A maioria das pessoas sonha em um dia ingressar no curso superior tão esperado. Foi com esse desejo, de seguir a vocação, que os senamadureirenses Alan Souza de Lima e Natan Vitorino Brasil, 19 e 20 anos, foram aprovados no curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac), pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Conheça a história do Natan
Nascido em Sena Madureira e estudante de escola pública desde o ensino fundamental, Natan enfrentou alguns desafios para chegar onde tanto quis. Uma criança “não compreendida” pelas pessoas, como destacou em entrevista, o jovem de 20 anos foi diagnosticado com Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) aos 16 anos.
Antes de falar sobre a conquista, Vitoriano enfatizou que a infância foi marcada por frases emblemáticas, como: “é burro”, “não tem atenção”, “não vai aprender”. Além das rotulações, também disse que vivia introvertido e irritado, por saber que não conseguia aprender o que era passado na escola, devido ao problema cognitivo que afetara sua atenção.
“Ouvi muitas coisas ruins. Pensavam que eu não era normal por não conseguir dirigir minha atenção com qualidade para umas coisas. Foi muito difícil”.
Ao saber do diagnóstico, anos depois, o rapaz passou a focar, com auxílio de medicamentos, nos estudos e se destacar. Em 2015, quando saiu do ensino médio, resolveu cursar o Exame Nacional (Enem) e, em seguida, com sua nota, concorrer a uma vaga no ensino superior.
Não satisfeito com as aprovações que conseguiu nos cursos que não faziam parte do plano de sua motivação, Natan seguiu tentando. Em 2017, quando conquistou uma nota considerável, infelizmente, não teve a possibilidade de se inscrever, devido um problema familiar que o afetou consideravelmente.
No início de 2018, uma notícia impactante mudou a sua vida. A mãe de Natan, Maria Auxiliadora, foi diagnosticada com câncer. “Nessa hora eu pensei: não adianta focar nos estudos se eu não tiver minha mãe comigo. Imaginei que se um dia, com 30 anos ou mais, eu pudesse fazer uma faculdade, com minha família ao lado, ficaria mais feliz. “.
Após o tratamento e o restabelecimento de Auxiliadora, já próximo do exame, o estudante se deu conta da prova que precisava fazer: “Eu estava lá, comemorando o sucesso do tratamento da minha mãe, quando parei e pensei: ‘Eita, o Enem’. Estudei poucos dias e fiz a prova”.
Nesta segunda-feira (28), o menino crescido que derrubou os julgamentos e escolheu o sucesso, recebeu um presente: “Eu não acreditei quando vi. Foi irônico porque eu não estava muito empenhado em passar, sabendo do pouco tempo que tinha pra estudar. Fiquei muito feliz ao mesmo tempo. Emocionado. Passei em medicina na Ufac. Ufa!”.
A mãe, emocionada e entusiasmada com a conquista, disse: “Eu não tenho palavras pra explicar o que eu estou sentindo. É demais. É felicidade, alegria, orgulho e um monte de coisas juntas”, comentou.
Ao ser questionada sobre as dificuldades em acolher o transtorno do filho, no início da infância, explicou: “Ninguém entendia ele. Apenas eu entendia e isso me doía muito. Na escola, vivam me chamando pra dizer que meu filho não tinha condições de aprender, mas eu insistia. Insistia em acreditar nele, sabe?! Na época eu não tinha conhecimento sobre o quadro, mas eu sabia, no fundo, que algo estava errado, que ele precisava de ajuda. Não tive orientação. Hoje, depois de enfrentar tudo isso, vejo nele um batalhador, um garoto que soube vencer na vida e superar adversidades. Estou emocionada, grata. É isso. Muito grata a Deus, à vida”.
“Às vezes uma coisa boa dá errado para uma coisa melhor dá certo”, finalizou o futuro estudante.
Conheça a história do Alan
Alan Souza, também de Sena Madureira, sempre estudou em escolas públicas, no interior do Acre, e disse em entrevista concedida ao ContilNet nesta segunda-feira (28) que sempre almejou entrar em uma universidade e tornar-se um profissional de sucesso.
O estudante já havia passado pelo Enem por duas vezes, nos anos anteriores, quando conseguiu uma vaga no curso de Engenharia Civil, em 2015, logo que saiu do ensino médio e, em 2016, no curso de Engenharia Elétrica, também pela Ufac.
“Desisti de cursar engenharia em 2015, porque andava desmotivado com o curso. Senti que não era o que eu queria. Resolvi ir pra Porto Velho (RO), onde mora parte de minha família, e lá pensei um pouco mais sobre o meu futuro. Ainda em 2015, passei no curso de Engenharia Elétrica. Decidi cursar, mas, agora em 2018, resolvi fazer o Enem novamente. Foi quando me surpreendi”, explicou.
Alan disse ainda que conheceu algumas pessoas da medicina e, a partir das conversas, começou a se interessar pela área: “Fiquei curioso e decidi o que queria: a Medicina”.
Empenhado, Souza chegava a estudar até 10 horas por dia.
A mãe, Valdineia Souza, mobilizada com a notícia, disse que se sente orgulhosa, feliz e contente com a aprovação.
“O coração fica cheio de um monte de coisas. Sinto muita felicidade, alegria, emoção. Ele é um filho maravilhoso, que sabe de onde veio e para onde quer ir. Somos de família humilde e isso, com certeza, nos coloca numa posição de benção. Sou grata a Deus que proporcionou a ele tudo isso”, comentou.