A eleição, pela primeira vez em 60 anos de história, de um americano como presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), este mês, representou um fracasso para os países latino-americanos e evidenciou a enorme fragmentação política da região.
Essa foi uma das conclusões apresentadas por especialistas em relações internacionais que participaram, nesta sexta-feira (25), de um seminário sobre o cenário continental, organizado pelo Programa de Estudos Europeus, pela Universidade de Concepción (Chile) e pela Universidade Nacional de Quilmes (Argentina).
Neste contexto, coincidiram os palestrantes, o resultado da eleição presidencial americana terá grande impacto.
Na visão do ex-chanceler chileno Juan Gabriel Valdés, que foi também embaixador nos EUA e nas Nações Unidas, uma eventual reeleição do presidente Donald Trump acelerará a deterioração democrática e institucional dos EUA e isso terá consequências para a região. Já a possível derrota de Trump criaria sérios problemas para seus aliados, começando pelo Brasil de Jair Bolsonaro.
“Se Trump não for reeeleito, o Brasil estará em sérios problemas, sobretudo se continuar com sua política de destruição do meio ambiente. Com (Joe) Biden certamente aumentariam os controles”, opinou Valdés.
O vínculo entre Bolsonaro e Trump foi considerado pelo ex-chanceler chileno “uma relação de amigos, o que hoje pesa mais do que qualquer acordo. São camaradas”. Para a professora Monica Hirst, da Universidade Di Tella da Argentina e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil e EUA têm atualmente uma relação de idolatria e alinhamento, como parte de uma dinâmica de seitas que une e cria sinergias entre governos de extrema direita.
“No caso de nossa região, é importante dizer que o Brasil não inventou este modelo, ele foi instalado pela Colômbia. Um modelo de subordinação aos EUA que os americanos têm a expectativa de repetir com o Brasil”, afirmou Hirst.
Na visão da professora, a presença do presidente Jair Bolsonaro incentivou a fragmentação regional. “Bolsonaro tem uma relação de idolatria e alinhamento com Trump.”
A forte disputa entre os EUA e a China, ressaltou Juan Tokatlián, vice-reitor da Universidade Torcuato Di Tella, é hoje um elemento fundamental na hora de analisar o cenário regional e global.
“Nós mesmos, latino-americanos, optamos pela fragmentação. Uma das esperanças que existe hoje é o ativismo da sociedade civil. Sem acordos de cúpula, cidadãos, acadêmicos, trabalhadores e empresários podem reivindicar a democracia e a América Latina”, disse Tokatlian.
Já Tom Long, professor da Universidade de Warwick, disse que, na disputa com a China, os EUA “poderiam ter mais peso, por sua proximidade geográfica com os países latino-americanos”. [Foto de capa: Jim Watson/AFP]