Indígena do AC fala sobre desafio em projeto do Ministério do Meio Ambiente: “Serviço não é só para indígenas”

No rosto, traços marcantes, característicos dos povos indígenas do Estado. Nas veias, o sangue de quem luta, todos os dias, dentro e fora do país, representando o seu povo e honrando as suas origens. E, no peito, um coração que pulsa amor, pela preservação dos recursos naturais, pela defesa da Amazônia e pela vida no planeta. No Dia Mundial do Meio Ambiente (5), a reportagem do ContilNet Notícias conversa com Francisca Arara, acreana convidada para integrar o Comitê Consultivo do Projeto Piloto FLORESTA+, presidido pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA).

O grupo terá como uma de suas missões reunir-se, periodicamente, com representantes do Ministério do Meio Ambiente e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para recomendações, deliberações e acompanhamento das atividades. O Comitê Consultivo do Projeto conta com a participação de representantes do governo, da sociedade civil organizada e de entidades de classe.

Gladson Cameli com Francisca. Foto: Arquivo da Agência Acre/Secom

No Acre, o Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC) é responsável pela coordenação técnica do Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA) que, como o próprio nome sugere, incentiva serviços ambientais no Acre.

Ela conta que tudo começou com uma simples troca de experiências. “O Acre tem um conjunto de políticas voltadas à questão do serviço ambiental e do meio ambiente e eu comecei a participar nesta pauta nacional para contar um pouco da experiência”.

Francisca Arara também preside o Comitê Regional para Parcerias dos Estados com os Povos Indígenas e Comitê Regional para Parcerias com Povos Indígenas e Comunidades Locais, da Força Tarefa dos Governadores sobre o Clima e Florestas (GCF).

Francisca Arara também preside o Comitê Regional para Parcerias dos Estados com os Povos Indígenas. Foto: Arquivo da Agência Acre/Secom

Conheça um pouco mais da sua trajetória:

ContilNet: Como essa luta pelos povos indígenas, pelo meio ambiente e pelo planeta como um todo começou?

Francisca Arara: Tudo começou por conta da minha experiência com um programa de Gestão Territorial e Ambiental aqui no estado do Acre, com o trabalho indígena, com a criação da política do sistema de incentivo de Serviços Ambientais do SISA, a continuação da política da salvaguarda dos princípios de colaboração aqui no estado do Acre.

O Acre tem um conjunto de políticas voltadas à questão do serviço ambiental e do meio ambiente e eu comecei a participar nesta pauta nacional para contar um pouco da experiência.

Hoje, são 36 terras indígenas no estado do Acre. Dessas 36 terras indígenas, 29 têm seus planos de gestão. No total, são 192 agentes florestais que atuam nessa área; 14% do território acreano é terra indígena.

Qual o seu papel hoje nessa luta? Pode nos contar um pouquinho mais sobre a complexidade do trabalho que você desenvolve?

Tenho um papel muito importante na preservação e na conservação das florestas. Por conta disso que a gente entra nessa política de gestão territorial e ambiental por conta de toda essa expertise na nossa experiência, hoje eu faço parte também do comitê global para parceria com povos indígenas e populações tradicionais e também componho um comitê regional aqui no Brasil e, recentemente, passei a fazer parte do comitê construtivo dentro da Projeto Floresta mas também participando do grupo de trabalho de salvaguarda do Inea.

Então, há toda uma trajetória na base na construção da Política de Gestão Territorial e Ambiental no Estado do Acre. Não é fácil. Porque eu como mulher indígena dominar esses temas requer muita experiência de trabalho; então por nosso território ter um papel importante na no estoque de carbono, a gente tem levado essa nossa experiência para o mundo.

Você percebe que a comunidade, como um todo, entende a importância disso? Você teme os impactos ambientais no futuro?

Nós prestamos um serviço porque mantemos a floresta em pé, mas na floresta tem gente que precisa viver, ali, usando a tecnologia, fazendo uso sustentável dos seus territórios, não desmatando, cuidando do seu território como um todo. Prestamos esse serviço não só para os povos indígenas, mas para o planeta.

Cuidar do meio ambiente, preservar o meio ambiente é cuidar de vidas. A floresta para nós é vida porque é dali que nós tiramos o nosso sustento: água, ar para respirar, a biodiversidade como um todo. Então eu acho que se o homem repensar o seu jeito de usar a floresta, com planejamento, com sabedoria, a gente está ajudando a diminuir as mudanças do clima, o aquecimento global porque isso está afetando direta e indiretamente os povos indígenas.

Mesmo a gente cuidando mantendo a floresta em pé a gente tem sentido os efeitos das mudanças do clima no nosso território; tem afetado com a mudança de chuva, mudança da friagem. Que o desenvolvimento que se pensa? Um desenvolvimento que vai acabar com um planeta? Que vai continuar poluindo o nosso planeta? Eu acho que o homem tem que pensar sua forma; desenvolver, mas de uma forma organizada.

Você está feliz com os novos desafios e o trabalho que vem sendo feito pelo Governo do Acre?

É cultural do estado do Acre esse diálogo forte com os povos indígenas, de fazer a consulta para qualquer tomada de decisão naquilo que se refere aos povos indígenas. A minha luta hoje dentro do governo é fazer com que isso não se perca essa essência porque o Acre e o Brasil precisam entender que a participação dos povos indígenas nessas políticas de gestão territorial, serviços ambientais ambientais, de reparação de benefício, da consulta livre prévia informada é a menina dos olhos dos financiadores de fora, da Noruega, do KfW. Eu acho que a transparência da governança precisa ser vista e fortalecida cada vez mais.

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