‘Se você bater a cabeça, nunca deve ficar sozinho nas primeiras 24 horas’, dizem os médicos sobre a morte de Bob Saget

Há pouco mais de um mês, o ator Bob Saget, da série ‘Três é demais’, foi encontrado morto em um quarto de hotel, aos 65 anos. Só na semana passada a investigação foi encerrada e, a causa da morte, determinada. Saget teve um traumatismo craniano e serve de alerta para o alerta de neurologistas: uma pancada na cabeça é algo que precisa ser investigado e pode levar à morte.

Segundo uma nota da família, o ator “bateu a nuca acidentalmente em algo, não pensou sobre isso e foi dormir”.

No Brasil, as principais causas de traumatismo crânio encefálico são queda e acidente de moto. De acordo com Matheus Felipe Borges Lopes, neurocirurgião do Instituto de Ciências Neurológicas de São Paulo, muitas vezes, quando o trauma não penetra o crânio e não se vê sangue, as pessoas acham que está tudo bem

— As lesões se desenvolvem na forma de hematomas, que são sangramentos no crânio, ou contusões. Sabe quando fica roxo no braço, isso acontece no cérebro também? A energia da pancada pode ser transmitida até o tecido cerebral fazendo machucados que podem ser graves — explica Lopes.

A maioria dos traumas são leves, mas há sinais de alerta. É preciso procurar atendimento imediato se houver alteração no nível de consciência (ficar inconsciente mesmo que pos instantes), se a pessoa ficar confusa, falar coisas desconexas, tiver sonolência, náusea, vômito, sangramento pelo nariz ou ouvido (indica fratura do crânio) e dor de cabeça que só piora.

Nesses casos, é preciso procurar um pronto socorro com urgência. Vale ressaltar que esse atendimento exige uma tomografia, em menos de uma hora, e, caso precise ser feita uma intervenção, é preciso um neurocirurgião.

“Se você bater a cabeça, nunca — e quero dizer nunca v deve ficar sozinho nas primeiras 24 horas”, disse Gavin Britz, presidente de neurocirurgia do Houston Methodist, ao New York Times.

Em relação às quedas e pancadas, Lopes pede atenção especial a dois grupos: crianças e idosos. Segundo ele, a principal causa de morte de crianças por acidentes são acidentes domésticos, como criança pequena que cai do sofá, da cama, ou do bebê conforto.

— As crianças são mais vulneráveis, especialmente na primeira infância, quando o cérebro e a cabeça ainda estão em desenvolvimento. Desde que começa a andar tem que estar atento e tentando prever situações, uma queda da própria altura é menos grave que do trocador. Com facilidade pode ter um afundamento craniano. Muitas pessoas negligenciam isso e é um problema de saúde pública seríssimo — diz o neurocirurgião.

Essa queda da própria altura pode ter efeito ainda mais grave em idosos. Nessa faixa etária, o cérebro tem vasos mais frágeis e suscetíveis à ruptura de veias. Outro agravante é o uso de medicamentos anticoagulantes, que aumentam ainda mais o risco, além de fatores que favorecem as quedas, como tonturas, dificuldades de locomoção e mal súbito.

O neurologista Fernando Cendes, professor de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, explica que um trauma de crânio pode levar a uma contusão cerebral, criando um inchaço no cérebro que aumenta a pressão intracraniana. Isso pode comprometer estruturas, como o tronco cerebral, provocando a morte. Esse processo pode ocorrer em algumas horas, mas também pode demorar dois dias. Por isso, não basta ficar bem nos minutos após o trauma, é preciso manter o alerta por dias.

Cendes diz ainda que há consequências tardias do trauma de crânio, incluindo epilepsias e demências.

— Por isso, se for uma pancada forte e, principalmente, se a pessoa perdeu a consciência (desmaiou) mesmo que por minutos, deve ir imediatamente a um serviço de urgência.

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