Ativista do Irã detida no Acre diz que FOC é pior que os presídios de seu país

A cinegrafista e ativista política iraniana pelos direitos das mulheres, Mahnaz Alizadeh, de 35 anos, lembra muito bem dos 40 dias em que ficou detida na ala feminina do presídio Francisco d’Oliveira Conde (FOC), em Rio Branco, entre agosto e outubro do ano passado.

Ela foi presa com passaportes falsos ao tentar entrar em Assis Brasil, na fronteira com o Peru, com cinco conterrâneos, em busca de refúgio. Alizadeh passou a ser perseguida em seu país natal após participar das filmagens de um documentário proibido pelo governo sobre mulheres que desafiam a lei e não usam o lenço na cabeça.

Ao entrar no Acre com documentos adulterados, ela foi direto para cadeia, onde dividia a cela com 15 presas. A ativista já havia sido detida no Irã e conta que as condições do FOC são piores que as dos presídios do regime repressivo onde vivia.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Mahnaz diz que na cela do complexo penitenciário a água para beber, lavar roupa e tomar banho só era ligada duas vezes ao dia, durante 15 minutos, por meio de um cano na parede.

Segundo ela, os banheiros não ofereciam privacidade e não havia lugar para todas dormirem, sendo necessário dividir colchão com uma colega de cela.

“Em Teerã, eu era uma presa política com outros presos políticos. Havia tortura psicológica, mas as condições higiênicas eram melhores, e eu podia ir a oficinas, tomar banho de sol. Aqui, ficava em uma cela sem fazer nada, só dormindo e comendo”.

Ela denuncia ainda o uso de spray de pimenta pelos policiais penais para controlar confusões entre as detentas. “É inacreditável que joguem no rosto, e não no ambiente”, lamentou. Informações sobre a prática também foram atestadas em relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) sobre o presídio acreano em agosto do ano passado.

A cinegrafista disse ainda que as presas usam miolo de pão e pedaços de pano nas partes íntimas durante a menstruação por falta de absorventes, além do racionamento de papel higiênico.

A iraniana, que ainda está em Rio Branco respondendo processo na Justiça por uso de passaporte falso, comenta também que suas colegas de cela eram pessoas pobres, tristes, gentis e, ao mesmo tempo, rudes.

“A minha impressão é de que eram, na maioria, seres humanos gentis, presas em um lugar miserável por falta de oportunidade de trabalho, e, como resultado da pobreza das suas vidas fora e dentro das celas, agiam também de forma hostil e rude”.

O Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen) negou o uso de miolo de pão como absorvente, racionamento de água e uso de spray de pimenta em lugares fechados.

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*Com informações da Folha de São Paulo

Foto: Arquivo Pessoal

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