Em post de 28 de maio de 2020, este blog lançou uma pergunta: ‘até quando Bonner vai suportar viver autoisolado, angustiado e na mira dessa ofensiva ideológica?’
Dias atrás, o próprio jornalista respondeu ao interagir com seguidores no Instagram: “Bom, daqui a 10 anos eu certamente vou ver de casa. Eu não pretendo estar com essa idade toda apresentando o ‘JN’, vou estar com 67 anos. O tio tem que descansar também, né?”
William Bonner completará 58 anos no dia 16 de novembro. Está na Globo desde junho de 1986, quando trocou a Band pela emissora carioca. Começou na bancada do ‘Jornal Nacional’ como substituto de folgas e férias no início da década de 1990.
Em 1º de abril de 1996 estreou como apresentador titular. Uma ascensão ainda maior ocorreu em setembro de 1999: tornou-se editor-chefe do telejornal. Entre altos e baixos, crises de audiência e coberturas históricas, manteve o ‘JN’ como a mais assistida atração jornalística da televisão brasileira.
A partir da metade da década de 2000, passou a pagar um preço caro por tamanho poder e fama. Virou alvo de críticas pesadas de aliados e eleitores de Lula e Dilma, e da esquerda em geral. De 2018 para cá, é o inimigo preferido de Jair Bolsonaro e seus apoiadores na imprensa.
Em consequência disso, o âncora experimenta a hostilidade: recebe ameaças anônimas, foi insultado em público, teve dados de familiares expostos, perdeu a liberdade de ir e vir. Em raro desabafo na TV, reclamou do “ódio” e da “maldade” direcionados a ele e seus parentes – chegaram ao ponto de ofender a memória de seu pai, já falecido.
Apesar da carga insuportável, Bonner se manteve forte. Recentemente, renovou o contrato com a Globo. Mas pelo que indica agora, a despedida do ‘JN’ deverá acontecer em alguns anos. E qual será o destino profissional do mais poderoso jornalista da televisão?
Caso recuse se aposentar (e sair por aí a bordo de seus carros antigos para curtir a vida), ele certamente terá opções interessantes para continuar na Globo.
Entre as possibilidades, apresentar um programa de entrevistas (a exemplo de Pedro Bial após sair do ‘hard news’), fazer reportagens especiais sobre grandes acontecimentos e personalidades ou então ser correspondente internacional sênior.
Antes da despedida do ‘Jornal Nacional’, o jornalista terá alguns desafios a cumprir. O primeiro será em 2022: liderar a cobertura daquela que poderá ser a mais tensa eleição presidencial desde a redemocratização.
Os dois principais pré-candidatos do momento, Bolsonaro e Lula, já demonstraram a intenção de ‘vilanizar’ Bonner e o papel do telejornalismo na política. Apesar da influência crescente da internet, a TV ainda é o grande cabo eleitoral de quem pretende se eleger.
Outra missão, mais distante, será participar da escolha de seu sucessor na bancada do ‘JN’. Hoje, a maior chance está com César Tralli, um âncora que não perdeu o espírito de repórter e tem as credenciais imprescindíveis para a função.