Estreou no Giro do Boi desta sexta-feira, dia 13, nova temporada da série especial Embrapa em Ação. A equipe de reportagem do Giro do Boi viajou desta vez até a Região Norte para saber mais detalhes sobre a condução das pesquisas pela Embrapa Acre, sediada na capital Rio Branco.
A parceria com os pecuaristas, que abrem suas porteiras para a validação de novas tecnologias, é um dos destaques da atuação da unidade.
É por meio deste sistema que estão sendo encontradas soluções que aumentam a produtividade do setor, superando adversidades como encontrar cultivares de capins que se adaptam bem ao encharcamento de solo, saídas para a dificuldade de logística de insumos que servem à intensificação da bovinocultura e também formas para reduzir a pressão sobre a floresta.
“Aqui nos estamos na unidade da Embrapa Acre, é um centro ecorregional de pesquisa, o que significa que a nossa carteira de projetos, digamos assim, é bem diversificada. Nós organizamos a nossa pesquisa em quatro grupos, que é a (I) produção animal sustentável, (II) produção florestal, (III) fruticultura e plantas agroindustriais e (IV) solos e agricultura. Focado mais na parte de pecuária, nós temos o grupo de pesquisa em produção animal sustentável. Esse grupo é muito forte em pesquisas com forrageiras. Nós somos a unidade, por exemplo, que desenvolve as cultivares que são recomendadas para o Bioma Amazônico, junto com as demais unidades, como a Gado de Corte, fazendo as avaliações de diferentes cultivares. E o grupo atua também muito fortemente na área de melhoramento genético e sanidade animal”, apresentou Bruno Pena, chefe-adjunto de transferência de tecnologias da Embrapa Acre.
Pena explicou qual é a importância de buscar cultivares adaptadas, revelando uma característica dos solos do Acre. “Nós temos uma certa dificuldade na adaptação de algumas forrageiras. Nós tivemos, por exemplo, um problema sério com a síndrome da morte do Brizantão, que é a Brachiaria brizantha cv. Marandu, porque ela não resiste ao encharcamento do solo.
O solo do Acre tem uma baixa permeabilidade, em grande parte do estado, e isso faz com que aconteça esse encharcamento, então não é qualquer cultivar que pode ser usada. Hoje, por exemplo, a maior demanda de mercado na área de forrageira é justamente uma cultivar que seja resistente, que seja tolerante a longos períodos de encharcamento, e não apenas aqui no Acre, mas para outras regiões também onde a pluviosidade é altíssima. Regiões com 2.000 a 2.200 mm de chuva por ano.
E em determinados períodos, portanto, ocorre esse encharcamento, por isso é necessário o desenvolvimento de cultivares resistentes a esse encharcamento. É o foco principal do programa de melhoramento genético de forrageiras hoje da Embrapa”, comentou.
Bruno justificou o foco nas pesquisas sobre cultivares. “A pecuária aqui no Acre é baseada quase que exclusivamente no pasto. Os insumos de suplementação, como farelo de soja e o próprio milho são insumos que chegam aqui muito caros. Nós estamos aumentando a produção desses grãos, mas ainda não damos conta de viabilizar o atendimento à demanda como um todo.
Então a gente sempre busca tecnologias como, por exemplo, amendoim forrageiro para melhorar a qualidade nutricional dessas pastagens e também promover a adubação verde do pasto, fazendo com que o produtor reduza a sua dependência desses insumos que vêm de outras regiões. Daí a importância dele investir em tecnologia, permitindo com que ele produza, tenha uma alta produtividade mesmo com as pastagens”, explicou.
O sucesso que desponta desta parceria entre produtores e pesquisadores estão surtindo efeitos que ultrapassam as fronteiras da pecuária. “Nosso estado é reconhecido por ter uma genética muito boa, outros estados se interessam muito, por exemplo, pela compra do bezerro aqui no Acre porque o nosso rebanho como um todo tem uma genética sensacional. Agora […] somos zona livre de aftosa sem vacinação, um trabalho muito bem conduzido pelo Idaf (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre) e pelo Ministério da Agricultura.
