A reportagem do ContilNet obteve com exclusividade uma entrevista com Sônia da Silva Moura, de 55 anos, mãe da modelo e atriz Eliza Samudio, assassinada brutalmente em 2010 a mando do ex-atleta do Flamengo e atual goleiro do Rio Branco Futebol Clube (RBFC), Bruno Fernandes.
Sônia comentou a contratação de Fernandes pelo time acreano e explicou como vê a notícia.
“Com muita tristeza. Não sou contra o Bruno Fernandes trabalhar, mas que exemplo dará aos jovens quando perguntarem quem é Bruno Fernandes? Aquele que mandou matar a Eliza e tentou fazer o mesmo com seu filho”, questionou e respondeu.
A guarda definitiva do menino, Bruninho Samudio, de apenas 10 anos, está com a avó desde 2012, por decisão da Justiça.
Dez anos se passaram desde a morte de Eliza, ocorrida em junho de 2010. Ela foi morta por asfixia e esganadura. A modelo foi esquartejada e até hoje não teve o corpo encontrado. Além disso, com poucas semanas de vida, três meses após o ocorrido, Bruninho foi encontrado pela polícia em uma favela de Belo Horizonte, em Minas Gerais, com “fome, chorando e sujo”, destacou Sônia.
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O goleiro foi condenado a 22 anos e três meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação de cadáver. Atualmente, ele cumpre pena em regime semiaberto.
“Ele disse em reportagem, um tempo desse, que quando cometeu o crime era muito jovem. Eu pensei: ‘idade não quer dizer nada’. Índole e respeito com a vida do próximo não têm idade. Eu ensino isso para o meu neto”, comentou a mulher.
Sônia explicou que algo muito intrigante é percebido com a soltura de Bruno: a posição que ele ocupa e a situação de outros detentos no Brasil.
“Acontece uma coisa muito interessante, né? O Bruno está há um ano solto e livre, e pra ele ser beneficiado com esse regime [semiaberto], ele teria que estar trabalhando. Isso acontece com os presos comuns. Eu não sei o que o Bruno tem que ele não é um preso comum. Porque, geralmente, quando você sai para o semiaberto e não tem um vínculo trabalhista, a Justiça te arruma uma forma de você trabalhar. Com o Bruno não acontece isso. Se fosse um outro preso, ele já teria perdido o benefício. Em um ano que ele está parado, sem trabalhar, continua no semiaberto. Se fosse outro preso, a Justiça já teria recolhido ou conseguido um emprego. O que acontece com a nossa Justiça?”, indagou.
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“A minha revolta e minha indignação. Eu não tenho nada contra ele voltar a trabalhar, mas não usando o esporte, pra ser admirado, tietado por muitos, com a mídia em cima. É errado isso. Ele é o tipo de pessoa que não tem que dar exemplo. Ele tentou contra a vida do próprio filho, matou a mãe do filho dele e até hoje não foi capaz de mostrar um pingo de arrependimento. O mínimo que ele poderia ter feito, pelo menos para o filho dele, era ter dado os restos mortais da Eliza para serem colocados em um lugar digno. Será que ele consegue ter sossego, ter paz? Ele consegue viver em paz? Pelo jeito, consegue, né?”, continuou.
A mãe de Eliza, ao fazer duras críticas, disse que o time acreano está “trazendo para dentro do Estado uma pessoa que cometeu um crime covarde”.
“O Rio Branco está levando para dentro do Estado um cara que cometeu um crime covarde. Ele é tão covarde que não fez com as próprias mãos, mas mandou. Se for contar, tem mais de 20 pessoas envolvidas. Tamanha covardia para matar uma mãe e fazer aquilo com um bebê indefeso”, frisou.
“Depois que mataram a Eliza, eles descartaram o meu neto em uma favela. Meu neto foi achado três dias depois, sujo e com fome. Isso me revolta. Ele não tinha culpa de nada. Tentaram de todas as formas matar o meu neto, desde o ventre da mãe dele. E muitos da sociedade ficam passando a mão na cabeça desse criminoso. Por isso nossas leis não são mudadas”, continuou, chorando.
Sônia disse que se o criminoso fosse um filho seu, ela também não aceitaria, da mesma forma: “Tem muita gente que aceita esse tipo de crime. Eu não aceito. Nunca aceitei. E outra: se fosse o meu filho que tivesse feito isso, eu não passaria a mão na cabeça”.
“Nossa sociedade tem memória curta e vive muita hipocrisia”
Moura destacou ainda que gostaria que as pessoas se colocassem no lugar de quem sofre por perder alguém de uma forma tão brutal.
