O candidato presidencial de esquerda Luis Arce encerrou nesta quarta-feira (14) a sua campanha eleitoral para as eleições de domingo na Bolívia, um dia depois de seu rival de centro-direita Carlos Mesa fazer um apelo por uma “derrota definitiva” do “projeto socialista” do ex-presidente Evo Morales.
O ex-presidente Mesa e Arce, ex-ministro da Economia de Morales, são segundo as pesquisas os únicos dos seis candidatos com chances de vitória. Arce aparece em primeiro, mas há uma chance alta de a eleição ser definida em um segundo turno em 29 de novembro. As pesquisas mais recentes apontam uma diminuição da vantagem sobre Mesa.
Arce, 57, tem como bandeira a forte expansão econômica e a redução da pobreza durante o governo Morales.
— Se sente, se sente, Lucho presidente — gritava a multidão de apoiadores do dex-ministro, em meio a muitas bandeiras azuis e máscaras do partido para prevenir o coronavírus, no comício de encerramento em El Alto, cidade vizinha de La Paz e tradicional reduto eleitoral de Morales.
— Este é o povo. Chega de humilhação, chega de insultos, chega de discriminação — disse o líder da Central Obrera Boliviana, Juan Carlos Huarachi, em um discurso.
A campanha eleitoral boliviana foi marcada pela polarização entre partidários e opositores de Morales. Desde seu exílio na Argentina, o ex-presidente afirma que Arce é “uma garantia de estabilidade, crescimento econômico e redistribuição de riquezas”.
As eleições também renovarão todo o Congresso boliviano, hoje controlado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales.
O ex-presidente Mesa (2003-2005), por sua vez, encerrou sua campanha na terça-feira à noite na cidade oriental de Santa Cruz, região mais rica da Bolívia, onde conclamou os seus compatriotas a votarem para impedir o retorno do MAS ao poder.
— Somos os únicos que podemos derrotar definitivamente Morales e Arce, porque Arce nada mais é do que Morales, e Morales, nunca ba vida— declarou Mesa no ato colorido e barulhento, diante de centenas de seguidores.
Mesa escolheu realizar seu comício de encerramento em Santa Cruz em vez de La Paz em uma aparente tentativa de roubar votos do direitista Luis Fernando Camacho, o líder ultraconservador de um comitê cívico local que ganhou notoriedade há um ano nos protestos que levaram à renúncia de Morales (2006-2019) sob pressão militar.
Camacho, advogado de 41 anos e terceiro nas pesquisas, liderou uma “grande caravana” de carros e motocicletas pelas ruas de Santa Cruz na tarde de quarta-feira, quase ao mesmo tempo em que Arce participava do comício de El Alto.
Quatro missões internacionais de observação irão monitorar a transparência das eleições, que substituem as eleições de 20 de outubro de 2019, canceladas após denúncias de fraude a favor da reeleição de Morales.
— Fizemos um apelo geral para que os resultados sejam respeitados — declarou Francisco Guerrero, da missão da Organização dos Estados Americanos (OEA), após se reunir nesta quarta-feira com a presidente de transição Jeanine Áñez.
As demais missões são da União Europeia, do Carter Center e da Association of Electoral Bodies of America.
Na noite das eleições de 2019, uma contagem preliminar de votos foi interrompida e quando foi retomada, um dia depois, tinha ocorrido um aumento considerável na liderança de Morales. A missão da OEA expressou então sua preocupação com a mudança de tendência, que descreveu como “drástica” e “difícil de explicar”.
A oposição boliviana não aceitou os resultados e eclodiram protestos, muitas vezes violentos, que levaram três semanas depois a um ultima militar e à renúncia de Morales, que foi substituído pelo direitista Áñez.
Para as eleições deste domingo, novos magistrados foram nomeados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que analisou o cadastro eleitoral de 7,3 milhões de cidadãos.
— Vemos esse processo eleitoral com confiança — disse José Antonio de Gabriel, enviado do Carter Center aos Estados Unidos, após encontro com o presidente do TSE, Salvador Romero, nesta quarta-feira.
De Gabriel destacou que apesar da complexidade de “realizar um processo eleitoral em tempos de coronavírus, todo o país está habituado a medidas de biossegurança” e as infecções não devem aumentar.
A Bolívia contabiliza mais de 139 mil infecções confirmadas por covid-19 e mais de 8.300 mortes.
Romero, por sua vez, prometeu uma “política de portas abertas” para a verificação da contagem, e sublinhou que “os cidadãos poderão ter acesso às fotografias das atas” de cada seção de votação.
A Constituição declara vencedor no primeiro turno o candidato que obtiver maioria absoluta ou 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo turno. Caso contrário, haverá votação entre os dois mais votados. [Foto: Aizar Raldes/AFP]