O Acre recebeu da Organização Mundial da Saúde Animal, na última quinta-feira (27), o selo de área livre de febre aftosa sem vacinação. A notícia foi celebrada pelo governo e por produtores rurais. No entanto, de acordo com o economista acreano Rubicleis Gomes, a população não tem o que comemorar. Isso porque, segundo ele, o preço do produto nos açougues e mercados vai aumentar ainda mais nos próximos meses como impacto desse novo status.
Com o reconhecimento, o setor agropecuário local tem como certa a abertura de novos mercados internacionais que prezam pela qualidade da carne e pagam melhor pelo produto que tenha a garantia da Organização Mundial da Saúde Animal.
Gomes, que é coordenador do curso de Economia da Universidade Federal do Acre (Ufac), explica que como o Real está muito desvalorizado em relação ao Dólar, o mercado internacional fica ainda mais atrativo para o produtor.
“Se a moeda brasileira se desvaloriza perante a americana, quem produz e vende carne para fora vai ganhar mais Real comercializando a mesma quantidade do produto. Para que seja vantajoso vender no mercado interno, que paga em Real, e não em Dólar, o preço da carne tem que subir. Então isso é uma coisa que vai acontecer”, garante o especialista.
Ele afirma ainda que ou o preço do alimento sobe ou haverá escassez do item no mercado local, uma vez que o produtor sempre guia sua oferta a quem garante a ele o melhor ganho.
Outro fator que colabora para o “inevitável” aumento do preço é que o Acre, do ponto de vista da carne, é uma pequena economia exportadora, com a lógica de comércio projetada para compradores de fora. Isso faz com que o valor do produto se guie de acordo com mercados importadores. Como a carne do Acre vai acessar paladares mais exigentes após o selo de zona livre de aftosa sem vacinação, a tendência é que o alimento encareça ainda mais.
A demanda da gigante China por proteína animal é outro motivo para o aumento no valor da carne, segundo Rubicleis. “A procura crescente da China significa que o preço no mercado interno vai aumentar”.
O professor diz ainda que não haverá limites para reajustes do valor do produto no comércio local. “Do ponto de vista do consumidor, o impacto desse selo da Organização Mundial de Saúde Animal vai ser extremamente negativo. Se o preço da carne já estava alto, vai aumentar mais ainda. Para quem produz, é uma ótima notícia, mas para quem consome é péssimo. O mercado da carne acreana agora não vai ser mais o nosso mercado local. Vai ser o mundo. E o mundo paga em dólar”.