Classificada como variante de preocupação pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e presente em mais de 100 países, a ômicron tem chamado atenção pela sua alta transmissibilidade e pela explosão no número de casos de covid-19 no Brasil e no mundo. Uma das principais dúvidas que têm surgido, principalmente entre quem se infectou recentemente, é se quem pegou ômicron pode pegar covid-19 de novo.
Essa é uma questão ainda estudada pelos cientistas, já que a ômicron começou a se propagar no fim de novembro —portanto, apenas cerca de dois meses atrás.
“Nós conhecemos a ômicron há pouco tempo, cerca de dois meses. É um tempo insuficiente para gente saber se pode pegar a ômicron ou qualquer outra variante após uma infecção pela ômicron”, diz Wladimir Queiroz, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, professor do Unilus (Centro Universitário Lusíada), e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
De maneira geral, a imunidade conferida após contrair a doença ou tomar a vacina é maior nos primeiros quatro meses e depois vai caindo, diz Queiroz. O médico também cita a imunidade híbrida, que é quando a pessoa já pegou covid e também tomou alguma dose da vacina.
“Tudo isso vai se somando de maneira que prevenir o contágio com o vírus é uma coisa praticamente impossível, mas reduzir as chances de que essa nova infecção seja capaz de produzir uma doença mais grave é muito grande”, explica.
Bernardo Lessa Horta, doutor em epidemiologia, professor associado da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), vai no mesmo sentido e espera mais dados sobre a questão. “Os dados e estudos ainda não permitem responder a essa pergunta”, diz.
Novas variantes sempre podem causar reinfecção
Antonio Carlos Bandeira, infectologista, professor na UniFTC Salvador, médico no Hospital Aeroporto, na Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia e membro diretor da SBI, diz que pode ser que seja possível que uma pessoa que contraiu a ômicron, assim como outras variantes, possa contrair novamente outras variantes da covid-19.
“Já vínhamos observando reinfecções pela covid-19 desde 2020, e agora, mesmo após a vacinação, há risco de nova infecção”, cita.
Segundo estudo do Imperial College London, o risco de reinfecção com a variante ômicron é 5,4 vezes maior em comparação à delta. Divulgada em dezembro de 2021, a pesquisa usou como base os dados da Agência Britânica de Segurança Sanitária e do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido de indivíduos que fizeram o PCR e foram diagnosticados com covid, entre 29 de novembro e 11 de dezembro de 2021, na Inglaterra.
Outros estudos, entre eles um publicado por cientistas da África do Sul, têm mostrado que a variante ômicron pode escapar da imunidade adquirida por pessoas que já testaram positivo para covid-19.
O epidemiologista Horta explica que esse é um dos motivos pelos quais a taxa de reinfecção da ômicron é maior, justamente pelo fato de a variante apresentar maior capacidade de escapar da imunidade natural conferida pelas infecções prévias.
“A ômicron conseguiu a proeza de se fixar mais e melhor nas células, principalmente na parte do aparelho respiratório superior. Umas das características que provavelmente fazem com que ela tenha menos casos graves, especialmente nos indivíduos vacinados, é que ela se multiplica mais em boca, nariz e garganta, favorecendo a transmissão do vírus para outra pessoa mais facilmente. Com ela se multiplicando mais nesses tecidos e menos no pulmão, a ômicron tem uma disseminação e uma transmissão muito rápida”, comenta Queiroz.
Mutações geram reinfecções
A principal diferença entre a ômicron e as outras variantes está no maior número de mutações genômicas que ela possui, pontua o infectologista Bandeira. A ômicron apresenta pelo menos 32 mutações na sua proteína de superfície da área de ligação “spike”.
O médico explica que isso reduz em muito a capacidade de ligação dos anticorpos induzidos pela infecção natural com a cepa original, tornando a ômicron capaz de infectar pessoas que já tiveram covid-19 no passado ou que já foram totalmente vacinadas.
Além disso, pelo fato de a ômicron levar a quadros mais brandos, as pessoas têm se isolado menos, e muitas têm ficado assintomáticas, só descobrindo por meio dos testes de antígeno.
De acordo com o epidemiologista Horta, a variante ômicron também apresenta maior capacidade de escapar da imunidade conferida pelas vacinas, uma vez que as mutações dessa variante alteraram regiões que geralmente são o alvo das vacinas.
“Isso explicaria a menor proteção contra infecção que é conferida pelas vacinas. Por outro lado, evidências indicam que a severidade da doença é menor entre os vacinados”, afirma.
Dose de reforço é importante contra reinfecções
Bandeira afirma que a imunidade adquirida para ômicron, assim como para outras variantes é variável, e é por isso é necessário a vacinação em massa, incluindo as doses de reforço.
“Somente com a imunidade induzida pela infecção natural não se consegue uma proteção coletiva estável e duradoura. Para a ômicron, é necessária a dose de reforço para o aumento da proteção e a indução de anticorpos neutralizantes em níveis mais elevados.”
Assim como tem acontecido com a ômicron, é possível que surjam novas variantes que consigam escapar da imunidade adquirida pela doença e também pela imunidade induzida pelas vacinas, dizem os especialistas.
“A possibilidade de haver uma nova variante do Sars-CoV-2 é um fantasma que vai ficar aterrorizando a gente por muito tempo. Pode ser que a gente tenha um cenário parecido com o da influenza, da gripe hoje, em que o vírus se modifique e a imunidade conferida tanto pela doença como pela vacina não é duradoura de maneira que a gente tenha que se vacinar ou se revacinar a cada ano com uma vacina um pouco diferente da vacina do ano anterior”, comenta Queiroz.
Apesar de os estudos apontarem que a ômicron parece ser mais leve do que as cepas anteriores, de maneira alguma ela pode ser negligenciada, especialmente para a população não vacinada, alerta Queiroz:
Por isso, é extremamente importante continuar seguindo todo o protocolo, com higienização das mãos, uso de máscara e evitar aglomerações sempre que possível.
Caso a pessoa seja infectada com a ômicron, ela deve se manter isolada, e se houver necessidade de contato com outras pessoas, use, preferencialmente, uma máscara PFF2/N95.
Em geral, o tempo de transmissibilidade da ômicron é até 10 dias após o início dos sintomas. Segundo a nova orientação do Ministério da Saúde, se a pessoa for assintomática, o isolamento e afastamento do trabalho podem ser por um período curto, de cinco dias, desde que ela não tenha sintomas, e o teste (pesquisa de antígeno PCR) dê negativo no quinto dia, por exemplo.
Além disso, é importante que um profissional médico oriente em relação a extensão ou não desse tempo na dependência dos sintomas.