Dele pode-se dizer, sem nenhum exagero, que nasceu em berço de ouro. Rodrigo Severiano Pires, de 30 anos, nascido em Rondônia e vivendo no Ace desde a adolescência, oriundo de uma família que foi pioneira no comércio de móveis e outros utilitários domésticos no Acre, as antigas Lojas Utilar, é empresário, publicitário e, entre outras coisas, influenciador digital – ou um profissional do Coaching, para usar uma palavra em moda no mundo dos negócios, definição que ele dispensa e prefere se apresentar apenas como um cidadão que ajuda a sociedade de forma cívica.
Pois bem, o menino cuja família o permitiria uma vida sem qualquer dissabor, o que é comum para quem nasce em berço esplêndido, preferiu, no entanto, sair cedo de sua zona de conforto. Hoje, apesar da pouca idade, mas com muita experiência no campo empresarial, tem agenda cheia de compromissos que registram palestras por todo Acre e em algumas partes do Brasil.
Rodrigo Pires é também um líder empresarial, sócio-proprietário, só para citar algumas de sus empresas, da PWS Publicidade, Rowd Produções, que atuam na área de comunicação, e Donn Barbearia – empresas referências em seus ramos. Além de desempenhar também atividades no setor de agronegócios.
Rodrigo começou sua história empreendedora ainda jovem. Com apenas 12 anos ajudava na empresa dos pais. Logo em seguida, aos 14 anos, tornou-se jovem aprendiz no Serviço Nacional do Comércio (Senac) e, na sequência, atuou como facilitador do Empretec, programa desenvolvido pelas Nações Unidas estabelecido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento para promover a criação de pequenas e médias empresas sustentáveis, inovadoras e internacionalmente competitivas.
Antes de ser dono de seus próprios negócios, Rodrigo trabalhou com grandes empresários locais para adquirir experiência. “Até então eu tinha sido só o filho do dono, e fui pro mercado pra aprender mesmo.”, disse, em entrevista exclusiva ao ContilNet.
Com toda a formação voltada para a área de comunicação e negócios, seus projetos se destacam pela criatividade e inovação. Rodrigo sabe que, para empreender, é necessário ter em mente a premissa de que o bom não é o suficiente. “Apenas o melhor vai te destacar no mercado”, diz.
O empresário costuma dizer aos jovens que têm o sonho de construir um grande negócio, que é preciso coragem e persistência, porque no Brasil as burocracias ainda são muitas. Mas ter convicção do seu propósito de vida é o que vai te impedir de desistir, e saber o que vale a pena ou não vai te diferenciar. “Estamos precisando dessas pessoas no Acre e no Brasil.”
Atualmente, Rodrigo Pires também tem cadeira cativa na Associação dos Jovens Empreendedores do Estado do Acre e é Diretor de Comunicação da Associação Comercial do Acre – ACISA, e tem se dedicado a pensar e executar projetos que visem o desenvolvimento do Estado, como a plataforma Acre 2050, um painel fixo que vai de 2018 a 2050 e que vai discutir o futuro do Acre a curto, médio e longo prazo. Como todo bom empreendedor, segue obstinado no propósito de levar o Estado que ama para um vislumbre de dias melhores. ”Não vamos desistir do Acre, enquanto houver esperança não vamos desistir”, diz na entrevista cujos melhores trechos estão reproduzidos a seguir:
O que significa para você ser empresário e líder do setor num Estado ou numa cidade em que a maioria das pessoas da sua idade estão se matando nas ruas na guerra das facções ou sendo presas por outros crimes como tráfico de drogas, furtos e roubos têm praticamente a sua idade? Como o senhor reage ao fato de saber que jovens de sua geração estão numa guerra ou engrossando os números do sistema carcerário?
Rodrigo Pires – Com muita preocupação, é claro. Vejo isso como um abismo em relação ao futuro. A desigualdade social que está acontecendo no Acre e em Rio Branco em particular é uma ameaça ao nosso futuro. A FGV (Fundação Getúlio Vargas) acaba de divulgar estudos informando que, no país, os jovens foram a classe social que teve a maior depreciação – portanto, desigualdade – de renda nos últimos cinco anos, principalmente os jovens entre os 19 a 29 anos.
Os estudos mostram a razão disso?
Mostram. Houve uma precarização da renda desses jovens em relação ao primeiro emprego ou à primeira prestação de serviço exatamente pela falta de capacitação. Ou seja, o jovem não se capacita, cada vez vai ganhando menos – e ele é a base desta pirâmide social – e com certeza ele não consegue ter uma geração de renda aceitável. Uma sociedade como a nossa, a do acreano, tem renda média 34% menor que a renda média do brasileiro, torna isso ainda mais violento.