E sem dúvida alguma, o Acre tem um potencial ainda de crescimento e principalmente na intensificação desses sistema de produção, ou seja, produzir mais arrobas por hectare e conservando a nossa biodiversidade, mantendo a floresta em pé. Isso é totalmente possível e diferentemente do que muita gente pensa, não são processos antagônicos. É muito possível, totalmente viável aumentar a produtividade sem necessariamente abrir novas áreas”, sustentou.
Pena reforçou a participação dos produtores neste processo. “Essa proximidade (com os pecuaristas) é extremamente importante, primeiro para a gente conseguir prospectar quais são as reais necessidades do produtor. Então a proximidade dos pesquisadores, dos nossos técnicos, com a realidade do campo é imprescindível para o direcionamento das nossas pesquisas.
Em segundo lugar, quando a gente faz uma experimentação na própria área do produtor, nós já queimamos uma etapa, aceleramos o processo de pesquisa, que seria a etapa de validação da tecnologia.
Se nós estivéssemos executando todas as partes da pesquisa dentro da Embrapa, nós precisaríamos colocá-la ainda num sistema real de produção para confirmar se realmente aquela tecnologia poderia ser viável para ser transferida e etc., se vai gerar um resultado positivo para o produtor.
Quando a gente já faz essa parceria no campo, na área do produtor, aquele sistema é um sistema real de produção, então essa tecnologia já é recomendada porque passou por esse processo de validação. Então a gente acaba acelerando o processo de entrega de alguma solução tecnológica”, descreveu.
“Nessa parceria eles vêm validando os dados porque eles medem, fazem várias áreas testemunhas, isso comprova os números. Eu, por exemplo, não sou muito técnico para medir, experimentar, essas coisas. E eles já fazem aqui, em outras fazendas também e vão validando esse trabalho da gente”, aprovou o pecuarista Chico Salles. “Há uma troca de informação […]. Todo o apoio que eles precisam, a gente fornece e é um trabalho prático dentro de uma região que está carente de tecnologia”, acrescentou.
“Eles precisavam levar a campo os experimentos deles. E eu achei ótimo e disponibilizei a fazenda. Eles fizeram ao longo desses anos muitos experimentos com puerária, com tipos de capins diferentes, panicuns, braquiárias e também com leguminosas, como o amendoim, de vários tipos. Tinha as parcelas que eles faziam diretamente no pasto. E a gente foi junto com eles aprendendo e introduzindo aquelas tecnologias e técnicas dentro da fazenda”, ilustrou o pecuarista Luiz Augusto do Valle.
“É uma parceria muito grande que vem de muito tempo e tem ajudado muito, porque tem o caso de conseguir trazer muda e plantar, a gente sempre senta, conversa, […] Então a gente está deslanchando, melhorando a qualidade. Melhora a qualidade do gado, sem dúvida, quando melhora a qualidade do pasto, melhora a lotação. Então é um bocado de coisa que a gente vai fazendo e vai dando certo. Sem essa parceria, a gente não consegue”, afirmou o produtor João “Paraná”.
“Nosso alinhamento, as nossas pesquisas são voltadas sempre para gerar impacto econômico para o produtor, visando gerar uma melhor qualidade de vida, o impacto social também é extremamente relevante e o impacto ambiental. Todas as nossas tecnologias são avaliadas nessas três vertentes. Quando a gente vai entregar essa tecnologia, a gente sabe que ela é ambientalmente sustentável, aumentando a produtividade por área, reduzindo a pressão sobre a floresta, porque é um ativo realmente fantástico a nossa Floresta Amazônica, e não há dúvida de que essa biodiversidade ainda vai gerar muita tecnologia e muito benefício para a nossa sociedade”, concluiu Bruno Pena.