Pesquisa realizada pela empresa Ticket, de benefícios de refeição e alimentação, aponta que três em cada dez brasileiros deixaram de realizar check-ups ou consultas após o início da pandemia. Esse resultado foi divulgado em fevereiro passado.
Cerca de um terço dos pesquisados revelou ter diminuído as idas em consultas preventivas e 28% não compareceram a exames de prevenção. Os entrevistados explicaram que deixaram de ir a clínicas, ambulatórios, Unidades Básicas e Saúde (UBS) e consultórios médicos, com receio de se contaminarem com o coronavírus.
A pesquisa também apontou que mesmo aqueles que têm planos de saúde e benefícios em saúde das empresas onde trabalham abandoraram as consultas e não pensam em retornar logo. Até pessoas em tratamento e com doenças pré-existentes não compareceram mais no acompanhamento médico de suas enfermidades.
Para se ter uma ideia de como esse quadro é preocupante, dados das empresas associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) mostram que houve uma queda de 46,4% no número de exames de mamografias realizados no Brasil, entre março e agosto de 2020, se comparado ao mesmo período do ano anterior.
No Sistema Único de Saúde (SUS) a realidade não é diferente. A queda de mamografias foi de 27%. Em 2019, de janeiro a junho, na rede pública foram feitas 180.093 mamografias. Nesse mesmo período do ano passado, o número de mamografias caiu para 131.617, de acordo com dados da Abramed.
O medo de contrair o vírus é o principal motivo dessas desistências, ainda mais em tempos no qual a recomendação é de isolamento social. No entanto, sem as consultas, como saber se está tudo bem com a saúde? Tomando os devidos cuidados, com uso de máscaras adequadas e higienização constante, o ideal é voltar às consultas médicas o quanto antes, ainda mais que as outras doenças não deixaram de acontecer em razão do coronavírus.
Check-up anual: a importância dele para a sua saúde
Hemograma, eletrocardiograma, ressonância e tomografia computadorizada podem dizer muito sobre a nossa saúde. Esses exames, geralmente, compõem o check-up completo recomendado pelos médicos para detectar possíveis alterações no organismo. A avaliação, feita de forma rotineira a cada ano, pode identificar problemas em estágio inicial. É por meio do check-up que doenças silenciosas, como diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer, são encontradas, tratadas e controladas
Na ressonância, o médico consegue analisar problemas cardíacos e aqueles que atingem a região abdominal e cervical, por exemplo. O exame ajuda a diagnosticar casos de origem ortopédica e até neurológica. Já a tomografia computadorizada auxilia a visualizar pequenos indícios de que algo não vai bem, como tumores, fraturas e lesões.
Dar conta de todos esses exames pode ser cansativo para o paciente em um primeiro momento. Porém, são exames simples que, em sua maioria, oferecem inúmeros benefícios e não devem ser negligenciados, nem mesmo com uma pandemia acontecendo.
Check-up: um cuidado que começa na infância
A recomendação dos médicos é que os exames preventivos sejam feitos, pelo menos, uma vez ao ano. Contudo, o check-up é um hábito que precisa ser estimulado no indivíduo ainda na infância. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o número de visitas ao pediatra varia conforme a idade da criança.
De forma geral, recém-nascidos devem fazer pelo menos três consultas no primeiro mês de vida. Em sequência, até os 6 meses de idade, a frequência pode ser mensal, passando para bimensal a partir dos 7 meses. Após os 2 anos, são indicadas consultas trimestrais. Depois dos 6 anos, as mesmas devem ocorrer a cada semestre e, a partir dos 7 anos, uma vez ao ano é suficiente caso a criança não apresente nenhum problema crônico ou pontual.
Para ajudar os pais que estejam receosos em levar os filhos ao médico neste período de pandemia, a SBP autorizou o uso da telemedicina em caráter excepcional para reduzir a circulação de pessoas nos consultórios. As consultas realizadas via internet devem obedecer as diretrizes do Conselho Federal de Medicina e do Ministério da Saúde.
Para os pediatras, a orientação é que tenham bom senso e visão crítica para o diagnóstico preciso e para a indicação de tratamento adequado, mesmo com o atendimento sendo feito de forma virtual. A telemedicina é uma prática que se tornou realidade para evitar a interrupção das consultas.
Vacinação apresentou queda durante a pandemia
Além da diminuição no agendamento de consultas médicas no último ano, o Brasil registrou queda no número de crianças vacinadas. O Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI) estima que houve redução entre 60% e 70% na cobertura vacinal após o início da pandemia.
O que preocupa as entidades médicas é que, nesse estágio da vida das crianças, são administradas vacinas importantes para o desenvolvimento delas, que garantem proteção a doenças como hepatite B, poliomielite, tuberculose e sarampo, por exemplo.
Nos últimos cinco anos, os dados da SBI já apontavam um declínio crescente no número de imunizados, mas nada comparado ao que foi registrado a partir de março de 2020.
Além do medo de se expor e acabar contaminando a criança com a Covid-19, muitos pais acreditam que as vacinas não são tão importantes, pois algumas doenças estão praticamente erradicadas. Assim não se sentem ameaçados e acabam não dando importância ao calendário vacinal.