Como guerra de Rússia e Ucrânia pode cair em concursos?

Esta quinta-feira, 24, está marcada na história mundial como a data de início de uma “operação militar” da Rússia nas regiões separatistas da Ucrânia — Donetsk e Lugansk.

Por volta das 00h15, no horário de Brasília, jornalistas em Kiev, capital da Ucrânia, relataram explosões ao redor do Aeroporto Internacional de Kiev.

Em discurso, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que os conflitos entre a “Rússia e as forças ucranianas eram inevitáveis e apenas uma questão de tempo”. “Tomei a decisão por uma operação militar”, completou.

O presidente russo também alertou que aqueles que “tentem interferir (na operação russa na Ucrânia) devem saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências que nunca conheceram”.

O Ministério da Infraestrutura da Ucrânia anunciou que o espaço aéreo do país ficará fechado “devido ao alto risco para a segurança”.

O cenário de Guerra entre os dois países é um fato. Mas, afinal de contas, esses acontecimentos podem ser cobrados em concursos públicos? Como a guerra de Rússia e Ucrânia podem cair em concursos?

Os professores de Atualidades da Folha Cursos, Orlando Stiebler e Alex Mendes, explicaram o cenário de guerra e destacaram que, sim, o assunto é muito relevante para quem prepara-se para concursos.

“Esse assunto é importantíssimo para as provas de concursos daqui para frente. Tendem a cair porque mexem com a geopolítica. Então se você catalogar, esse tema entra em geopolítica como um dos conflitos mais importantes do século XXI. Talvez, desde a 2ª Guerra Mundial, este seja o conflito que tenha a maior possibilidade de tornar-se um conflito histórico e, infelizmente, dramático pelo número de mortes e danos, comentou o professor Orlando Stiebler.

Por dentro da “Guerra”. Por que Rússia e Ucrânia estão em conflito?

O primeiro ponto que os candidatos de concursos públicos devem atentar-se é o entendimento do conflito. Afinal de contas, por que a Rússia atacou a Ucrânia?

Orlando Stiebler explica que isso acontece pois a Ucrânia, que era parte da antiga União Soviética e que tornou-se independente em 1991, cuja capital é Kiev, vem se aproximando, já há alguns anos, em relação ao Ocidente, sobretudo aos Estados Unidos.

“Isso de duas formas: a primeira com uma remota entrada na União Europeia e outra com uma entrada iminente na OTAN, que é uma herança da época da Guerra Fria e que representa uma aliança militar, liderada pelos Estados Unidos. Então a Rússia reage a um avanço da OTAN às suas fronteiras e Putin (presidente russo), de uma forma autoritária, invade a Ucrânia para impedir que este país, que durante séculos foi ligado à Rússia,torne-se mais próximo do Ocidente”, explicou Stiebler.

Outra questão importante foi que, em 2014, o povo tomou a Praça Maidan, em Kiev, e conseguiu derrubar o presidente pró-Moscou (Viktor Yanukovytch), que, na verdade, era manipulado por Putin (presidente Russo).

“Nesse momento, o ‘povo venceu’, e a Rússia começou a se vingar do seu aliado. A posição mais concreta da Rússia em relação a isso foi a tomada da Crimeia, que fica ao Sul da Ucrânia e de fundamental importância geopolítica para os dois países, e a conflagração da guerra na Região Leste da Ucrânia, onde algumas cidades, muito próximas da Rússia, concentram o PIB da Ucrânia. O que se imaginava era uma guerra nessa região, mas o que se vê hoje é uma guerra total”, comentou o professor.

As consequências do conflito

Candidatos de concursos públicos devem entender também as consequências que o conflito entre os países pode gerar. O professor da Folha Cursos, Alex Mendes, destaca que são consequências de cunho político e econômico.

Consequências políticas

Sob o ponto de vista político, o único país importante que, relativamente, não condena as ações da Rússia é China, que vem estreitando as relações econômicas com os russos.

“E a China está pensando, na verdade, em si mesma, porque ela reivindica a retomada do território de Taiwan, cujo nome correto é República da China Nacionalista, separada da China após a tomada do Partido Comunista Chinês, em 1949. Então a China hoje não condena a invasão na Ucrânia porque em algum momento vai tentar a anexação de Taywan no futuro”, explica Alex Mendes.

Do outro lado, Vladimir Putin vai enfrentar uma forte oposição política de praticamente toda a União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia, ou seja, o grupo dos países ricos do mundo como um todo.

Consequências econômicas

  • Mundial

Sob o ponto de vista econômico mundial, chineses e russos mantêm relações econômicas importantes. Está sendo construído um grande gasoduto e oleoduto para levar petróleo e gás da Ucrânia em relação à China.

