Depois da Covid, voltar a andar foi milagre para fotógrafo: ‘morri na UTI e outra pessoa nasceu’

“Uma coisa é você ouvir falar de um milagre. Outra coisa é você viver um, ser parte de um”. A fala do fotógrafo Roberto Kelsson, de 32 anos, é de quem testemunhou um milagre, o de sobreviver à covid-19. Foram 49 dias internado por conta da doença, incluindo duas intubações. A alta já foi uma surpresa quando todos os fatores eram “contra”, e a rapidez com que os movimentos voltaram também.

Como uma das sequelas foi a perda de movimentos do lado esquerdo, a família chegou a ficar instalada durante 20 dias no hotel do Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul), isso porque a casa de Kelsson não tinha acessibilidade que ele precisava.

Na última semana do mês de abril, Roberto Kelsson passou a sentir indisposição, coriza e acreditou que se tratasse de um resfriado. Em casa, toda a família passou a ter os mesmos sintomas.

Ele agendou o exame assim que perdeu o olfato numa quarta-feira e o resultado saiu dois dias depois trazendo o positivo.

“A gente tinha esperança de não ser”, recorda o fotógrafo. Na semana seguinte, sete dias depois de fazer o teste, quando a covid caminhava para o fim, Kelsson teve muito cansaço e ao chegar no hospital foi internado imediatamente.

“Já estava com 40% do pulmão tomado e internei”, conta. Da enfermaria, o fotógrafo foi levado para o CTI, chegou a ir para a unidade intermediária, mas teve de ser levado de novo para o Centro de Terapia Intensiva onde foi intubado pela primeira vez.

“Lembro de ter acordado da primeira intubação depois de oito dias. Acordei com muita sede, não conseguia engolir, piorei de novo e intubei pela segunda vez”, relata.

Roberto precisou fazer traqueostomia e, além da Covid, adquiriu também uma bactéria. “Foi um milagre. Eu, intubado duas vezes, quando acordei da sedação caí na real onde eu estava e que tinha feito traqueo”, relembra.

Recuperação de Kelsson, após mais de 40 dias internado com Covid — Foto: Roberto Kelsson/Arquivo Pessoal

Recuperação de Kelsson, após mais de 40 dias internado com Covid — Foto: Roberto Kelsson/Arquivo Pessoal

A alta chegou no dia 24 de junho, depois de muita fisioterapia no próprio hospital. Kelsson saiu do hospital sem o movimento do pé esquerdo e em uma cadeira de rodas.

“Braço, olho, até a boca do lado esquerdo era difícil para mexer. Eu não conseguia movimentar”, lembra.

Sem acessibilidade em casa, foi preciso que a família se instalasse no hotel do Sinpol, como o pai de Kelsson é policial civil, foi ali que eles passaram 20 dias em tratamento. “Eu saí do hospital sem nenhum movimento, acamado. Para tomar banho era numa cadeira de banho, para sair para tudo quanto é canto era só na cadeira de rodas”, recorda.

Para casa, o fotógrafo já voltou andando com ajuda do andador. Quando deixava o apoio de lado, era segurando pelas paredes que ele dava os primeiros passos. Foram três semanas até conseguir sair andando sozinho, sem apoio, rumo à autonomia. “A minha dificuldade maior foi o equilíbrio, andar com segurança”, conta.

A caminhada foi no condomínio onde Kelsson vive com a família, na Capital. Depois de dar os primeiros passos, Kelsson também já ensaia dirigir sozinho e até pedalou.

Milagre

“Eu costumo falar que eu morri lá dentro e outra pessoa nasceu, porque é impossível voltar igual, como era antes. Depois de tudo o que a gente passa, é muito tempo deitado, dependendo dos outros, à mercê da sorte. Quando eu acordei da intubação, eu estava bem debilitado e eu sabia que todo dia seria uma vitória diferente”.

E assim foi. As pequenas grandes vitórias foram conseguir tomar café sozinho, levar a xícara da mesa até a boca, caminhar, andar de bicicleta e fotografar.

Na cadeira de rodas, Kelsson fotografa ainda no hotel — Foto: Roberto Kelsson/Arquivo Pessoal

Na cadeira de rodas, Kelsson fotografa ainda no hotel — Foto: Roberto Kelsson/Arquivo Pessoal

O olhar para os cenários também mudou. Kelsson ainda não fez nenhum ensaio, mas já clicou ipês pela cidade. “Acredito que minha fotografia também vai mudar, porque muda a questão de se relacionar com as pessoas, porque eu mudei. Eu melhorei, a gente sai transformado”, diz.

Kelsson era obeso e tinha pressão alta. Com a piora do quadro, intubações e a bactéria, as chances não eram as mais “favoráveis”.

“Quando eu saí, conversei com amigos que me disseram: ‘a gente estava contando os dias para você morrer'”, reproduz.

Ipês-brancos, o céu de Campo Grande e o avião. Uma das primeiras fotos de Kelsson pós doença. — Foto: Roberto Kelsson/Reprodução

Ipês-brancos, o céu de Campo Grande e o avião. Uma das primeiras fotos de Kelsson pós doença. — Foto: Roberto Kelsson/Reprodução

Hoje, ao relembrar a covid, o que passou no hospital e as sequelas, Roberto fala que quer que as pessoas entendam o poder de um milagre.

“Eu quero é que as pessoas saibam que Deus pode fazer milagre na vida delas, e que ninguém tenha que passar pelo que eu passei para dar valor às coisas como um bom café da manhã, um cafezinho quente…”, finaliza.

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