Duas filhas da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD-RJ) admitiram em depoimentos na última sexta-feira (22/1) terem participado de planos para financiar e executar o assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido da parlamentar, assassinado ao chegar em casa em 16 de junho de 2019. Os depoimentos, porém, são contraditórios entre si e jogam mais mistério nessa saga de amor e morte que abalou a midiática família evangélica carioca.
Mais revelações sobre casos extraconjugais, uso de remédio na comida para dopar e ódio entre os familiares marcaram a retomada de interrogatórios dos acusados de envolvimento no assassinato, na 3ª Vara Criminal de Niterói, Região Metropolitana do Rio. O inquérito, que havia sido paralisado por causa da pandemia de coronavírus, agora caminha para a conclusão, e a Justiça vai definir quem vai a júri popular responder pela morte do religioso.
O depoimento mais revelador de sexta (22/1) foi o de Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da deputada, que confessou ter jogado os celulares da mãe, do irmão Flávio dos Santos e do pastor Anderson do Carmo no mar após o crime.
Apontada por testemunhas do processo como a primeira pessoa da família com quem Anderson teria se relacionado, Simone negou que tenha namorado o pastor em algum momento, mas relatou que ele fazia seguidas investidas sexuais contra ela.
Ela disse que, após ser diagnosticada com câncer em 2012, passou a ficar mais em casa e a conviver com Anderson, que pagava o tratamento dela mas queria algo em troca. Ela contou, então, que teria dado R$ 5 mil para uma irmã de criação (Marzy Teixeira, também ré no processo) colocar em prática um plano para matar o pastor – tudo, segundo Simone, sem o conhecimento de Flordelis.
“Eu disse: ‘Marzy me ajuda, estou passando por maus momentos’. Eu não tinha um plano, estava desesperada. Depois que fiquei doente, ele ia no meu quarto. Sei que ela ia dar o dinheiro pro Lucas, mas depois que dei o dinheiro não sei o que houve”, disse Simone no depoimento. Lucas, outro irmão de criação, também é réu.
“Ele sempre demonstrou [intenções sexuais], mas começou a dar a entender em 2012, quando ele começou a pagar meu tratamento. Ele falava para eu olhar para ele com carinho. Disse que, se eu não andasse na cartilha dele, ele não pagaria meu tratamento” afirmou Simone no depoimento.
Simone também contou ter flagrado Anderson se masturbando no pé de sua cama.
Outra confissão
Acusada de furtar R$ 4 mil na casa em 2013, Marzy Teixeira da Silva, também foi ouvida na sexta e alegou que passou a ser humilhada e “perseguida com ódio” por saber de uma relação amorosa de Anderson na família, fora do casamento com Flordelis. “Sabia de um caso amoroso de Anderson com Anabel”, contou ela, referindo-se a outra filha da parlamentar.
Marzy afirmou ainda que colocava remédio na comida do pastor – com conhecimento de Flordelis – para dopá-lo, e admitiu ter pedido a Lucas dos Santos, um dos irmãos, a morte do pastor. Para isso, confessou ter feito um pagamento de R$ 5 mil. Em nenhum momento a ré cita Simone ou diz que a irmã pediu ou pagou pelo crime. Na versão de Marzy, ela teria roubado o dinheiro da mochila do próprio pastor, que costumava carregar quantias da igreja em espécie.
Marzy também negou, pelo menos num primeiro momento, que a mãe soubesse de seu plano. Ela alega que, apenas depois de ter feito a proposta, acabou assumindo para a mãe que desejava matar Anderson. “Ela ficou doida, quase apanhei”, relatou Marzy, que disse não saber se seu plano foi mesmo executado.
Outros réus que ainda não tinham prestado depoimento, Rayane dos Santos Oliveira e André Luiz de Oliveira, ficaram em silêncio. Flordelis já havia sido ouvida antes do recesso pandêmico.
A última fase do processo é a juíza decidir se os acusados serão levados a júri popular. A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce deu prazo de cinco dias para novos pedidos de investigações por parte do Ministério Público.
Flordelis, apesar de poupada pelas filhas nos depoimentos, também é suspeita de participar da trama que terminou na execução a tiros do marido na frente da casa do casal, em Niterói.
Ela é apontada, na denúncia do Ministério Público, como mandante do crime, mas nega tudo.