Aos 44 na de idade, o senamadureirense Gerlen Diniz, policial rodoviário federal licenciado para exercer o segundo mandato de deputado estadual, trocou de função nesta legislatura. De ferrenho deputado de oposição, passou a ser líder do Governo de Gladson Cameli, mais governista impossível.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre o assunto e diz que está pouco interessado nas acusações de deputados de oposição segundo os quais ele não teria equilíbrio emocional para ocupar o cargo de líder. Faz também novas denúncias em relação ao governo anterior e defende uma ampla investigação, “doa a quem doer”, sobre desvios de recursos públicos no Detran.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
ContilNet: Na legislatura passada, o senhor foi líder das oposições e agora virou líder do Governo. Ou seja, saiu da condição de baladeira para ser vidraça, uma posição não muito confortável. Como o senhor está se sentindo exercendo funções aparentemente tão antagônicas?
Gerlen Diniz – Olhe, nas duas legislaturas eu fui eleito para defender os interesses da população, estando na oposição ou no Governo. Então, para mim não há distinção. O Governo Gladson Cameli está começando, mas a gente já ver muitas mudanças em benefício do pagador de impostos, que é quem, afinal, nos colocou aqui. É o caso desses decretos 536 e 537, que a oposição atual vem questionando bastante. Não vejo problema nenhuma nessa mudança de posição. Estou aqui como Governo, mas vou defender o interesse da população como Governo. Mas, se por acaso, houver algo que eu considere prejudicial ao interesse público, vou sentar com o governador e mostrar minha posição. Não serei um líder beija-mão, daqueles que dizem sim e amém para tudo que vier para cá, como era na era do PT. O Governo agora é outro: o governador conversa, a equipe de Governo conversa e há diálogo aberto. Não vem nada fechado para cá.
“Não há escândalo, não há denúncia, não há nada. E agarrar em alguma coisa”
ContilNet- Esses decretos que o senhor citou e que vêm sendo questionados pela oposição, eles não prejudicam a população, uma vez que convidam empresas de fora do Acre a virem concorrer na venda de bens e serviços com as empresas locais?
Gehlen- Isso são informações totalmente inverídicas! Quem passa esse tipo de informação não sabe do que está falando. Esses decretos não fazem convite a empresas. Um processo de licitação é público e qualquer empresa do país pode participar. Os decretos não tratam de licitação. Tratam de uma fase anterior à licitação, que é o momento em que o Governo vai buscar um preço de referência. Antes de abrir uma licitação para comprar um carro, por exemplo, o Governo faz uma pesquisa (e já era assim na época do PT!) no mercado local, numa empresa local, e em duas empresas de fora. Isso, para ter um preço de referência, para ter um valor e base na hora em que chamar a licitação e saber do valor máximo que se habilita a pagar. E já era assim no passado. O que foi que o Governo Gladson Cameli fez? Apenas ampliou. Eram duas empresas de fora e uma empresa do Acre para formar o preço de referência. Agora, são três de fora e uma do Acre. Era assim na época do PT com os recursos do Banco Mundial, que fazia essa exigência para não haver fraude. Nas demais licitações, eles [o governo passado] pegavam um preço de referência local, sem consultar nenhuma empresa de fora. Nosso Governo ampliou para os recursos do Banco Mundial e trouxe esse procedimento para todos os processos de compra. Todo processo de compra tem que ter um preço de fora cotado com três empresas de fora e uma daqui, apenas isso.
ContilNet- E por que então a oposição está reagindo tão duramente a isso?
Gehlen- Acho que é porque a oposição precisa se garrar em alguma coisa, por não ter o que dizer – o governo começou agora! Não há escândalo, não há denúncia, não há nada… então um decreto vem para cá e a oposição logo diz que é contra. Faz isso porque é a oposição do quanto pior melhor. Eles não veem que um decreto desses beneficia a população porque se o Governo comprar um bem por um projeto menor vai sobrar mais recursos para investir na saúde, na educação, na segurança, coisa que os governos do PT não faziam e por isso afundaram o Estado do Acre.
ContilNet- Então, aquele requerimento do deputado Edvaldo Magalhães convocando a secretária de Fazenda a vir à Assembleia para falar sobre o decreto não deve passar?