Qual é a renda média mensal do acreano?
Pouco mais de R$ 909 por mês. Com as estimativas de que nossa população tem 90 mil desempregados, isso é um agravante muito significativo. Esta questão da desigualdade social para os jovens é o reflexo do futuro do Acre. São esses jovens que hoje estão desempregados que serão o nosso futuro e isso é um reflexo que já nos atinge no presente. Isso é uma coisa que tem que ser resolvida porque é algo dramático. Um exemplo que posso dar é o de um edital que nós lançamos para o preenchimento de cinco vagas de trabalho, tivemos mil pessoas que se ofereceram. Isso mostra que há muita gente querendo trabalhar e não tem oportunidade.
Nesses 90 mil desempregados que o senhor citou, qual é a faixa etária da maioria?
Há estudos que mostram que o jovem já é a maior parcela – e não é só no Acre – da população economicamente ativa – e será ainda mais – e, portanto, desempregada. São jovens numa faixa etária muito baixa. Diferentemente do Japão e outros países, o Brasil, que tem uma média de 13 a 14 milhões de desempregados, tem uma população jovem. E no Acre, um Estado pequeno como o nosso, tem, entre esses 90 mil desempregados, um grande percentual, a maioria eu diria, composta por jovens. Olhando esses números e documentos que mostram a renda de quem trabalha com tráfico, isso se torna ainda mais preocupante. As informações dão conta de que um chefe de boca [de fumo] ganha em média R$ 8 mil por mês. Como é que você vai fazer para competir com isso, com uma pessoa que não tem preparo, que não tem qualificação e por isso não teve uma oportunidade na vida, para fazer com que ela ganhe pelo menos R$ 909 ?
Comparando esses números a conclusão óbvia é de que a guerra está perdida. O senhor concorda com isso?
Eu não sou tão pessimista. Penso que ainda há chances e de que deve haver um trabalho de base da sociedade e a própria pessoa não pode desistir dela. Tem que haver com ela um pacto muito grande e que cada vez mais surjam exemplos de pessoas que deram certo.
Por esta sua análise, estamos com o futuro comprometido. O que o senhor acha que o Governo deve fazer para intervir favoravelmente nisso? O que o senhor acha que tem que ser feito de imediato?
Alguns prêmios nobeis de economia, como o americano James Heckman, de 73 anos, que é reverenciado tanto em sua área de origem, a economia — que lhe rendeu o Prêmio Nobel em 2000 —, como na educação, criaram métodos científicos para avaliar a eficácia de programas sociais. Heckman vem se dedicando aos estudos sobre a primeira infância e concluiu que, para cada um dólar investido na primeira infância, sete dólares voltam em forma de investimentos para a sociedade. A primeira infância é aquela de responsabilidade da esfera municipal em nosso país, como as creches, naquele primeiro contato do ser humano com a educação. Isso mostra que nós precisamos trazer, para essas crianças, noções básicas de economia, de robótica, princípios da chamada Escola 4.0 – aquela em que ela prepara o indivíduo para esta economia criativa que está começando agora, que combate a escola em que você se prepara dois ou três anos para se formar e, quando se forma, depois de quatro anos, sai da faculdade sem saber de nada. Então você tem que pegar sua capacidade de empreender e utilizar na intermete, em serviços ou mesmo em tecnologia rural, enfim, em busca de criar novas soluções.
Vou insistir na pergunta: com a sua experiência, o que o senhor acha que o governo – e digo o estadual – pode e deve fazer para estancar essa sangria dos dias atuais?
Para efeito rápido, eu acredito que a única saída que nós temos é investir em tecnologia para integrar esse pessoal da prestação de serviços. O mundo vive a necessidade de prestação de serviços tecnológicos muito grande, e uma noutra área, incentivos aos pequenos agricultores para que cada vez mais pessoas possam ser empregados em atividades que tenham uma renda familiar superior a do extrativismo. É assim que a gente possa unir o campo com a tecnologia das cidades para aproveitar esses jovens que estão se formando. Ou seja, as vertentes são estas: tecnologia e agronegócio. Nós somos uma floresta e não temos saída, com 83% do nosso Estado preservado. Então, a gente tem que agregar valor no campo e trazer os jovens para serem capacitados para a tecnologia.
Como é que o senhor avalia o Governo do senhor Gladson Cameli, que é em tese um jovem? O senhor acha que o jovem Gladson Cameli está fazendo um Governo com os velhos vícios? É um Governo que corresponde aos anseios dos jovens ou é um Governo jovem que já nasceu velho?
