“Mais 600 empresas querem entrar em Rondônia”, revela governador Marcos Rocha

Já se passaram dois anos e meio desde que os rondonienses estão sob a liderança do governador Marcos Rocha, atualmente sem partido. De lá pra cá, muita coisa aconteceu em Rondônia. O gestor, assim como os demais chefes do poder Executivo brasileiro, teve a infelicidade de enfrentar uma pandemia mortal com apenas um ano de gestão, sendo este, provavelmente, o maior desafio de sua carreira profissional de mais de três décadas.

No entanto, apesar do coronavírus, Rondônia, ao contrário de outros estados, não interrompeu o ciclo de crescimento que vem experimentando de forma notável nos últimos anos. Pelo contrário. Rocha, que nasceu no Rio de Janeiro, mas se naturalizou rondoniense, intensificou os investimentos nas potencialidades do estado e vem colhendo os bons frutos.

Em 2019, o estado gerava R$ 7 bilhões em negócios agrícolas. Hoje, esse número quase triplicou. Quando assumiu o governo, ainda filiado ao PSL, partido que, na época, também abrigava o presidente Jair Bolsonaro, Marcos pegou as contas públicas em déficit. Muitos tinham como questão de tempo o colapso na folha de pagamento dos servidores. Porém, o governador não só conseguiu honrar com suas obrigações, como deixar adiantada parte dos gastos referentes ao funcionalismo público.

Além disso, o estado recebeu do Ministério da Economia a classificação de confiabilidade econômica mais alta, a triplo A, como resultado da solidez fiscal. E a resposta a isso veio em forma de investimentos. Segundo Rocha, cerca de 600 empresas procuraram o governo com a intenção de se instalarem em Rondônia.

Marcos Rocha em seu gabinete, na capital de Rondônia/Fotos: Wania Pinheiro/ContilNet

Em entrevista exclusiva ao ContilNet, o governador, que já foi coronel da Polícia Militar e secretário de Justiça, explica o segredo da façanha e fala sobre como tem lidado com a pandemia de coronavírus, que já matou quase 6 mil pessoas no estado. Confira:

ContilNet – Como está o estado de Rondônia hoje?

Marcos Rocha – O estado de Rondônia, quando nós assumimos, foi recebido por mim com necessidade de R$ 420 milhões para poder funcionar. Todos os meios de comunicação falavam que nós não conseguiríamos quitar a folha de pagamento, que ficaríamos três meses, no máximo, pagando a folha e, posteriormente, os servidores ficariam sem salário. E isso era uma realidade. Para a gente poder resolver essa questão, precisávamos cortar gastos para manter pelo menos a folha de pagamento e honrar os profissionais das várias áreas do estado. Então nós cortamos contratos, viagens, tudo o que se podia cortar. Inicialmente, isso deu um equilíbrio, ainda que menor, de R$ 90 milhões. Esse valor permitiu que continuássemos pagando a folha e aí isso foi melhorando ao longo do tempo. Ocorre que em 2019 nós concluímos o pagamento da folha, sem nenhum tipo de empréstimo ou atraso. Pelo contrário, antecipamos algumas folhas, alguns dias de pagamento, inclusive o 13º de 2019. Outra notícia boa é que em 2020 entramos em um superávit de mais R$ 300 milhões. Eu estava muito feliz porque faríamos todas as ações necessárias: asfaltamento, melhorias das escolas, aumentar salários dos servidores… Mas aí veio a pandemia em 2020 e tirou o tino não só de Rondônia, mas do Acre, Amazonas, do Brasil inteiro, do mundo inteiro. Mas nós permanecemos com esses recursos para poder apoiar a população.

Rondônia tem crescido muito nos últimos anos…

Sem dúvidas. Recebemos do Ministério da Economia classificação triplo A. Isso significa solidez fiscal. Nós temos 600 empresas que nos procuraram querendo entrar no estado. Isso é bom. Além disso, tanto Rondônia quanto o Acre conseguiram, internacionalmente, o selo de áreas livres de aftosa sem vacinação, ou seja, nosso gado pode ser vendido também para o mercado europeu. Somos o estado com a maior transparência do Brasil. Em 2017, gerávamos R$ 7 bilhões em negócios na área da agricultura. Três anos depois, geramos R$ 19 bilhões. Esse desenvolvimento é graças à tecnologia e a outras ações que o estado tem desenvolvido no sentido de apoiar a nossa agricultura familiar e também o agronegócio.