Gehlen- Aquilo é uma farsa! É um circo para chamar a atenção. É a oposição tentando se imporante ao Governo. Querem trazer a secretária de Fazenda aqui para fazerem perguntas desnecessárias. Eu estou apto a responder todo o tipo de perguntas. Então, isso [a ida da secretária à Assembleia] não vai acontecer. Os deputados de oposição querem mostrar que têm força para trazerem um secretário à Assembleia. No passado, nós não trouxemos porque eles não deixaram. O nosso Governo vai tratá-los da mesma forma com que nos trataram e o requerimento do deputado que você citou não será aprovado.
“O governador me chamou para uma tarefa árdua, que é combater a oposição aqui todos os dias”
ContilNet- Há quem diga que o senhor não tem equilíbrio emocional para o perfil de um líder de Governo. São colegas seus da oposição que dizem isso abertamente. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Gehlen- O que dizem ou pensam essas pessoas a meu respeito não me interessa. O que me interessa é a opinião do governador. Ser líder do Governo não é nenhum bônus. É ônus! O governador me chamou para uma tarefa árdua, que é combater a oposição aqui todos os dias. Eu estou para ajudar, mas se quiserem me substituir amanhã, para mim, estão fazendo um favor porque eu terei uma vida parlamentar mis tranquila, não tendo que estudar e preparar tanto para os debates diários aqui. Atualmente, eu faço isso porque ajudei a construir esse Governo e quero ajudar a administrar o Estado também. A realidade é que é uma carga pesada que está sobre minhas costas hoje. Mas estou aqui com o sentimento de que a Assembleia tem que ajudar o Governo, porque se o Governo perece e afunda, quem vai sofrer é a população. Não é o governador ou o deputado. O Governo tem que dar certo porque quando isso acontece quem ganha é a população. A oposição não entende isso. Estiveram no Governo por 20 anos e saíam sem pagar salários de servidores porque esbanjaram demais. Eu já denunciei: só no Detran consumiam por dia 256 galões de água mineral de 20 litros. A gente sabe que não se bebe tanta água assim e que há um esquema aí. No combustível a coisa era pior ainda. Desta forma, quem estava no poder se sente prejudicado porque não tem mais acesso ao dinheiro ou aos cofres públicos para fazer o que quer. Agora é governo novo e as coisas mudaram muito e vão continuar mudando ainda e aqueles que ficarem contra essas mudanças vão ser atropelados por elas.
“No Detran também consumiam 1.600 litros de gasolina por dia. Há um esquema aí.”
ContilNet- Por conta dos fatos como o que o senhor levantou, o senhor não acha que seria necessária uma CPI ou algo parecido para investigar isso? O deputado José Bestene anunciou que os contratos irregulares serão anulados pelo governador. O senhor não acha que é preciso ir além da anulação e punir os culpados por eventuais irregularidades?
Gehlen-Os contratos foram repassados para a Controladoria Geral do Estado (CGE) e em seguida irão para a Procuradoria Geral, que deve emitir pareceres porque há muitos indícios de irregularidades, como este da água, que citei. Nós comparamos o consumo mensal de água lá no Detran da época do PT com o consumo no primeiro mês do Governo Gladson e encontramos uma diferença de R$ 30 mil só com água. No Detran também consumiam 1.600 litros de gasolina por dia. Se você pegar 1.600 litros de gasolina por dia você não consegue abastecer os carros e motos à disposição do Detran porque vai sobrar combustível. Isso não existe. Só no combustível a diferença anual é de mais de R$ 1 milhão.
ContilNet- Então alguém se apropriou desses recursos?
Gehlen- Há indícios. Indícios de gestão fraudulenta, gestão temerária, mas tudo isso será encaminhado para apuração junto aos órgãos competentes. Eu não posso dizer que houve roubo porque eu estaria acusando os antigos gestores e certamente iria responder por isso, mas que há indícios há…
ContilNet- E quando saem esses pareceres, essas decisões?
Gehlen- Ainda não temos uma data. Muita coisa está sendo levantada. Essa questão dos radares, por exemplo. O Governo do Acre tinha um prejuízo mensal de R$ 100 mil mensais administrando esse sistema. O Detran não tem nada a ver com isso. A atribuição é da Prefeitura. A aplicação daqueles radares eu medem o avanço de sinal, aquilo foi um assalto ao povo acreano. Só quem ganhou dinheiro com isso foi a empresa dona dos radares, que recebia por mês mais de R$ 200 mil pelo aluguel das máquinas. A quem interessa tirar o dinheiro do bolso acreano e repassar para uma empresa de fora do estado. Isso tem de ser investigado, doa a quem doer.