Esta é uma pergunta interessante porque, aquele mesmo estudo da FGV que eu citei no início, o jovem do mundo, de 18 a 29 anos, tem uma aceitação média de 54% em relação aos governos atuais. Ou seja, o jovem mundial aprova os governos na média de 54%. O jovem brasileiro na média de 12 % apenas. Há, no Brasil, portanto, uma insatisfação muito grande dos jovens no sentido das operações dos governantes. Sobre o [governador] Gladson Cameli, acho que ele não tem uma política clara ainda sobre os jovens – eu não percebi ainda algo sobre isso, mas acho que ele faz um trabalho de Educação muito bom, tem reformado escolas, investido nesta área, mas eu não vi no governo dele ainda uma política voltada para o empreendedorismo social, de impacto social, que seria a política de valorização de empreendimentos que tenham impactos sociais em grande escala dentro do Estado.
Então, o senhor enxerga uma contradição no fato de o governador do Estado vir a ser um jovem sem fazer política para a juventude, fazendo apenas a chamada velha política em que, sob o governo dele, os jovens acreanos venham se matando nas ruas?
Eu acho que o fato de jovens estarem se matando faz parte de uma política social que deu errado no passado e que hoje estamos todos pagando a conta disso. A responsabilidade do Gladson, com o Rocha [vice-governador], o secretário de segurança [coronel Paulo Cezar] e o Ulysses [coronel comandante da Polícia Militar], que são jovens, é tentar de algum modo trazer uma solução para este problema, através de uma polícia mais preparada. Enfim, isso é uma responsabilidade deles, mas a causa desta catástrofe social que eu vejo vem de outros governos. Inclusive no Fórum 2050 – que fizemos no ano passado e vamos fazer este ano – nós discutíamos isso e estamos convencidos de que essas matanças não podem ser debitadas ao atual Governo, porque elas vêm de longe e são uma herança maldita para o governador Gladson Cameli e para a classe política que o apoia.
O senhor falou do Fórum 2050. No que consiste isso?
Trata-se de um Fórum permanente para debater e procurar soluções para um Acre que a gente quer chegar em 2050, daqui a 30 anos. Nós defendemos no nosso slogan que o futuro acreano já começou. E todo ano a gente traz uma temática nova. No final do ano de 2019 a temática foi “Cidade Inteligente”. Nos debates, nós apresentamos um caso de sucesso, no combate à violência, a cidade de Medelín, na Colômbia. Ali, no auge do narcotráfico, tinha índices de violência altíssimos e os números de homicídios foram diminuídos através de um trabalho de urbanização social na cidade. E nós chamamos atenção para isso porque, agora em 2020, é um ano de eleições e a política, mesmo de âmbito municipal, também poderia discutir isso na mesma perspectiva do que ocorreu em Medelin.
Mas, aqui no Acre, em Rio Branco, temos a Cidade do Povo, criada e executada no Governo passado, pelo então governador Tião Viana, para abrigar ali pessoas que viviam em áreas de riscos e vulnerabilidade social. O que aconteceu é que aquilo ali se transformou numa espécie de valhacouto, um abrigo dos bandidos mais perigosos e o local mais violento do Estado. Como defender isso?
Acho que na Cidade do Povo faltaram medidas que Medelin teve o cuidado de fazer, principalmente não só o de fazer as casas e entregar as residências a seus moradores, mas criar todo um empreendedorismo social e, através da educação, trazer essa comunidade para a sociedade, com um novo formato, infraestrutura básica de serviços e investimentos na Educação. A própria cidade de Medelin foi se moldando. Eu acredito que sociedade, quando ela tem um setor produtivo, segurança, com liberdade econômica e de imprensa, as pessoas não vão querer ir para o crime porque as pessoas sabem que esse outro lado é perigoso.
O senhor parte do princípio então de que ninguém é criminosos por opção?
Eu não digo que ninguém. Mas acredito que a maioria da população é composta por pessoas de bem e não quer relações com o mundo do crime. Eu me lembro de que, quando cheguei ao Acre, com 16 anos de idade, as pessoas jogavam dominó até tarde da noite na frente de suas casas, nas calçadas, nas ruas. A gente podia se exercitar no Parque da Maternidade sem medo e com segurança. Isso mudou, isso acabou. Hoje a gente tem medo de ter um carro melhor, porque corremos o risco de sermos roubados, até com emprego de violência e temos que trabalhar trancados, ficarmos trancados até em casa porque a gente sabe que a qualquer momento podemos ser vitimas. É isso que a gente tem que pensar em relação ao futuro.
E o Fórum 2050 deste ano aqui em Rio Branco será quando e qualquer será a temática?