Como o senhor avalia seu governo durante a pandemia?

Aqui em Rondônia nós não fizemos lockdown, não fizemos paralisação total. As pessoas confundem o que são regras e o que é paralisação total. Nós criamos regras de 30%, 50% e 70% de utilização dos locais por fases. Então nos locais onde estamos sem leitos de UTI disponíveis ou com 90% dos leitos comprometidos, a gente entra na fase 1 e reduz para 30% a ocupação dos espaços. Hoje acredito que nós vamos começar a sair da fase 1 e entrar na 2, que é mais tranquila e permite que se aumente o número de pessoas nos locais. Rondônia, infelizmente, é um dos estados que mais perdeu vidas, apesar de todas as ações, apesar da compra de um hospital, apesar de tudo. Então todo cuidado é pouco e a gente precisa adotar as medidas necessárias.

É verdade que o senhor comprou um hospital todo equipado, com usina de oxigênio, por menos da metade do preço do que iria custar a construção de outro?

Exatamente. Ao invés de levantar um hospital de campanha de lona e madeirite, custando R$ 22,8 milhões, com 100 leitos, nós acabamos comprando um hospital de alvenaria por R$ 12 milhões, ou seja, muito mais em conta do que o valor de um que já estaria estragado nesse momento, até pelas intempéries que a gente tem aqui na nossa região. Então nós compramos um de alvenaria com praticamente 176 leitos montados, com UTIs, tudo bonito. Um hospital que foi reformado, com leitos novos construídos pela própria empresa, estacionamento de mil m², com usina própria de oxigênio. Tínhamos tudo o que precisávamos nesse hospital e ali milhares de pessoas foram curadas. Ele tem funcionado muito bem até hoje e nós o chamamos de Hospital de Campanha. Temos um hospital aqui, que é o João Paulo II, que já tem uma defasagem de 40 anos de existência. Então a estrutura dele já não suporta mais. Então nós precisávamos construir um de qualidade e que atendesse a população. E nós estamos para construir, acredito que a partir de agosto, um novo hospital que vai atender a população do estado inteiro, com 399 leitos, com todos os serviços necessários que vão existir dentro dele, como tomografia, ressonância magnética, oftalmologia.

Qual foi o apoio que o governo federal deu para Rondônia durante a pandemia?

O governo federal teve essa parceria muito importante, a começar pelo auxílio emergencial de R$ 600. Esse valor acabou permitindo que a máquina girasse, que as pessoas pudessem manter a aquisição de seus produtos alimentícios e que os comércios continuassem funcionando. Além disso, o governo federal encaminhou também recursos para serem utilizados na pandemia especificamente, algo em torno de R$ 230 milhões. E esses recursos foram utilizados para aquisição de máscaras, insumos, seringas, medicamentos, tudo o que pudesse ser utilizado no combate à Covid-19. O governo tem sido parceiro porque também encaminhou a Rondônia respiradores, em um momento que teoricamente o estado ficaria sem oxigénio. Então o governo sempre esteve alinhado, encaminhando agora as vacinas para permitir que a nossa população fique com a saúde adequada.

Como está a questão da vacinação aqui?

Em Rondônia, a preocupação é fazer com que os nossos prefeitos apliquem a vacina e que a população busque. Porque os prefeitos querem, mas uma parte da população não tem buscado a vacinação, tem resistido. Então a gente tem aplicado as dosagens que estão chegando, aparentemente pequenas, mas a gente tem que observar também que as prefeituras ainda têm vacinas a serem aplicadas, então o imunizante vem chegando e as que o governo federal tem encaminhado têm sido suficiente para atender a demanda.

O que a Ponte do Abunã significa para Rondônia? Ela vai melhorar a economia do estado também ou ela vai ser benéfica apenas para o Acre?

O governador Gladson Cameli disse que a ponte era do Acre e eu brinquei que ela começa e termina em Rondônia. Mas ela é importante para o Acre também, porque ele passa a ter contato com os demais estados do Brasil por via terrestre sem precisar de balsa. Para Rondônia é importante porque abre o caminho para o mercado do Pacífico. Nós sempre buscávamos um bom caminho aqui dentro do estado para poder atender essa rota do Pacífico. Então agora ficou bom para Rondônia e ficou bom para o Acre. A ponte é importante para os dois estados. Por isso que até na minha rede social eu trabalhei de forma não egoísta e citei o governo do Acre na hora de agradecer ao governo federal. O máximo que eu fiz foi pedir para que a ponte acontecesse, assim como eu tenho pedido pela BR-319, que é uma estrada federal, e o ministro [da Infraestrutura] Tarcísio [de Freitas] também está trabalhando nisso. E estou pedindo também pela duplicação da BR-364, que sai lá de Mato Grosso e entra no Acre.

O senhor tem uma relação muito boa com o senador Márcio Bittar (MDB-AC). Como começou? O senhor já o conhecia?

Eu conheci o senador Márcio Bittar em uma agenda no Peru. Nós estávamos em busca de melhorias. E passamos a conversar e dialogar também no próprio Senado. Eu estive conversando com ele em outros momentos e percebi que a fala dele é muito parecida com a minha. A questão do desenvolvimento, a vontade de fazer com que os nossos estados se desenvolvam. O estado tem que ser pequeno e as empresas têm que crescer. A população precisa se fortalecer, mas ela só se fortalece a partir do momento em que as empresas se fortalecem, gerando emprego e renda. Teve um momento que eu falei pra ele: “senador, a sua fala é muito parecida com a minha, é exatamente o que eu digo”. E aí, logicamente, quando as pessoas pensam parecido a gente acaba criando com maior facilidade uma amizade. O senador Márcio Bittar tem um pensamento parecido também com o do presidente Bolsonaro, no sentido de trazer o desenvolvimento para o nosso país. Eu tenho até o senador Márcio Bittar como senador de Rondônia. Eu falei para ele: “senador, porque o senhor não muda seu local político e vem ser senador por Rondônia? Eu lhe dou apoio”. Aí ele riu e disse que a vida dele é no Acre mesmo, mas agradeceu e ficou extremamente honrado. Isso o que eu falei é uma demonstração do carinho e admiração que eu tenho por ele.

O senhor vai ser candidato à reeleição? Acha que vai ter algum adversário forte?

Vários candidatos devem surgir. A gente tem ideia de alguns nomes que parecem que já estão trabalhando com a questão política. Vou ser sincero: eu temo muito a Deus, então eu vou fazer aquilo que Deus quer para minha vida, mas se eu tiver de ir para a reeleição tudo vai corroborar para isso, mas se eu não tiver que ir para a reeleição eu estou em paz também. Eu fui eleito governador primeiro por Deus e segundo pelo presidente Bolsonaro, que citou meu nome e fez campanha para mim, assim como eu fiz para ele, então eu sou extremamente leal a ele. A população também atendeu e hoje eu tenho demonstrado em todos os momentos que a gente pode trabalhar corretamente, sem o toma-lá-dá-cá. Eu estou com uma Assembleia Legislativa maravilhosa, extremamente aliada em todos os projetos que eu tenho encaminhado.

Quais são as grandes obras que o senhor tem para essa reta final do mandato?

Nós lançamos um projeto bastante interessante. Eu já morei em rua sem asfalto e eu sei como é ruim porque a cortina fica marrom, a casa fica com pó em cima dos móveis aí dá alergia nas crianças. Não é assim? Apresentei o projeto “Tchau, Poeira”, voltado para asfaltamento de vias municipais. Poderíamos ter usado esse recurso em alguma outra obra para atender especificamente o governo, mas optamos por levar esse serviço àqueles que realmente necessitam, que acreditaram em mim, votaram em mim. Então independente do prefeito em si, se é oposição ou não, eu não estou preocupado com isso. Estou preocupado com o João, a Maria, o José e o Pedro, que precisam da atenção do poder público. Se a prefeitura não está conseguindo fazer por motivos vários, eu decidi entrar com recursos para atender a população. São R$ 300 milhões do governo do estado que nós vamos aplicar nos 52 municípios. Em vários deles nós já começamos o trabalho. Há uma contrapartida dos prefeitos, que precisam fazer o projeto, a drenagem e as sinalizações verticais. Todo o resto é com a gente.

O que é o projeto Governo na Cidade?

Nós também lançamos o projeto “Governo na Cidade”, para que possamos fazer praças e melhorias das vias e locais de ginástica, para que as crianças possam brincar. Eu estava em um distrito aqui em Porto Velho e nós fizemos uma praça com grama sintética e um local para corrida em volta. Eu estava lá à noite e aí vi o local iluminado, com os pais passeando de mãos dadas e as crianças brincando na quadra. Parece até que a gente voltou no tempo, vendo como era antigamente. Daí eu vi que aquela é uma boa obra, então decidi lançar o “Governo na Cidade” para que possamos replicar aquela situação em outros municípios. Além disso, nós lançamos o “Governo no Campo”, que é um recurso que estamos usando para que os nossos produtores rurais possam ter uma ajuda com o curral, com o galinheiro, com as vias de dentro para poder fazer a agricultura familiar. Lançamos ainda outro programa, que é o de microcrédito. Enquanto os bancos fazem financiamento com taxa de juros de 4%, nós fizemos esse financiamento com 0,33% e com prazo de carência para que as pessoas possam pagar. Então aqueles que tiveram dificuldade financeira na pandemia, que demitiram funcionários, vão poder pegar esse empréstimo quase de graça.

Rocha: “Enquanto os bancos fazem financiamento com taxa de juros de 4%, nós fizemos esse financiamento com 0,33%”/Fotos: Wania Pinheiro/ContilNet

Alguma ação voltada ao social?

Sim. Lançamos o programa AmpaRO, parecido com o que governo federal fez. Ao invés de passar cestas básicas à população, preferimos pagar R$ 200 para complementar os R$ 600 do auxílio emergencial. Tivemos de fazer uma redução agora em janeiro, mas mantivemos até esse mês de junho e a população vai receber R$ 100. Além disso, nós também pegamos a merenda escolar que as crianças não estão usufruindo nas escolas, em virtude de as aulas estarem online, e criamos o cartão Merenda Escolar para aquela comida complementar a alimentação da família. Temos outro projeto muito importante que é o “Prato Fácil”. Em Porto Velho tem um restaurante popular com alguns problemas de infraestrutura, mas não seria barato resolver esse problema. Então decidimos fazer o seguinte: ao invés de você atender a população em um único local, atendemos em vários pontos da cidade. Foi aberto o processo licitatório os restaurantes que hoje já existem puderam fazer a adesão ao programa para atender pessoas que são cadastradas no CAD Único, ou seja, que têm uma renda pequena e necessitam desse apoio. Então essas pessoas pagam R$ 12 pela alimentação e a complementação desse valor é feita pelo governo do estado.

*****

Saiba mais sobre o governador Marcos Rocha

**Coronel Marcos Rocha, nascido em 3 de agosto de 1968 no Rio de Janeiro (RJ), é casado com Luana Oliveira Santos e pai de quatro filhos.

**É formado em análise de sistema de dados, administração de negócios, e pós-graduado em educação e técnicas de ensino.

**Ingressou como Oficial do Exército Brasileiro em 1986.

**Em 1990 foi aprovado no concurso para Oficial da Polícia Militar de Rondônia como aspirante.

**Foi chefe do Centro de Inteligência da PM/RO e atuou no desenvolvimento de atividades na cidade do Rio de Janeiro que auxiliaram na execução dos Jogos pan-americanos de 2007.

**Foi subdiretor de Ensino da PM.

**Foi vice-diretor militar do Colégio Tiradentes.

**Foi diretor-geral do Colégio Tiradentes.

**Foi secretário municipal de Educação de Porto Velho.

**Foi secretário estadual de Justiça.

PUBLICIDADE