Indígena grávida e em estado grave de malária morre em trabalho de parto

Uma jovem indígena, de 19 anos, da comunidade Maloca Paapiu, que estava em estado grave de malária vivax morreu na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) informou nesta terça-feira (30) que ela não recebeu atendimento. Já o Ministério da Saúde afirma que ela recusou o tratamento e também o pré-natal.

A jovem estava com cerca de 7 meses de gestação, segundo o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami. O Ministério da Saúde, responsável Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y), informou que no último dia 25 “ela entrou em trabalho de parto e faleceu logo após.”

Hekurari disse que o Conselho recebeu a informação sobre a jovem na noite dessa segunda durante reunião com líderes Yanomami, em Boa Vista. Ele deve cobrar providências sobre o caso à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que responde ao Ministério da Saúde, ainda nesta terça-feira (30) por meio de ofício.

“Durante uma reunião da plenária o pessoal nos informou que ela tinha falecido. Foram lideranças de conselheiros de lá [comunidade Maloca Paapiu] que nos comunicaram”, disse o presidente.

Hekurari relatou, ainda, que a jovem não chegou a receber atendimento e que não fazia tratamento contra a doença. O posto de saúde mais próximo de onde ela morava fica distante 40 minutos de caminhada, na comunidade Sikamabiu, conforme o presidente.

O Ministério da Saúde, por sua vez, refutou a afirmação do Condisi-YY e disse, em nota, que a jovem recusou atendimento. A Terra Yanomami enfrenta surto de malária, casos graves e desnutrição e falta de atendimento de saúde — essa situação foi mostrada com exclusividade pelo Fantástico.

“No dia 15/11/2021, uma jovem de 19 anos, grávida, foi diagnosticada com malária vivax na comunidade de Sikamabiu. A mesma recusou o tratamento e também o pré-natal oferecido pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), que estiveram na maloca Paapiu”, informou.

Ainda de acordo com o presidente, lideranças afirmaram ao Condisi-YY que não há remédios para o tratamento de malária nas comunidades.

“Muitas lideranças, de 40 regiões, falaram que não há remédio para malária e mesmo assim o coordenador reafirma que tem remédio, sim. Então, os conselheiros e lideranças Yanomami ficaram muito chateados, estão muito chateados”, afirmou Hekurari.

Procurado, o coordenador do Dsei-Y, Rômulo Pinheiro, informou que o Distrito possui equipe de saúde no local e que está apurando o que de fato ocorreu.

O Ministério ainda informou que “no dia 24/11, um médico e um enfermeiro reforçaram a importância do acompanhamento, mas não obtiveram êxito com a indígena”, acrescentando que, segundo eles, nenhum dos dois servidores “foram solicitados para prestar ajuda necessária no parto, portanto, as denúncias de falta de apoio e assistência médica são infundadas.”

Esse é o sétimo caso de morte por malária em três meses na Terra Indígena Yanomami. Em setembro, duas crianças indígenas — uma delas um bebê de 6 seis meses — morreram na comunidade de Xaruna.

No dia 4 de novembro, uma adolescente indígena, de 17 anos, morreu na comunidade Yaritopi, que estava em estado grave de malária falciparum. Em 1º de outubro, um pajé da comunidade Makuxi Yano, de 50 anos, morreu sem atendimento.

No último dia 20, uma criança Yanomami também morreu na Terra Indígena Yanomami. A vítima tinha sintomas de malária, desnutrição e pneumonia, conforme relato do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY).

O óbito foi em Xaruna, mesma comunidade onde outra criança, de 3 anos, também morreu. Nos dois casos, o Condisi-YY afirmou que não houve atendimento por parte do Dsei-Y.

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