Nesta terça-feira, dia 25, a greve dos Correios completa uma semana. E, de acordo com uma publicação feita pela Federação Nacional dos trabalhadores em Empresas de Correios e Similares (Fentect), a paralisação deve se intensificar nos próximos dias.
Após reunião realizada no último sábado, dia 22, a Fentect e os sindicatos filiados optaram pela ampliação do movimento e a continuidade da greve. A decisão foi tomada em resposta à posição do Supremo Tribunal Federal (STF) em suspender o acordo coletivo firmado com os funcionários da estatal.
Inicialmente, o acordo teria um prazo de vigência de um ano, com término marcado para o dia 31 de julho de 2021. Mas, segundo a Fentect, com a revogação foram retiradas 70 cláusulas que previam alguns direitos aos funcionários, como:
- 30% do adicional de risco;
- Vale-alimentação;
- Licença maternidade de 180 dias;
- Auxílio-creche;
- Indenização de morte;
- Auxílio para filhos com necessidades especiais;
- Pagamento de adicional noturno; e
- Horas extras.
“Ficou decidido que essa semana sindicatos e funcionários devem buscar ampliar o número de trabalhadores na greve, além de intensificar a realizações de atos de mobilização”, declarou a Federação.
Fentect quer discutir privatização com a Câmara e o senado Federal
A Fentect também planeja a criação de uma agenda com os presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, Rodrigo Maia e David Alcolumbre, para discutir a greve. Além disso, também entrará na pauta a luta contra a privatização dos Correios, uma das reivindicações da categoria que motivaram a paralisação.
Em resposta ao Jornal Extra, o diretor da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect), Douglas Melo, acusou os Correios de negligência:
“Essa greve é causada pela negligência e pela falta de diálogo do presidente dos Correios, general Floriano que, em plena pandemia e com a empresa lucrando R$ 460 milhões no primeiro semestre do ano, propõe a retirada de 70 cláusulas do acordo coletivo e não respeita a decisão do Tribunal Superior do Trabalho”, disse.
Pedro Santana, diretor de Comunicação do Sindicato de Trabalhadores dos Correios (Sindect), no Rio de Janeiro, destacou os prejuízos que a revogação do acordo trazem para a vida dos trabalhadores.
Segundo ele, o desconto relativo ao pagamento do auxílio-alimentação, entre outras mudanças, representam R$4.800 a menos para cada trabalhador ao fim de um ano inteiro.
“A empresa teve que utilizar gestores e funcionários do administrativo para entregar encomendas no fim de semana. Nós não queríamos a greve, mas não há outro caminho. Mães que têm filhos especiais e eram reembolsados por parte do tratamento psicológico deles, por exemplo, perderam isso. Elas estão desesperadas”, apontou ao Jornal Extra.
Correios se manifesta sobre greve dos trabalhadores
Na última segunda-feira, dia 24, os Correios também se manifestaram sobre a greve. Por meio de uma nota publicada em seu site, a estatal comenta a greve e quais iniciativas estão sendo tomadas para a manutenção dos serviços em meio a paralisação dos trabalhadores.
Nesse momento, a empresa conta com o reforço de empregados da área administrativa e de veículos extras, entre outras iniciativas que integram o plano de continuidade da estatal.
De acordo com os Correios, o ritmo das entregas prossegue durante a semana, de forma a manter a qualidade operacional e minimizar o impacto aos clientes, durante a paralisação parcial dos empregados.
Além disso, a empresa informou que “têm preservado empregos, salários e todos os direitos previstos na CLT, bem como outros benefícios dos empregados”.
A estatal ainda ressaltou que a paralisação, em meio à pandemia do novo Coronavírus, traz prejuízos financeiros não só aos Correios, mas a inúmeros empreendedores brasileiros.
A greve, segundo eles, também afeta a imagem da instituição e de seus empregados. No fim da nota a empresa informava sobre a expectativa de que os funcionários que aderiram ao movimento voltassem ao trabalho ainda na segunda-feira, dia 24.
Para Fentect, retirada de benefícios é uma estratégia do Governo rumo a privatização dos Correios
Na última semana, a Fentect já havia publicado uma nota anunciando a greve e criticando a decisão de revogar o acordo coletivo com os profissionais da categoria.
O secretário geral da Fentect, José Rivaldo da Silva, avaliou que a retirada de direitos e a precarização da empresa é uma das estratégias do Governo Federal e da direção dos Correios para a privatização.
“O governo busca a qualquer custo vender um dos grandes patrimônios dos brasileiros, os Correios. Somos responsáveis por um dos serviços essenciais do país, que conta com lucro comprovado, com áreas como atendimento ao e-commerce, que cresce vertiginosamente, e funciona como importante meio para alavancar a economia. Privatizar é impedir que milhares de pessoas possam ter acesso a esse serviço nos rincões desse país, de Norte a Sul, com custo muito inferior aos aplicados por outras empresas”, declarou.
No fim de maio o presidente Jair Bolsonaro, em transmissão pelas redes sociais, afirmou que os Correios está entre as possíveis empresas públicas que vão entrar no roll da desestatização pretendida pela equipe. Porém, o governo espera avançar com essa agenda após o fim da pandemia.
Na ocasião, Bolsonaro também comentou sobre a dificuldade de aprovar a pauta no Congresso Nacional: “Estamos sim buscando privatizar muita coisa, mas não é fácil. Tem empresas que obrigatoriamente passam pelo Congresso, vai ter reação”, disse.
O presidente ainda citou que estatais consideradas estratégicas, não serão vendidas. Entre elas: Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o “núcleo” da Petrobras e a Casa da Moeda.