Florinda Meza, intérprete de Dona Florinda, anunciou estar disposta a travar uma batalha judicial para que os seriados “Chaves” e “Chapolin” retornem à TV. Segundo a atriz e viúva de Roberto Gómez Bolãnos (1929-2014), criador e protagonista das atrações, sua intenção é fazer valer o que seria uma vontade do comediante.
“Meu coração de Chapolin está triste porque o programa Chespirito não pode ser visto nas telas de um mundo tão necessitado de risadas e alegrias”, escreveu a atriz de 73 anos, na segunda-feira (14), em sua conta no Twitter.
“Se fosse por mim, o programa nunca teria saído das telas. Por isso, agora estou em plena luta legal para que se respeite a vontade de meu Rober e para que o programa volte ao ar”, acrescentou Florinda Meza.
Ambas produções deixaram de ser exibidas em mais de 20 países no dia 1º de agosto de 2020, por falta de acordo entre a Televisa – até então detentora dos direitos de transmissão – e Roberto Gómez Fernández, filho de Bolaños, à frente do Grupo Chespirito – dono dos direitos de exploração comercial dos personagens.
O impasse impediu então que a rede mexicana renovasse acordos com o SBT, que exibiu as fitas ao longo de 36 anos, e com o Grupo Globo, que levou “Chaves” e “Chapolin” ao ar pelo Multishow.
Uma das marcas da emissora de Silvio Santos, “Chaves” era tido como coringa das atrações para alavancar a audiência em diversos horários.
Até mesmo o Las Estrellas, canal de entretenimento da Televisa, retirou os humorísticos de sua grade. No streaming, o Amazon Prime Video se viu igualmente obrigado a excluir os programas do cardápio.
À época, Florinda Meza afirmou que não fora chamada para participar das conversas de renegociação dos direitos de transmissão e classificou o imbróglio como “uma agressão às pessoas” no momento em que o “mundo precisa de mais diversão”.
Edgar Vivar, que interpretou os papéis de Senhor Barriga e Nhonho, explicou o que teria ocorrido nos bastidores. “Roberto Gómez Bolaños tinha apalavrado um contrato de usufruto dos personagens e de sua criação literária até 30 de julho deste ano [2020], quase seis anos depois de sua morte. E não renovaram os direitos, a Televisa não quis pagar”, declarou o ator, hoje com 73 anos, a uma rádio mexicana naquela ocasião.
Nas publicações recentes via rede social, Florinda Meza afirmou, por sua vez, que não teve qualquer participação na decisão avalizada pelos herdeiros de Bolaños. “Eu jamais teria permitido que o programa fosse deixado de ser transmitido. Não é o que o meu Rober queria. Por isso, agora estou lutando legalmente para que possa voltar”, disse.
Ela chegou a rebater um seguidor que disse ver em sua atitude um mero interesse financeiro. “Pelo contrário. Estou gastando o meu dinheiro numa batalha legal para que se respeite a vontade do meu Rober e para que o programa possa voltar às telas”, respondeu a atriz, que viveu com Bolaños de 1977 até o ano de sua morte. Eles só se casaram oficialmente em 2004, quando a atriz adotou o sobrenome Gómez Bolaños.
Um outro usuário, identificado como Abdala Bucaram, reprovou a postura do filho do autor mexicano. “A verdade é que você, Florinda, não é muito apreciada. Mas é verdade que o filho do senhor Bolaños é um miserável que tirou do ar o Chaves e nosso Chapolin. É um infame que não entende que o Chaves pertence ao mundo. Se fosse como seu pai não faria essa maldade”, criticou.
A Televisa tem em seu acervo mais de 1.200 episódios dos programas “Chaves”, “Chapolin” e “Chespirito”. Data de junho de 1971 a primeira vez que o canal exibiria “El Chavo del Ocho”.
O último capítulo original foi ao ar em 1995, mas continuou a ser exibido ao redor do mundo.
Segundo o site do agente de licenciamento do Grupo Chespirito, em cerca de vinte países o programa do “Chaves” alcançou mais de 114 milhões de espectadores.