“Portanto, a China é o único país importante, pelo menos até agora, que não condena a invasão da Ucrânia. A Rússia também conta com o apoio da Belarus, mas trata-se de um país pequeno, com 6 milhões de habitantes, que, na verdade, é um satélite da Rússia ao Norte da Ucrânia.”

Todavia, a Rússia vai enfrentar agora uma série de sanções econômicas, impostas pelo grupo do Ocidente (Europa Ocidental – Alemanha, França, Itália e Grã Betanha -, Estados Unidos, Canadá, Japáo, Austrália e Nova Zelândia).

“Com isso, o país russo vai enfrentar várias dificuldades nos próximos anos, se esse conflito for adiante. Além disso, temos consequências importantes para o preço internacional de petróleo e gás, já que a Rússia é uma importante produtora mundial de petróleo e gás, e a Europa depende muito dos gasodutos e oleodutos, que passam pela Ucrânia até chegar na Romênia, Moldávia, Polônia, e Europa oriental. Então há uma tendência clara de que o preço internacional do barril do petróleo e do metro cúbico do gás natural se elevem”, comenta o professor Alex Mendes.

Outra consequência econômica importante será sobre o preço dos fertilizantes no mundo todo.

“Isso porque um dos componentes dos fertilizantes contemporâneos são exatamente os derivados do petróleo. E, portanto, o preço dos fertilizantes aumenta, e deve aumentar o custo da produção de alimentos em escala global.”

  • No Brasil

As consequências econômicas também deverão afetar o Brasil. “Nosso país importa grande parte dos seus fertilizantes exatamente da Rússia”, explica Alex Mendes.

Além disso, a Rússia é uma grande compradora de carne brasileira. O país também é produtor de trigo e exporta para o Brasil, que, por condições climáticas, tem dificuldades nessa produção.

“O Brasil hoje compra muito dos Estados Unidos e da Argentina, mas também da Rússia. Então há tendência de pressão no aumento de preços na cadeia produtiva do trigo, que inclui todas as massas e pães, por exemplo, aumentando a inflação no Brasil nos próximos meses.”

O que esperar desse conflito?

Quem vai fazer provas de Atualidades em concursos deve estar atento ainda ao que pode acontecer dentro desse conflito. O professor Alex Mendes também trouxe essa análise.

De acordo com ele, a Ucrania não faz parte da OTAN ainda e, por isso, não há risco, no momento atual de uma guerra mundial.

“De acordo com Joe Biden, a OTAN não vai se mobilizar, nesse primeiro momento, para conter a invasão russa, mas vai fortalecer as bases militares da OTAN em países importantes que estão no entorno da Ucrânia. Então num primeiro momento não há risco de uma grande guerra mundial, pelo menos dadas as informações que temos até agora. Uma guerra mundial só poderia surgir se a OTAN interferisse no conflito. E aí de fato seria um conflito de escala global. Isso não deve acontecer”, explicou.

Todavia, de acordo com o professor, há uma tendência de isolamento político e econômico por parte da Rússia e da China, que, na verdade, estão tentando redefinir uma geopolítica mundial.

“Essa geopolítica que, desde 1945, do final da 2ª Guerra Mundial até o momento, foi dominada por americanos e europeus. Agora há novos ‘players’ nesse mercado. A China é a segunda maior potência mundial e a Rússia é um país ainda em desenvolvimento, mas que tem armas nucleares importantes. O que Rússia e China estão definindo agora é, segundo as palavras de Putin, uma linha vermelha, da qual o Ocidente não pode ultrapassar, pois, se ultrapassar, terá uma reação de ordem militar.”

Como guerra de Rússia e Ucrânia pode cair em concursos?

Dada a contextualização, como, na prática, a guerra de Rússia e Ucrânia pode cair em concursos?

Alex Mendes destaca que, normalmente as bancas pedem não apenas o conhecimento factual, mas exatamente essa contextualização.

“Ou seja, os antecedentes, o desenvolvimento desse fenômeno que foi a invasão da Ucrânia e o que podemos ter como consequência no futuro. É importante para o candidato que tenha o conhecimento dessa linha do tempo até o momento atual”, destacou o professor.

Sobre as provas que podem exigir esses conhecimentos, Alex Mendes pontuou as avaliações de Atualidades, mas não apenas elas.

“Esse tema pode vir também em redação. Então é muito importante que o aluno tenha atenção a isso. Porque às vezes o aluno é muito bom sob o ponto de vista gramatical, mas não domina o conhecimento.”

O professor também alertou que esse assunto vai cair em todos os concursos que envolvam Geografia, como os de PMs e de diplomata.

PUBLICIDADE