“Infelizmente a nossa sociedade é uma sociedade que vive muita hipocrisia. Tem memória curta. Eu gostaria que todas as pessoas se colocassem no lugar do meu neto, que tem fotos da mãe aqui e me perguntou um dia desses, depois que passou a entender melhor o que é a morte, onde ela estava enterrada, o que é feito com o corpo de uma pessoa que morre. Eu falei para o meu neto que não sabia onde estava o corpo da mãe dele, porque assassinos e um mandante tinham sumido com o corpo dela. Isso dói na alma. As pessoas parece que esqueceram”, destacou.
Sônia acrescentou que, atualmente, apesar de toda dor, Bruninho não é uma criança “revoltada”: “Eu dou graças a Deus porque hoje o meu neto não é uma criança revoltada, mas isso dói muito”.
Sobre Bruno e sua carreira no futebol, ela destaca: “Ele foi goleiro um dia. Agora, uma coisa que ele nunca vai deixar de ser é assassino, de ter nas mãos o sangue da minha filha. Isso ele não vai deixar de ser”.
Em relação às decisões judiciais, Sônia declarou que “é triste ver a lei protegendo bandido, assassino e traficante”.
“Eu não sei o que esperar da Justiça. Os direitos do meu neto, por exemplo, lendo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vi que alguns foram violados. É triste ver como está caminhando a humanidade hoje. Quando as famílias começarem a fazer justiça com as próprias mãos, vai voltar a lei do “olho por olho e dente por dente”. Será que é isso que o nosso Judiciário está esperando acontecer? A revolta das pessoas para que algo possa ser feito?”, questionou.
Silva disse que sua filha pediu socorro por várias vezes, quando registrou pelo menos cinco boletins de ocorrência e usou a mídia, mas “a justiça não deu ouvidos à ela”.
“A justiça não deu ouvidos à minha filha, e acabou da forma que acabou. Exatamente como ela descreve naquele vídeo que foi divulgado, depois que ele raptou ela, levou ela para um apartamento e deu remédio à força pra que o Bruninho não nascesse. Ela avisou na gravação que se algo acontecesse, a culpa era dele. Ele disse pra ela que iria fazer o que fez, que iria matá-la, sumir com o corpo dela, e fez”, complementou.
“É triste ver tantos crimes bárbaros sendo cometidos contra o ser humano. São jovens, crianças e velhos perdendo a vida, e a única coisa que os familiares têm é a sensação de injustiça”, disse ao criticar o sistema de leis no Brasil.
“Hoje ele diz que tem dúvidas sobre a paternidade do Bruninho”
“Quero deixar minha indignação quando ele fala a respeito do Bruninho hoje. Ele diz ter dúvidas sobre ser pai, mas quando ele sequestrou minha filha na mira de uma arma de fogo e fez ela ingerir remédios abortivos, não tinha dúvidas”, enfatizou.
A avó de Bruninho diz que ele é uma criança que sabe de toda a história e que se reconhece como “filho de um pai assassino e que matou a mãe”, mas que é “feliz e muito bem educado”.
“Ele é uma criança que carrega todo esse estigma, mas é alegre, feliz e não é revoltado. No coração dele existe sim muita dor, já que é órfão de mãe morta e pai vivo”, destacou.
Sônia afirmou que Bruno fala em suas redes sociais que ela é a culpada de nunca o goleiro ter reencontrado o filho.
“Ele fala nas redes sociais dele por aí que eu sou a culpada de ele nunca ter procurado [o filho]. Nunca teve interesse. Se ele não quer procurar por mim, que procure pela advogada. Só que o Bruninho não é só o filho, é também a lembrança, nele, de todo o mal que ele fez contra à mãe dele. O que ele vai lembrar quando olhar para a criança? De todo mal que ele fez, da mãe que ele sumiu com o corpo. Isso é o que ele vai ver quando olhar para esse filho. Talvez seja por isso que ele mantém a distância. E é bom que mantenha mesmo”, continuou.
“Eu já falei. No dia em que o Bruninho quiser conhecer o pai, eu pego ele pela mão, mas enquanto ele não tiver discernimento de saber o que ele quer da vida dele e eu puder impedir a aproximação, eu irei fazer”, frisou.
Até hoje, o garoto é sustentado, unicamente, de acordo com Sônia, por ela e pelo seu esposo. “Bruno nunca pagou pensão para o Bruninho”, destacou.
Como será a fiscalização do regime semiaberto de Bruno?
Durante a entrevista, a mãe de Eliza também questionou como será feita a fiscalização, pela Justiça, dos horários em que Bruno pode sair de casa e exercer seu trabalho, já que há uma limitação no regime semiaberto.
“Quando Bruno diz que já pagou na Justiça, ele está totalmente errado. Está no regime semiaberto, tem horário estipulado pela Justiça para se recolher. Quem vai fiscalizar isso? Ele ainda está cumprindo pena”, finalizou.