresentar o projeto aos síndicos, hoje muitos residenciais já procuram espontaneamente a equipe após receberem indicações positivas de outros condomínios. “A receptividade dos moradores é incrível. Muitos já aguardam ansiosos a próxima edição da feira. Temos condomínios fidelizados”, comenta Sandra.

A simplicidade da organização também contribui para o sucesso da iniciativa. Basta que o condomínio ofereça um espaço, preferencialmente coberto, e, quando possível, mesas e cadeiras. A divulgação do evento é feita com materiais digitais e impressos enviados previamente para o condomínio compartilhar com os moradores.

Para aqueles que querem visitar o espaço para comer, hambúrgueres fazem parte do cardápio/Foto: ContilNet

Mais que vendas, um projeto social

O projeto sobrevive da força coletiva e da motivação dos envolvidos. Para os empreendedores, trata-se de mais do que uma chance de vender: é uma oportunidade de se conectar com o público, fortalecer vínculos e mostrar a força do trabalho artesanal local.

“Esse é um projeto que nasceu com amor, respeito ao espaço do outro e o desejo genuíno de criar um ambiente acolhedor e de oportunidades para pequenos empreendedores”, finaliza Sandra.

Com um modelo que prioriza o coletivo, a Feira de Condomínio vem se consolidando como exemplo de iniciativa social, gerando impacto positivo tanto para quem vende quanto para quem compra — tudo dentro do próprio lar.

Veja mais imagens da feira:

PUBLICIDADE

Bloqueador de anuncios detectado

Por favor, apoie-nos desativando sua extensão AdBlocker de seus navegadores para o nosso site.