O estado de São Paulo já registrou 108 casos de uma doença rara que atinge crianças e adolescentes chamada SIM-P (síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica). Trata-se de uma manifestação tardia associada à Covid-19.
Monitorada pelo Ministério da Saúde, a doença apresenta mais de 500 casos reportados em todo o país, sendo 35 óbitos, desde o início da pandemia até 24 de outubro. Em São Paulo, foram 7 mortes.
A maioria dos casos do país tem evidência de infecção recente de coronavírus (76,7%), e demais casos (23,3%), histórico de contato próximo com caso confirmado para Covid-19. Há predominância de crianças e adolescentes do sexo masculino (54%) e crianças menores, nas faixas etárias de 0 a 4 anos (39,9%) e de 5 a 9 anos (32,9%).
Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, trata-se de um problema extremamente raro e não deve ser motivo de desespero para os pais. “A meningite, que é uma doença rara, é três vezes mais comum”, afirma.
Além da febre alta e persistente, entre os sintomas da doença estão dor abdominal intensa, vômito, diarreia, conjuntivite, manchas vermelhas pelo corpo, inchaço nas articulações e dificuldade respiratória.
DIAGNÓSTICO DIFÍCIL
Foi com alguns destes sintomas, após passar por sete médicos e ter recebido outros diagnósticos, como virose, infecção no sangue e até dengue, que a atendente de educação Eva Vilma Santos da Silva Ribeiro, 32 anos, de Praia Grande (71 km de SP), conseguiu o atendimento correto para a filha Alice, de 5 anos, já no sétimo dia de sintomas. Eva, o pai e avó da menina tiveram Covid-19.
A menina começou com febre alta e a suspeita da mãe de que se tratava da síndrome. “Chegamos no hospital, pediram radiografia, que não deu nada, e o médico disse que minha suspeita não tinha nada a ver. Nos mandou de volta para casa e pediu para observarmos. No quarto dia, ela amanheceu com um sintoma que parecia conjuntivite. Eu já tinha lido sobre isso na internet, por esse motivo desconfiei”, disse a mãe.
Aflita, Eva voltou ao hospital e um exame de sangue detectou “infecção”. “Mas o médico disse que era uma bactéria no sangue. Como fiquei muito preocupada, a levei em um atendimento particular para mais exames”, disse. A família, porém, não teve condições de pagar R$ 1.400 pela internação da menina além de R$ 4.000 a R$ 5.000 pela diária com exames, custos do hospital particular.
Com uma carta do médico do hospital particular em mãos que citava a síndrome, ela retornou ao atendimento público. Foi então e depois de vários atendimentos, que uma médica chegou ao diagnóstico da síndrome e somaram-se 10 dias de internação.
A mãe afirma que hoje Alice está recuperada e faz um acompanhamento no posto de saúde.
RESPOSTA
A Sesap (Secretaria de Saúde de Praia Grande), gestão Rachel Chini (PSDB), diz em nota que, dentro do universo da saúde, existem vários procedimentos para se obter um diagnóstico e, muitas vezes, só é possível por meio de uma equipe multidisciplinar ou de mais de um profissional médico devido à complexidade do caso.
“Especificamente sobre o caso da criança, a Sesap vai averiguar a situação e tomar todas as providências, inclusive para que o tratamento ocorra da melhor maneira possível”, afirma.
O Ministério da Saúde diz que no pico da pandemia, na Europa, em abril do ano passado, houve alertas em diferentes países sobre a identificação de uma apresentação clínica em crianças e implantou o monitoramento nacional da ocorrência da Síndrome.