O contato de jovens estudantes brasileiros, com idade entre 13 a 17, com cigarros, álcool e drogas ilícitas, está acontecendo cada vez mais cedo. Seis, em cada dez estudantes, haviam experimentado bebida alcoólica na pré-pandemia, revelam dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
De acordo com os números, isso significa que o percentual de escolares entre 13 e 17 anos que já experimentaram bebida alcoólica é de 63,3%. Mais de um terço dos escolares nessa faixa etária (34,6%) havia experimentado ao menos uma dose antes dos 14 anos. Dos escolares que experimentaram bebidas alcoólicas, 47% revelaram ter tido episódios de embriaguez. A principal forma de obtenção de bebida foi em uma festa (29,2%), seguida por compra em mercado (26,8%). Cerca de 22,6% dos escolares haviam experimentado cigarro. Para 11,1%, a experimentação ocorreu antes dos 14 anos. Outros 28,1% haviam bebido pelo menos uma dose nos últimos 30 dias antes da pesquisa e 13% dos estudantes haviam experimentado algum tipo de droga ilícita, como maconha, cocaína, crack e ecstasy.
A pesquisa retrata a saúde de estudantes de todas as regiões do país e traz temas como violência, saúde mental e uso de drogas. Os dados se referem à realidade dos jovens antes da pandemia de Covid-19, cujas medidas de isolamento social e distanciamento físico do ambiente escolar podem ter agravado a situação.
O percentual foi maior entre os estudantes de escolas da rede pública (47,6%) do que entre os da rede privada (43,4%). Cerca de 15,7% relataram a ocorrência de problemas em consequência de terem bebido, entre eles estão o conflito com a família ou amigos, a perda de aulas ou brigas.
De acordo com a pesquisa, o consumo abusivo está diretamente ligado aos episódios de embriaguez relatados pelos estudantes. O uso foi considerado abusivo quando, em uma única ocasião, passava de cinco doses para os meninos e quatro para as meninas. A dose é equivalente a um copo de chope, uma lata de cerveja, uma taça de vinho, uma dose de cachaça ou de uísque.
Entre os adolescentes de 13 a 17 anos, 9,7% relataram ter consumido quatro doses ou mais em um mesmo dia. Nesse indicador, o Sul (12%) e o Centro-Oeste (11,1%) ficaram acima da média nacional. Já o Norte (7,0%) e Nordeste (7,8%) apresentaram os menores percentuais. Cerca de 6,9% dos estudantes dessa faixa etária disseram ter bebido cinco doses ou mais em um dia.
O consumo recente de bebidas alcoólicas também foi abordado pela PeNSE. Cerca de 28,1% haviam bebido ao menos uma dose nos últimos 30 dias antes da pesquisa. Houve diferença por faixa etária: o indicador variou de 22,1% nos escolares de 13 a 15 anos a 38,9% entre os que tinham de 16 a 17 anos. A pesquisa elucida que, à medida que os anos vão passando de ano, o adolescente tem mais oportunidades e estímulos para experimentar bebidas, cigarro e outras drogas, além de adquirir outros comportamentos. Isso pode explicar o maior consumo recente por parte dos estudantes mais velhos.
Entre as questões levantadas também estava o uso de bebidas alcoólicas pelos pais dos adolescentes. Mais da metade dos escolares de 13 a 17 anos (58,9%) respondeu que o pai, a mãe ou ambos consumiam esse tipo de produto, sendo os percentuais maiores no Sul (62,4%), no Centro-Oeste (61,9%) e no Sudeste (61,5%).
A pesquisa também mostrou que 22,6% dos estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram cigarro e, nesse indicador, não houve diferença significativa entre meninos (22,5%) e meninas (22,6%). Cerca de 11,1% dos escolares nessa faixa etária haviam fumado antes de completar 14 anos. Assim como em relação à bebida, a PeNSE também averiguou junto aos adolescentes o consumo atual de cigarros. Cerca de 6,8% dos estudantes haviam fumado nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, sendo o consumo atual maior no Sul (8%) e menor no Nordeste (4,7%).
Outro aspecto levantado pela PeNSE foi a forma de obtenção de cigarro e bebidas alcoólicas. Apesar de a legislação proibir a venda desses produtos para menores de 18 anos, lojas, bares, botequim, padarias ou banca de jornal foram apontados por 37,5% como o lugar onde obtiveram cigarros. Em relação às bebidas alcoólicas, a maioria dos escolares (29,2%) respondeu que conseguiu em uma festa, enquanto 26,8% disseram ter comprado no mercado, 17,7% obtiveram com amigos e 11,3%, em casa, com alguém da família.
Além do uso do cigarro tradicional, a pesquisa investigou o uso de cigarro eletrônico. No Brasil, a importação, propaganda e venda desses produtos são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A despeito disso, 16,8% dos estudantes já haviam fumado pelo menos uma vez. O maior percentual é encontrado entre os mais velhos: 22,7% nos adolescentes de 16 a 17 anos ante 13,6% entre os que têm de 13 a 15.
Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 13% dos escolares haviam experimentado algum tipo de droga ilícita, como maconha, cocaína, crack e ecstasy. Entre os estudantes da escola pública (13,3%), a exposição era maior do que entre os da rede privada (11,4%). Regionalmente, os maiores percentuais se encontravam no Sul (16,7%) e Sudeste (16,2%) e os menores, no Nordeste (7,9%) e no Norte (9,3%).
O percentual de jovens cuja primeira experiência com drogas ilícitas aconteceu antes dos 14 anos foi de 4,3%. Em 2015, havia sido de 4,2%. A proporção é maior também entre os alunos da rede pública (4,6%) do que entre os da rede privada (2,7%). “Na maioria das vezes, a iniciação é mais fácil na escola pública por conta do acesso mais facilitado. Nos escolares mais velhos, já podemos observar o acesso a recurso para compra. Isso se manifesta muito no álcool e, possivelmente, também no cigarro eletrônico”, diz o pesquisador.
A pesquisa também levantou o percentual de escolares de 13 a 17 anos cujos amigos usaram drogas ilícitas na sua presença pelo menos uma vez nos 30 dias anteriores. Essa situação foi relatada por 17,5% dos escolares nessa faixa etária. Já em relação ao uso recente, 5,3% dos escolares afirmaram ter usado maconha nos 30 dias que antecederam a pesquisa. O consumo recente variou de 3,4% para os escolares de 13 a 15 anos e de 8,8% para os escolares de 16 a 17 anos. Esse indicador apresentou diferença na distribuição por sexo, sendo maior entre os meninos (5,8%) do que entre as meninas (4,8%).