As águas de março alongam o inverno amazônico e adiam as promessas

Imagem Ilustrativa

Vou desenrolando o pergaminho da timeline, pra ver se tem alguma coisa mais interessante que esta bela chuva emoldurada pela janela. Aparecem as bos…, ops, postagens repetidas dos intermináveis xingamentos entre esquerodopatas e bolsominions. Passa, passa, esse povo não cansa nunca? Aparecem as fotos e tuítes presidenciais, das quais também não se aproveita nada e são mais inestocáveis que o vento. Se o Bolsonaro pretende me fazer sentir saudades da Dilma, vou logo avisando, não vai conseguir. Aparecem as rezas petistas a São Lula, a interminável ladainha da imaculada inocência… Passa, passa. Tenho um acúmulo de justificativas para ser alienado, os conscientizados nem imaginam. Aparecem algumas surpreendentes mensagens fora da política, vamos ver!, ora bolas, é anúncio de ervas emagrecedoras, filmes da netflix, joguinho pra ver com qual animal você se parece… Dá licença, já sei que sou levemente parecido com um humano. E aparece o vencedor na categoria de anúncio mais criativo, o incrível cartão do governo estadual para o dia 8 de março que louva “o maior de todos os bens, a beleza da mulher”. Pensei em gritar para a patroa: “amor, estamos ricos!”, mas ela poderia me mandar pagar a dívida no armazém e achei melhor desligar a internet e voltar à contemplação da chuva.

Mas preciso escrever alguma coisa, não posso viver de chuva e beleza, por isso resolvi dar uma chance à política da província que, embora de nível rasteiro, aparenta estar menos escatológica que a folia nacional. Olhei os sites, blogs e jornais com a intenção de pescar ao menos umas piabas no remanso entre o palácio e a Assembléia. Mas nem beliscaram. É sempre assim: muita água, pouco peixe. As chuvas fornecem a justificativa pra economizar algum dinheiro e reequilibrar as finanças abaladas pelas eleições. Voltam as discussões sobre a divisão dos buracos: com se sabe há 40 anos, há buracos municipais, estaduais e federais, mas todos estão aguardando o verão chegar.

Sem poder fazer muita coisa no presente, cuidemos do futuro: a movimentação é geral para as eleições municipais de 2020. Todo mundo procurando aparecer, nem que seja arranjando uma briga na esquina. E a namoradinha da cidade atende pelo nome de Minoru Kimpara, convidado por quase todos os partidos para ser candidato a prefeito. Há outros “nomes fortes”, dizem os mais bem informados, mas dependem do desempenho de seus mandatos, do novo governo estadual, do que vai acontecer com a atual edição do Brasil de bolso… Francamente, esse pessoal não é “político profissional”, como dizem, mais parecem sofrer de uma politicodependência, com uma ansiedade típica de viciados -passado o efeito de uma campanha eleitoral, já querem começar outra.

Ainda de acordo com as famosas “fontes” (impressionante, esses fontes murmuram há décadas), os dirigentes dos principais partidos da igualmente famosa “base de sustentação” do governo estão insatisfeitos com o espaço destinado a cada um, sempre considerado menor que o espaço do aliado. No jogo de xadrez, sei o que significa espaço. Na política da província, imagino que essa palavra seja usada para se referir à quantidade de cargos, a posição deles na hierarquia e o valor dos salários correspondentes. Sem dúvidas, mesmo para quem tem um bom espaço no governo, a prefeitura da capital seria uma boa intéra.

Tem uma parte chata, da qual não escuto muita gente falar: o trabalho a ser feito. Mas imagino que ainda tem muito tempo pra pensar sobre isso. Ao menos enquanto estiver chovendo, não precisamos nos preocupar com esse detalhe. E isso é algo que me impressiona a ponto de causar uma vertigem non-sense, o modo como se pode ganhar eleições e instalar-se no poder executivo sem expor propostas e nem sequer fazer promessas. Acho que ainda não conseguimos avaliar o tamanho da lambança histórica que o PT fez, esgotando a paciência de brasileiros e acreanos ao ponto de não exigirem qualquer garantia de seus sucessores, ou seja, o que vier é lucro.

Resta esperar que passe essa chuva e, temendo que o verão não traga boas novidades, olha, não tenho pressa.

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