O Fórum deste ano será em julho e a temática continuará sendo “Cidade Inteligente” porque estamos num ano eleitoral e entendemos que precisamos trazer os pré-candidatos à Prefeitura para este debate e perguntar a cada um deles: – e aí, você já tem alguma ideia sobre como vai pensar melhorar os mais de 180 bairros da nossa cidade de uma forma econômica social e de impacto? O tema do Fórum é: ‘Cidade Inteligente, como tornar Rio Branco Economicamente Viável?”. Rio Branco precisa explorar a sua vocação econômica e temos que trazer as pessoas para o debate.
E qual é, na sua avaliação, a vocação de Rio Branco, uma cidade fundada sob o prisma e signo do extrativismo e que, ao que tudo indica, não avançou muito além disso e que inda importa mamão e verduras que aqui, se plantadas, dariam em abundancia?
Penso que temos que pensar uma cidade para 500 anos. Não se pode pensar uma cidade para daqui a quatro anos, de quatro em quatro anos. Aliás, este é um grande problema para uma cidade que não tem uma vocação pré-determinada por sua própria sociedade. Ela vai navegando conforme as equipes eleitorais vencedoras. Se este ano ganha um prefeito ou prefeita que acha que a cidade precisa de turismo, o eleito ou eleito vai focar quatro anos em turismo. Se outro acha…
Ou seja falta continuidade de projetos…?
Sim. Falta de continuidade. Quando se tem uma cidade – e eu cito muito como exemplo o Estado do Mato Grosso – feita a partir do agronegócio, não há como mudar sesta realidade porque ela já envolveu toda a sociedade. Acho que Rio Branco precisa se permitir experimentar coisas novas e para isso tem que abrir mão do setor público, do desapego ao serviço público, baixando as pautas fiscais para poder incentivar novos negócios com o uso de muita tecnologia.
A cabeça do jovem acreano hoje é, em sua maioria, estudar, se formar e arranjar um emprego público. A cultura do contracheque, como dizem?
Como cidadão eu acho que tem razão o ministro Paulo Guedes [Economia], que tem levantado essa bandeira para acabar a estabilidade [do funcionalismo] do setor público, congelar salários e por fim aos concursos públicos. Eu acho que isso a gente precisa trazer para o Acre. Eu vejo aqui no Acre um apego muito grande por cargos públicos. As pessoas querem cargos mas não querem trabalho, não querem contribuir para a sociedade. Eu acho que esta mudança já começou, mas precisa mudar mais. Eu sou liberal e acho que o Estado aqui ainda é, do jeito que estamos hoje, um grande suporte para a sociedade. Por outro lado fico pensado se o Estado fosse liberal ao extremo e trabalhasse com a com a capacidade pública mínima, apenas com Educação, Saúde, Infraestrutura e Educação, nós teríamos muito mais desempregados na rua. Então é preciso haver o bom senso para fazer essa migração. E esta migração, como a economia nos ensina, só vem quando o mercado se regula, quando alguma coisa ocupa aquele espaço e aquela lacuna de servidores e precisa de algum setor privado para movimentar isso.
E, na economia do Acre, qual seria este setor?
Eu acho que o agronegócio familiar, com vocações pra o café, milho – aliás, esses dias visitei um produtor de milho e ele me disse que tira uma renda de R$ 10 mil reais mês com a venda de milho verde numa área de três hectares – e coisas assim, com jovens com empresas de economia digital, e todos com uma renda melhor. Um recente Fórum da Fieac (Federação das Indústrias do Acre) revelou que o salário do setor criativo do Acre, que engloba jornalismo, publicidade, designer, é de R$ 3 mil e poucos por mês. Isso é uma renda boa que traz consumo e que é maior que a renda do extrativismo, que é de pouco mais de R$ 1 mil.
Você falou lá atrás de um planejamento de pelo menos 500 anos e eu queria falar de pelo menos de uma década à frente sobre como essa sangria de matanças, desemprego, tráfico, enfim, a tragédia que vive o Acre?
Acho que devemos montar um grupo para buscarmos investidores. O Acre tem esse bairrismo muito grande de só valorizar o pessoal daqui, mas a gente precisa de empresas para gerarem empregos aqui. Por exemplo: a Coca-Cola, que saiu daqui, já tinha que ter voltado a operar no Acre. Acho que tem que haver uma missão empresarial e que aja assim: vá lá e só volte aqui quando a Cca-Cola voltar a operar no Acre, com 200 empregos a mais na nossa economia. Tem que ter essas ações de pequenos impactos, mas que, quando chega o final do ano, resulta em muitos empregos. Isso tem que ser feito. A saída do Acre é por aí.
O senhor, com essas ideias, pensa um dia vir a disputar cargos ou mandatos eletivos?
Sim, estou me preparando para isso. Fui aprovado nas duas fases do Renova Br. Não tenho partido, já recebi alguns convites, mas ainda não me identifiquei com nenhum.