“Em time que está ganhando, não se mexe”. Neste ano, a EA Sports levou o ditado futebolístico ao pé da letra e lançou, no último dia 9, o Fifa 21, novo título de sua franquia esportiva de maior sucesso comercial, com poucas alterações em relação à versão do ano passado. Decisão que pesa para o bem e para o mal.
Pontos fortes da série, como a vasta gama de conteúdo licenciado do futebol europeu e o robusto modo carreira, foram melhorados. Mas problemas presentes em edições anteriores, como instabilidade da conexão em partidas online e a ausência de grandes clubes brasileiros e de jogadores que atuam no Brasil continuam presentes.
Por isso, Fifa 21 pode ser considerado uma atualização competente da edição de 2020 da franquia, mas nada muito além disso. Com poucas novidades, a nova versão do game anual da EA Sports não justifica o aumento de 25% no já salgado preço de lançamento, de R$ 239 no ano passado para R$ 299 neste ano.
O game continua a ter a maior gama de jogadores e clubes licenciados no mercado de jogos virtuais de futebol. São mais de 17 mil jogadores, 700 times, 90 estádios e 30 ligas reais representados. Apesar disso, olhando especificamente para o mercado brasileiro, o game deixa a desejar.
Com as licenças do Campeonato Brasileiro e da seleção brasileira nas mãos da Konami, dona da série PES Football, principal rival de Fifa, o game da EA Sports tem um leque limitado de equipes nacionais. Na “Liga do Brasil” (versão genérica do Campeonato Brasileiro), estão Atlético-MG, Athletico, Atlético-GO, Bahia, Botafogo, Ceará, Coritiba, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Grêmio, Internacional e Santos.
Além deles, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco também foram incluídos no Fifa 21 graças ao licenciamento fechado com a Conmebol para reproduzir no game torneios de clubes sul-americanos. Essas equipes, porém, aparecem somente em modos de jogo que simulam as competições da Conmebol -ou seja, não estão presentes no modos carreira, FUT (Fifa Ultimate Team) e de partidas online.
E não espere encontrar no game os jogadores dos clubes brasileiros. Por dificuldades impostas pela legislação nacional para o licenciamento da imagem de jogadores e a ausência do Brasil no FIFPro (espécie de sindicato mundial dos jogadores de futebol), todos os elencos são formados por avatares com nome e aspecto genéricos.
Isso faz com que a experiência de jogar o modo carreira mude sensivelmente dependendo da escolha de um clube brasileiro ou europeu para iniciar sua jornada, uma vez que os campeonatos Inglês, Alemão e Espanhol são representados fielmente no game (no caso do primeiro, contando inclusive com versões virtuais de todos os estádios da Premier League), assim como a Champions League e a Liga Europa.
O modo carreira, aliás, foi reformulado no Fifa 21. Algumas mudanças são sutis, como a possibilidade de negociar contratos e incluir cláusulas de remuneração por venda futura de jogadores, mas uma em especial promete facilitar muito a vida dos gamers.
O novo simulador interativo de partida permite acompanhar os jogos em velocidade acelerada, em uma representação semelhante a uma prancheta ou um jogo de botão. O jogador ainda fica responsável por fazer mudanças táticas na equipe e pode, se desejar, assumir o controle do time ou voltar para o modo de simulação a qualquer momento.
Apesar de já contar há algum tempo com seleções femininas no game -neste ano são 16, incluindo Brasil (com jogadoras genéricas), EUA, França, Alemanha e Japão-, ainda não é possível jogar o modo carreira assumindo o papel de uma jogadora no Fifa 21. Também não há nenhum campeonato feminino licenciado, apenas a opção de disputar um torneio genérico com 12 seleções.
Substituto do elogiado “A Jornada” (uma espécie de “modo história” presente nas versões 17, 18 e 19 de Fifa), o modo Volta, lançado na versão 2020 da série e que simula partidas de “futebol de rua” em campo reduzido (do 3 contra 3 sem lateral ao 5 contra 5 semelhante ao futsal), ainda está longe da qualidade cinematográfica do seu antecessor.
Com diálogos rasos e enredo nada envolvente, a pequena campanha funciona mais como uma espécie de tutorial para o futebol Volta -com partidas mais curtas e voltado mais para os dribles e jogadas de efeito do que uma simulação realista de um jogo de futebol.
Os esforços da EA Sports para criação de novas formas de jogar Fifa se limitaram a opções multiplayer online de modos já existentes. No novo “Volta Squads”, é possível se juntar até outros três amigos e disputar partidas com formações reduzidas. Já o modo FUT (Fifa Ultimate Team) também recebeu uma nova opção para partidas cooperativas online. O FUT Co-Op permite a realização de jogos com até duas pessoas no mesmo time contra adversários reais ou virtuais.
Os modos de jogo online, por sinal, continuam sofrendo com travamentos e latência ocasional. O problema é mais grave nas partidas no modo Pro Club, que colocam até 11 jogadores controlados por humanos em cada lado do campo. Mesmo assim, de forma geral, a experiência ainda é satisfatória.
A jogabilidade e o comportamento dos jogadores controlados por inteligência artificial está similar à versão anterior do game, mas com pequenas melhoras. Os entusiastas da série poderão notar uma maior eficiência no jogo de troca de passes, com jogadores buscando espaços vazios no campo com mais frequência. Além disso, há novas funções avançadas de controle de corrida de jogadores e de cruzamentos que podem agradar jogadores mais experientes.
Com menus e identidade visual muito semelhantes aos do Fifa 20, a principal mudança cosmética da nova versão do jogo está na narração em português, agora com a voz de Gustavo Villani. O narrador do Grupo Globo substitui o apresentador Tiago Leifert, que exercia a função desde a edição 2013 do game ao lado do comentarista Caio Ribeiro.
Ter no jogo duas vozes recorrentes das transmissões de futebol na TV ajuda a aumentar a imersão no jogo.
FIFA 21
Avaliação: regular
Onde: PC, Playstation 4 e Xbox One
Preço: R$ 299 (versão standard)
Produção: EA Sports