Após informações espalharem em redes sobre crise, empresário diz que funcionários estão em férias coletivas

Um novo choque entre pecuaristas e empresários de frigoríficos da indústria de abates e comércio de carne bovina do Acre e a deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC) deve ocorrer nos próximos dias. A deputada, no início do atual Governo, exercia influência no setor do agronegócio no Acre ao ponto de ser de sua indicação os dois primeiros secretários que ocuparam a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (Sepa), mas desde que ela e seu irmão Wherles Rocha, o vice-governador do Estado, romperam com o governador Gladson Cameli, vem sendo uma crítica ferrenha da política agrícola e do agronegócio do Governo.

A deputada chegou a retirar a proposta de emenda ao Orçamento Geral da União (OGU) de 2021 no valor de R$ 26 milhões, feitas anteriormente por ela para a Sepa. A retirada da indicação das emendas, que levaram a Secretaria a reprogramar suas atividades sem os recursos com os quais já havia se planejado anteriormente, ocorreu porque os secretários indicados pela deputada para o setor, Paulo Watz e Edvan Maciel, pela ordem, perderam os postos para o atual secretário Nenê Junqueira, que é da escolha pessoal do governador Gladson Cameli e cuja nomeação tem a chancela do senador Márcio Bittar (PSL-AC), um dos principais aliados do governo de Jair Bolsonaro em nível federal e do governo estadual.

Mas a razão da nova rota de colisão da parlamentar com o setor do agronegócio, notadamente dos pecuaristas envolvidos com o abate e a venda de carne bovina, está relacionado a um vídeo que ela fez divulgar em suas redes nacional de um pronunciamento na Câmara dos deputados. No pronunciamento, entre outras coisas, Mara Rocha diz que o agronegócio estadual está em crise e que a economia local está perdendo, com isso, pelo menos R$ 50 milhoes que deixam de circular. “O Governo do Acre, se é que é mesmo a favor do agronegócio, precisa sair do mundo virtual de fotografias em propriedades rurais e vir para a realidade”, disse a deputada, em seu pronunciamento.

A manifestação da deputada, feita em vídeo de sessão remota da Câmara, na semana passada, foi contestada por empresários dos setor e também pelo Sindicato da categoria. Um empresário do setor, que pediu a preservação de seu nome para não entrar em polêmica com a parlamentar ou com seu irmão vice-governador, disse que Mara Rocha fala sem conhecimento de causa e que fez afirmações levianas contra o setor de indústria frigorífica do Estado, um setor que vem há dois anos consecutivos passando por dificuldades por conta da escassez da matéria prima, que é o boi e vaca gordos e prontos para o abate. No final do ano passado, citou o empresário como exemplo, só uma indústria demitiu 50 funcionários por conta da diminuição dos abates. Em Rondônia também há crise no setor, com várias indústrias fechando e outras falindo, como foi o caso do Rio Beef, com um prejuízo de mais de R$ 85 milhões aos pecuaristas locais.

De acordo com empresários do setor, ao se referir ao assunto, a deputada quer atacar o governo de Gladson Cameli, o qual, apesar da falta dos recursos de emendas de R$ 26 milhões que a própria Mara Rocha mandou retirar da Sepa, tem se esforçado e apoiado o agronegócio. A diminuição do abate em frigoríficos locais, por esta ótica, nãos seria a culpa do Governo e sim da falta de animais, por causa da saída indiscriminada de bezerros para outros estados, já denunciado inclusive pelo Sindicato das Indústrias de Frigoríficos e Matadouros do Estado do Acre (Sindicarnes/AC). A evasão do gado para outros estados, caso de evasão fiscal também, vem sendo combatida pelo Governo do estado, inclusive com o uso da Polícia Civil e que já foi causa de operações policiais com prisões de pessoas envolvidas e apreensão de bens como veículos e outros em valores significativos.

O atual presidente da entidade, Murilo Leite, que representa também um dos grandes frigoríficos no Estado, revelou que não enxerga a crise no setor que a deputada denuncia e que há, na verdade, uma diminuição de abates de animais, o que é próprio da atividade, que atua em forma de ciclos. O frigorífico que Murilo Leite representa, o Frigonosso, um dos maiores no Estado, vem abatendo a média de 83 mil cabeças por ano, mas sua capacidade é para 120 mil cabeças ano, uma diminuição de 30% causada pela falta de animais. Outro fator é também a alta demanda para exportação, já que a carne brasileira enviada para o exterior é paga em dólar, o que atrai o próprio Governo Federal e empresários do setor.

“Mas, ao contrário do que diz a deputada, não há crise no setor. A política do agronegócio feita pelo Governo do Estado está dentro do esperado por nós, pecuaristas, e creio que esse problema sazonal de falta de animais vá se resolver muito em breve. Isso é um problema de ordem nacional”, disse Murilo leite. Para ele, o pronunciamento da deputada foi motivado pelas férias coletivas dadas aos seus funcionários pelo frigorífico local da JBS, de 20 dias, uma política de adequação da empresa e que não é razão do alarme da parlamentar. “A JBS deve voltar atuar assim que acabar as férias coletivas de seus funcionários e não há razão para esta gritaria da deputada”, disse Leite.

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