Em uma conversa sobre paternidade com os colegas de confinamento, Pedro Scooby relatou um episódio em que deu um tapa no rosto do filho Dom, de 9 anos, após uma “resposta atravessada”. A criança tinha respondido o pai e, com a pancada, acabou com o rosto inchado.
“Ele estava aqui assim [ao lado], minha mão só fez assim, na cara dele. Irmão, o beiço já ficou igual do Patolino [risos]. Nunca mais ele me respondeu na vida”, contou o surfista. Scooby também é pai dos gêmeos Bem e Liz, de 5 anos, frutos do relacionamento com Luana Piovani.
A fala, de acordo com especialistas, é problemática em vários aspectos, a começar pelo fato de que agressão física nunca foi sinônimo de educação. Pedro compartilhou o episódio com naturalidade, entre risadas, sem questionar se a agressão teria causado algum tipo de trauma na criança.
De acordo com a psicóloga Jéssika Neris, atitudes como a de Scooby, em que a violência seria a forma de “corrigir” comportamentos inadequados dos filhos, não são educativas em nenhum contexto. Apesar de comuns, podem resultar em traumas significativos na vida das crianças.
“Temos uma expectativa irreal sobre como uma criança deve agir. Muitas vezes, queremos que a criança saiba sozinha como controlar as suas emoções, e quando não conseguem, as punimos por isso”, pondera.
Para explicar o posicionamento inadequado, a profissional faz ainda um paralelo entre adultos e crianças. “Quando nos irritamos ou nos chateamos com algum outro adulto, batemos neles? Então porque fazemos isso com as crianças, que ainda mal aprenderam a regular as suas emoções”, questiona.
Herança histórica
Práticas punitivas a partir da agressão perduram por décadas, sustentadas em pilares tradicionais. A crença de que punir é educar tem raízes antigas, na época em que “os pais tinham pouco acesso ou conhecimento sobre criação e desenvolvimento infantil, e acreditavam no sistema de punição a partir das agressões”, como recorda o psicólogo Igor Barros.
A criação de um filho, no entanto, exige paciência e canais de diálogo sempre abertos. “A melhor definição é a punição educativa, porém, muitas vezes a sociedade não entende o que seria a punição”, pondera. Em suma, o profissional reforça que “a conversa ainda é a melhor forma de se resolver”.
Impactos no desenvolvimento infantil
Além de não ser eficaz, bater nas crianças pode aumentar a probabilidade de comportamentos problemáticos ao longo do tempo. Entre eles, a psicóloga lista o desenvolvimento de comportamentos agressivos, antissociais e disruptivos na escola.
“Na hora da raiva ninguém educa ou aprende. Adultos ou crianças precisam estar calmos e regulados emocionalmente para encontrarem uma solução”, completa Jéssika.