Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com o objetivo de avaliar a eficácia das vacinas Vaxzevria (antiga AstraZeneca) e Coronavac em 60 milhões de brasileiros vacinados contra a Covid-19 concluiu que ambos os imunizantes se mostraram altamente protetores contra a forma grave da doença.
No entanto, os pesquisadores ressaltaram a necessidade de uma dose de reforço precoce da Coronavac para pessoas com mais de 80 anos e de Vaxzevria para mais de 90 anos. Especialistas reforçam a importância de vacinar todas as faixas etárias antes dessa possibilidade.
A nota técnica do estudo datado no dia 6 de agosto foi enviada, na última quarta-feira (11), ao Ministério Público do Maranhão, que apura denúncias que contestam a eficácia da Coronavac em um inquérito civil. Também foi anexado um ofício da Fundação explicando que se trata de um estudo de efetividade da vacina, ou seja, baseada na observação do mundo real e não em ensaios clínicos controlados, o que, segundo a Fiocruz, “atesta ainda mais significativamente a proteção auferida pelas duas vacinas”.
“Analisando dados de quase 61 milhões de indivíduos vacinados com pelo menos uma dose, nossos resultados demonstram fortes evidências de 70,0% e 54,2% de proteção contra a infecção após a vacinação completa com Vaxzevria e CoronaVac, respectivamente. Vaxzevria ofereceu aproximadamente 90% de eficácia contra hospitalização, admissão em UTI e morte, enquanto CoronaVac forneceu aproximadamente 75% de proteção após a vacinação completa”, dizem os pesquisadores.
No estudo, a que a CNN teve acesso, é explicado também que, apesar da alta adesão da população, a campanha de vacinação está evoluindo de forma desigual em todo o Brasil e a proteção dos imunizantes se mostrou variar de acordo com a faixa etária.
“O VE [eficácia da vacina] da CoronaVac/Butantan foi próximo a 80% contra o óbito em indivíduos com até 79 anos. No entanto, foi observada redução da eficácia a partir dos 80 anos, com apenas 35,4% de proteção contra morte observada em indivíduos com mais de 90 anos. Em contrapartida, a vacina Vaxzevria/Fiocruz alcançou cerca de 90% de proteção contra morte em indivíduos com menos de 90 anos , enquanto um VE de 70,5% foi encontrado em maiores de 90 anos.”, diz o estudo.
Segundo os pesquisadores, ao considerarem o cenário atual no Brasil, os achados demonstram a eventual necessidade de uma terceira dose da vacina em indivíduos com 80 anos ou mais que receberam o imunizante do Butantan, bem como em indivíduos com mais de 90 anos imunizados com a vacina da Fiocruz.
“É razoável atribuir a redução observada na eficácia à imunosenescência (um conjunto de alterações que ocorrem na resposta imune), que é comumente associada a uma maior frequência de comorbidades e pode implicar em taxas de mortalidade mais altas”, relata o documento.
Especialistas falam sobre 3ª dose
A epidemiologista e professora doutora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, diz que muitos países já liberaram e estão prestes a liberar uma dose de reforço aos mais idosos, mas lembra que, no Brasil, ainda estamos em meio a uma pandemia com alta taxa de transmissão do vírus e com um percentual pequeno de pessoas vacinadas.
“A gente precisa discutir isso, mas nós temos aí um complicador, porque a maior parte das pessoas, no Brasil, recebeu uma ou nenhuma dose ainda. Então, nesse cenário de escassez é complicado ter que tomar essas decisões, mas é uma necessidade. Esse estudo reforça isso e a gente vai precisar discutir isso no nosso Programa Nacional de Imunização. Vamos precisar continuar a monitorar os casos de adoecimento nesse grupo para observar uma diminuição de efetividade das nossas vacinas e o tempo da terceira dose.”, explica.
Segundo o médico especialista em infectologia e saúde pública, Gerson Salvador, só podemos saber da necessidade de uma dose extra de imunizantes, a partir de um estudo de eficácia desenhado para isso. Ele explica que as vacinas, no geral, funcionam menos nessa faixa-etária por conta da imunosenescência, que é a diminuição dos anticorpos e da imunidade celular em pessoas mais velhas.
“Você tem que comparar desfecho, como o risco de infecção, internação ou morte, entre pessoas que tomaram duas doses, com pessoas que tomaram três doses. Porque os dados que a gente têm de aumento de título de anticorpo, não necessariamente quer dizer que a pessoa vai ter menos risco de adoecer.”
Para o médico infectologista Eder Gatti, a discussão sobre a necessidade de uma terceira dose para idosos acima de 80 e 90 anos deve acontecer depois que já estiverem garantida a vacinação para todas as demais faixas-etárias.
“É inegável o efeito da vacinação nas faixa-etárias mais velhas, uma vez que nós vimos a queda da ocorrência da doença significativa nessas faixas etárias. Porém, é importante vigiar a ocorrência da Covid-19 nessas faixas etárias, pois se houver um aumento, aí sim vale a pena revisar a estratégia de vacinação”, explica.