Além dos casos assintomáticos, que dificultavam a identificação e consequente controle da transmissão, os maiores desafios vinham das condições precárias em que algumas populações viviam, especialmente as ribeirinhas: sem saneamento básico nem luz elétrica, casas cobertas de palha e mal vedadas.
Todo esse trabalho, destaca o professor Erney Camargo, não teria sido possível sem a colaboração do ICB, dos pesquisadores do Departamento de Parasitologia, da população local e dos dirigentes políticos da região. “Para Hilderbrando e para mim, o grande marco foi a realização de uma tarefa que nós herdamos do professor Samuel Pessoa: usar a ciência a serviço da população. Isso foi muito importante para nós”.
Presença consolidada – A atuação do Instituto se estendeu ao atendimento de pacientes com doenças tropicais. Sob a coordenação do médico e professor Luís Marcelo Aranha, foi criado o ICB V, um Centro Avançado de Ensino, Pesquisa e Extensão localizado na cidade de Monte Negro, em Rondônia. Hoje, além de prestar serviços à população, as instalações são dedicadas ao ensino de alunos de graduação e pós-graduação do ICB e de outras unidades da USP.
Outro estado que recebeu os pesquisadores do ICB foi o Acre, inicialmente no município de Acrelândia, em 2004, que tinha a maior Incidência Parasitária Anual (IPA) do estado. Coordenados por Marcelo Urbano Ferreira, os pesquisadores investigaram as causas da perpetuação da malária e trabalharam formas de controlar a doença. A IPA, que era 104,2, hoje está em 3,0. Posteriormente, foi instalado em Cruzeiro do Sul um Laboratório Avançado voltado para o estudo da malária em comunidades urbanas e rurais.
Lá, o ICB-USP abriu uma nova linha de pesquisa, inédita no Brasil, sobre os impactos da malária na gestação, sob a liderança do professor Cláudio Marinho. Os estudos mostraram que não só a malária falciparum, tipo mais agressivo, mas também a malária vivax deve ser motivo de preocupação na gravidez e pode prejudicar tanto a mãe quanto o feto. A equipe estuda desde o modelo animal até o ser humano e busca medicamentos e testes para tratar e descobrir efeitos da malária nos fetos precocemente.
“O livro retrata histórias de desbravadores e idealistas que vislumbraram um futuro melhor para as pessoas, a instituição e o país. Uma história que inspira a todos que a conhecerem, sobretudo aqueles que darão continuidade a essa missão”, ressalta na apresentação da obra o professor Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB.