Sommeliers’ de vacina contra Covid-19 erram análise de eficácia, ignoram efetividade e atrasam combate à pandemia

Quando Jorge, de 86 anos, morreu de Covid-19, em abril, os familiares lamentaram que o pai tenha seguido o mesmo caminho do filho, João, morto em 2018. O filho, de 38, também foi vítima de um vírus, mas em seu caso, o da febre amarela. Moradores de Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, pai e filho compartilhavam a aversão por vacinas (os nomes foram inventados a pedido da família).

O filho se recusava a tomar porque achava uma “bobagem”. O pai porque não confiava na CoronaVac, a “vacina chinesa”, a única disponível no Brasil, quando a faixa etária dele foi vacinada, em fevereiro. Preferia esperar outro imunizante. O coronavírus chegou primeiro.

Histórias como essa se repetem todos os dias no Brasil. Elas assombram os leitos de UTI ocupados pelos não vacinados por opção. E se multiplicam nos que postergam a vacinação para escolher um imunizante. São os ‘sommeliers” de vacina. Chegam na frente dos postos, perguntam quais são os disponíveis e saem ao não ouvir o nome do que buscam.

— Não se vacinar por opção quando chegou a sua hora, é brincar com a morte. Não vejo vacina matando, mas o coronavírus já tirou a vida de meio milhão de brasileiros — afirma Amílcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Tanuri liderou um estudo que evidenciou a força da CoronaVac, vacina que alguns dos “sommeliers” consideram “fraca”. Em Maricá (RJ), onde 40% dos habitantes foram vacinados, 25% dos quais com duas doses, a vacinação reduziu à metade da incidência geral do coronavírus entre maio e junho. Lá a CoronaVac responde por dois terços dos vacinados e a AstraZeneca, pelo restante.

Os detratores de CoronaVac, em geral, preferem a vacina da Pfizer/BioNTech, atraídos pelo mau entendimento sobre índices de eficácia. Já outros fogem da mesma Pfizer, com medo injustificado de manipulações genéticas, na linha do “vai virar jacaré”, proferido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Há os que temem efeitos adversos da Oxford/AstraZeneca e da recém-chegada Janssen/J&J, que precisa de uma só dose. Os cientistas têm certeza de que o Brasil conta hoje com quatro diferentes vacinas e o mesmo resultado: todas se mostram seguras (efeitos adversos raros) e eficientes (redução das taxas de doença grave e morte nos vacinados). Igualmente importante: todas também têm se provado eficazes contra as variantes do vírus.

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