Para quem é religioso –e também para quem não é– a lista que reúne as características do bem viver da floresta se assemelha ao paraíso. Mas esse éden não tem dono, não é propriedade: homens e mulheres fazem parte dele, da floresta recebem a comida, a água limpa, o ar puro, remédios e também as belezas da mata.
Na tarde desta quinta-feira (16), o painel “Amazônia e Bem Viver da Floresta” reuniu jovens lideranças indígenas e comunitárias do Brasil e da Bolívia, além de representantes da sociedade civil. A discussão teve espaço até para a descrição “fantasiosa” do famoso líder seringueiro Raimundo Mendes de Barros, mais conhecido como Raimundão.
“Ninguém na floresta passa fome, pois ela tem muitas riquezas”, afirmou Silvia Helena Manicoré, do Conselho Nacional dos Seringueiros, que fez a mediação do evento. “Temos muitas riquezas, se não tivéssemos tantas riquezas não estariam atrás de destruir nossa floresta.”
Na opinião de Roly Mamio, do Povos Campesinos da Bolívia, o conceito de bem viver precisa ser preservado por meio da educação: “Estamos trabalhando para ensinar às crianças temáticas ligadas ao cuidado, à preservação, para que possamos conscientizar os estudantes e que eles possam crescer com a mentalidade de que é necessário cuidar das nossas florestas”.
Os povos tradicionais têm indicativos para definir o bem estar, explicou a jovem liderança indígena Ixtiwã Nukini. São eles: o controle coletivo sobre os territórios, a capacidade de garantir a autonomia alimentar do grupo, a construção de ambiente tranquilo para se viver e
autocuidado com a comunidade e com a produção. “A gente quer fazer a nossa comunidade crescer, porque a gente produz muita farinha, muita fruta [para a cidade], mas eu não quero apenas [crescimento] para a minha terra, mas para todas as terras indígenas”, concluiu.
O jovem indígena Uhnepa Nukini complementou que o bem viver é baseado no pensamento dos povos indígenas. “Não admitimos o domínio nem a destruição dos bens naturais e o bem estar do nosso povo é viver com saúde básica, com educação de qualidade, ter qualidade de água”, disse Uhnepa.
O bem viver na Amazônia não pode, segundo os painelistas, não pode estar dissociado não apenas da segurança alimentar dos povos nos territórios, mas também de cadeias produtivas justas e virtuosas dos produtos que a floresta dá.
“Só a borracha não resolve e tem muita riqueza na colocação. A gente entende que o bem viver tem que ter olhar de todos, o morador da floresta precisa de uma cesta de produtos sustentáveis para ter renda o ano todo”, disse Sebastião Pereira, da Verte que produz calçados com borracha comprada diretamente dos seringueiros.