Os cartórios de registro civil já registraram 303 mil mortes por covid-19 no país desde março de 2020, todas com informações como nome completo, idade e CPF. O número é similar ao informado pelas secretarias estaduais de Saúde e pelo consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte —ontem, o consórcio apontam 307.326 mortes.
Esta semana, uma mudança imposta pelo Ministério da Saúde na forma das secretarias estaduais inserirem os dados de óbitos pela covid-19 gerou uma redução artificial no número de mortes da doença na última quarta-feira. Isso ocorreu pela necessidade da inclusão de dados pessoais, como os números do cartão SUS do CPF, o que gerou dificuldade no cadastro a municípios e estados.
A mudança foi suspensa pelo Ministério da Saúde no mesmo dia, mas a queda nos dados gerou uma pergunta, difundida especialmente entre quem é ligado ao governo Bolsonaro:
Trezentos mil? Com CPF, quantos sobram?– Olavo de Carvalho (@opropriolavo) March 26, 2021
O UOL consultou os dados de óbitos pela covid-19 em outra fonte: a Central de Informações do Registro Civil. Até hoje, foram inseridas no sistema 303.493 óbitos.
A base de dados consta no portal da transparência da Arpen Brasil (Associação Registradores de Pessoas Naturais), que contabiliza os registros de óbito recebidos pelos cartórios e que trazem a covid-19 como a causa da morte.
Os dados da Arpen ainda têm defasagem e passam por constantes inclusões, já que entre a emissão do documento no cartório, envio das informações e inserção no sistema pode haver um prazo de até 15 dias.
Além disso, os números se referem às mortes ocorridas no dia —no caso dos dados das secretarias, o dado diário se refere aos óbitos confirmados de covid-19 naquela data, mas muitas delas ocorridas em dias anteriores.
Curva em alta
Mesmo com diferente metodologia e ainda atraso, os dados dos cartórios deixam claro que a curva de mortalidade pela doença segue em franca ascensão no país, em uma alta similar aos dados informados pelas secretarias estaduais.
Segundo números já cadastrados pela Arpen Brasil, em 22 de fevereiro o país superou pela primeira vez em 2021 a média de mil óbitos ocorridos em um dia, alcançando naquela data uma taxa móvel de 7 dias de 1.005 mortes.
Em apenas 20 dias, em 14 de março, o país conseguiu mais do que dobrar essa taxa média de mortes, chegando a 2.061 óbitos. O recorde de mortes em apenas 24 horas registrado até aqui ocorreu em 17 de março, com a morte de 2.222 óbitos pela covid-19 no Brasil. A média móvel alcançou 2.178 naquela data. Os números, porém, ainda são passíveis de atualização para mais com as novas inserções.
Outros problemas
Além dos dados dos cartórios, a fila de espera por vagas em UTIs (unidades de terapia intensiva) e a escassez de medicamentos mostram o tamanho da crise.
Segundo levantamento feito pelo UOL em dados das secretarias estaduais, há pelo menos 40 mil pessoas internadas em leitos de UTI com covid-19 nas 27 unidades da federação. Já o número de pacientes esperando superou 6.300 na quinta-feira.