“Não sou eu, Deus me colocou nessa missão”. Assim o servidor da Representação do Governo do Acre em Brasília (Repac), José Thadeu Santiago, explica a dedicação ao Acre e aos acreanos, principalmente os que chegam em Brasília em busca de apoio. Longe de obrigação, ele garante que o trabalho é uma satisfação, porque conhece de perto as dificuldades da população, além de ser um agradecimento a Deus por ter escapado duas vezes da morte quando era criança.
Com mais de 1,80m de altura e grande também de coração, Thadeu é do tipo bonachão e sempre disposto a ajudar. É carinhosamente chamado por colegas de trabalho como “patrimônio” da Repac, onde chegou nos anos 80 e detém na memória boa parte da história do órgão. No local, desempenhou diversas atividades, conheceu e estreitou laços de amizade com muitos acreanos e segue uma filosofia profissional: “servidor público é para servir bem ao público”.
Nascido por acaso no Rio de Janeiro, quando sua mãe, grávida dele, saiu do Acre e foi cuidar de outro filho em tratamento naquele estado, Thadeu foi criado no município acreano de Cruzeiro do Sul, com períodos vividos na região de Porto Walter, num seringal às margens do Rio Juruá. Tempos que lembra com saudades, “até de carreira de onça na mata” e de “escorregar no barranco” para se atirar nas águas do rio.
São tempos, também, lembra Thadeu, em que conheceu dificuldades. A família perdeu o seringal que tinha em Porto Walter, enfrentou enchentes do Juruá e foi morar em Cruzeiro do Sul, sobrevivendo do trabalho no comércio. Por volta dos 20 anos ele foi para Brasília, onde já viviam uma tia e um irmão.
Atender é uma paixão
Eram os anos 80 quando chegou à Repac – o braço do governo na capital do País – onde passou por diversas áreas, sempre atento e disposto a contribuir com todos. “Se é para ajudar o nosso Estado, estou na linha de frente”, garante. Mas admite que uma atividade que se tornou uma paixão: atender aos acreanos, como os que chegam para tratamento de saúde e precisam de apoio.
Atualmente, explica, esses casos são raros, principalmente em função de ajustes no Sistema Único de Saúde (SUS), que organizou a redistribuição de pacientes para locais mais próximos ao estado de origem do paciente, com encaminhamento direto para o hospital. Mas houve um tempo, conforme conta, que chegou a atender a mais de 80 pessoas por mês, trabalho que começou em 1887 e não mais parou.
“Eu pegava os pacientes no aeroporto, levava para a hospedaria, para consultas, exames, cirurgias, tudo”, lembra o servidor, para quem os pacientes se tornavam parte da família. “Eu tratava os pacientes como se fossem um filho, um pai, um irmão”, diz esclarecendo que se coloca no lugar de cada um.
“Eu vivi lá, passei fome, dificuldades, entendo o sofrimento”, afirma o servidor, que buscava enxergar além das palavras. Foi assim, por exemplo, que observou um bebê que chorava com frequência. Perguntava insistentemente o motivo, até que a mãe tomou coragem para dizer que era fome. Em segredo, comprou leite para alimentar a criança com dinheiro do próprio bolso.
Thadeu conta que sofria junto com os pacientes, principalmente, quando um morria. Mas também foram muitas as alegrias com a recuperação de vários outros. Ele garante que sua maior recompensa é a satisfação de fazer o bem e as muitas amizades construídas. “Quando chego no Acre, não dá para atender tanto convite para almoçar na casa dos amigos que fiz”, comenta.
Orgulho de servir ao público
Para o servidor, atender bem as pessoas é a essência do que significa ser um servidor público. “Servidor público é para servir bem ao público e se dedicar ao Estado”, afirma destacando que, em qualquer órgão, todo servidor é importante, pois integra a engrenagem que faz o conjunto funcionar. “Quando cada um faz bem o seu trabalho, o resultado é bom para o órgão como um todo e, no nosso caso, significa bem para o Acre e para os acreanos”, diz.
Thadeu tem orgulho de ser um servidor público, em especial de trabalhar na Representação do Governo em Brasília, “porque é oportunidade para ajudar o Acre, que precisa tanto de ajuda”. E garante que a satisfação ainda é maior quando vê os resultados do trabalho do órgão chegando em forma de benefício ao Estado.
“Me dá um orgulho muito grande quando vejo o governo entregando ambulâncias, recuperando ramais e outros benefícios no Estado que contaram com o trabalho da Representação em Brasília, que vem trabalhando de forma espetacular!”, diz.
Esse amor pelo Acre Thadeu também traduziu em uma exposição de produtos do acreanos que, tempos atrás, chegou a manter na sede da Repac e fazia questão de fazer a apresentação deles para quem chegava no órgão, além de atender estudantes que buscavam informações sobre o Estado.
“Quero que as pessoas conheçam e vejam que o nosso Estado é maravilhoso”, explica o servidor que não esquece inclusive das comidas locais, cardápio constante na casa dele, como farinha, tucupi e vatapá.
Sobre a disposição de ajudar as pessoas e fazer o bem, retoma o fato de quase ter morrido duas vezes: uma ainda bebê, de doença que não lembra, e outra um pouco maior, de afogamento. E resume: “Se Deus me deu essas duas oportunidades, eu tenho que agradecer e ajudar as pessoas”.