O caso foi registrado em Rio Branco (AC) no último sábado (02), na Delegacia de Flagrantes (Defla), mas só veio a público nesta quarta-feira (06): o ativista político Carlos Gomes, ex-dirigente da Rede Sustentabilidade e candidato derrotado à Prefeitura de Rio Branco nas eleições de 2016, é acusado de espancar uma mulher trans após troca de ofensas em uma das barracas do Mercado do Bosque.
Ponto tradicional de encontro após as baladas em boates e bares da cidade em busca de uma iguaria única chamada “baixaria”, naquela madrugada o mercado acabou virando lugar de pancadaria, no qual restou ensanguentada, caída ao chão, a mulher trans que se identifica como Michele Eduarda, de Rio Branco.
Uma testemunha revelou o caso com exclusividade ao ContilNet. Seu relato é o seguinte: “O fato se deu no Mercado do Bosque, de madrugada, no sábado. A moça estava lá, quando passou por ele, e ele cuspiu nela. Ela foi tirar satisfação pela cuspida. E ele já foi revidando, com chute na barriga. Ela caiu e teve ferimento leves. Algumas pessoas interviram. A ajudaram a levantar. E ele saiu correndo, para não se expor ou ser preso em flagrante. Parecia muito agitado. E aquele ato, parecia desproporcional”.
Informações obtidas no local dão conta de que ambos tinham rixa antiga e até teriam discutido, por causa de política, em redes sociais. Quando todos achavam que o caso havia sido esquecido, eis que, no primeiro encontro fora das redes sociais, descambou para agressões físicas.
Carlos Gomes, assistente social, despontou para a política em 2016, aos 27 anos de idade, lançado como candidato a prefeito de Rio Branco por ninguém menos que a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela e cujo discurso seria de proteção às minorias – índios, negros, quilombolas e populações LBGTQIA+, no qual se inclui a mulher trans Michele. O lançamento da candidatura do aliado à Prefeitura da Capital contou com a participação de Marina Silva, que seria candidata à presidência da República nas eleições seguintes com o discurso de combate à homofobia. Em 2018, ele disputou o cargo de deputado federal, com o mesmo discurso.
Na prática, Carlos Gomes praticou crime de transfobia, diz Michele. “Ele me agrediu por isso e eu quero justiça”, disse a vítima em entrevista ao ContilNet. Procurado, Carlos Gomes admitiu a ocorrência. Disse o seguinte: “Sobre os questionamentos do caso em que ocorreu no final de semana em que fui envolvido, esclareço que, de fato, houve uma confusão no Mercado do Bosque, levei um tapa dessa pessoa enquanto passava pelo local. Retornei para questionar o motivo, houve um princípio de confusão. Me retirei do Mercado do Bosque. Registrei um boletim de ocorrência e estou com o advogado acompanhando o caso”.
O militante acrescentou: “Não me omiti e nem fugi das responsabilidades dos meus atos. Registrei um boletim de ocorrência sobre o fato e já fui ouvido pela Polícia. Sem mais, reafirmo meu total repúdio a quaisquer formas de discriminação a orientação sexual e identidade de gênero. Mas respeito deve ser obrigação de todos e todas uma para com os outros”.