“Séries voltarão”, disse herdeiro há quase 1 ano
Durante uma live em maio do ano passado, Roberto Gómez Fernández assegurou trabalhar para que os programas criados pelo pai voltem à televisão. Ele, contudo, não detalhou prazos nem disse como andam as tratativas para o prometido retorno.
“Eu não posso dormir tranquilo até que volte ao ar. Para mim, é uma prioridade. Espero que esteja de volta logo. Às vezes se tomam decisões em circunstâncias complicadas. E foi o que aconteceu”, disse o executivo ao pedir paciência aos fãs dos seriados.
“Uma cadeia de circunstâncias de pessoas envolvidas, eu me incluo, que tomaram decisões que levaram a isso. Tenho que fazer até o impossível para que retorne. E logo voltará. Peço um pouco de paciência, mas posso dizer, com certeza, que as séries voltarão. E espero que seja logo”, disse.
Como estão hoje os atores de Chaves e Chapolin
Florinda Meza – Dona Florinda
Atualmente com 73 anos, a moradora mais brava da vila, que morava na casa número 14, era casada na vida real com Roberto Bolaños, o Chaves, ou Chespirito. Ela tinha apenas 23 anos quando passou a integrar o elenco do seriado. A intérprete de Dona Florinda, Pópis e Chimoltrúfia também participou de alguns filmes durante os anos 1970 e 1980, mas se destacou mesmo no humorístico televisivo. Seu último papel foi a Dona Laura, na série “Mulheres Assassinas”, de 2010.
Maria Antonieta de Las Nieves – Chiquinha
Hoje com 71 anos, é uma das mais amadas personagens do “Chaves”. Entre os bordões que eternizou, ficou conhecida pelo choro escandaloso e pelas trapaças que aprontava. De Las Nieves permaneceu com sua personagem da menina de sardas até o ano de 2019, quando decidiu aposentá-la após uma turnê de despedida pelo México. Em 2021, entrou para o Guinness World Records por ser a atriz que por mais tempo representou uma mesma personagem infantil.
Carlos Villagrán – Quico
Amigo de Chiquinha e do Chaves, o garoto (pasmem!) não usava qualquer enchimento nas bochechas para fazer as caras e bocas que marcaram o personagem. O ator, hoje com 78 anos, ainda segue na vida artística dando vida ao garoto de 9 anos, também conhecido como o Tesouro de Dona Florinda. Costuma vir com frequência ao Brasil, onde faz shows e se apresenta em programas de TV. Sua saída do elenco antes do fim do “Chaves” foi motivada por desavenças com o casal Florinda e Bolaños, contra os quais costuma fazer duras críticas.
Ana Lilian de la Macorra – Paty
Atriz interpretava a menina bonita que arrancava suspiros de todos os garotos da vila. Foi a terceira de quatro atrizes a interpretar a personagem. Antes dela, Paty foi vivida por Patty Juaréz (1972) e Rosita Bouchot (1975). Posteriormente, foi sucedida por Veronica Fernández (1987). Ana Lilian, porém, não seguiu carreira artística e tornou-se psicóloga na Cidade do México. Casada e mãe de 2 filhos, também escreve artigos em jornais e revistas e é autora de dois livros – um sobre poesia e outro acerca da história de sua vida sob uma perspectiva psicológica. A artista ainda mantém um site sobre psicologia chamado SerLuna. Com 64 anos, Ana Lilian ainda esbanja beleza.
Quem já morreu
Roberto Gómez Bolaños – Chaves
Ficou conhecido mundialmente como Chespirito, nome artístico que significa “Pequeno Shakespeare”, epíteto cunhado por um diretor impressionado com seu talento. Além de interpretar Chaves e Chapolin, o ator e comediante foi responsável pela direção, roteiro e produção das séries, o que o fez ser considerado até hoje um dos humoristas mais influentes da América Latina. Também estrelou filmes mexicanos, escritos e realizados por ele mesmo, como “El Chanfle” e “El Chanfle 2”, “Don Ratón” e “Don Ratero”, “Charrito” e “Música de viento”, bem como peças de teatro de sucesso. Bolaños morreu em 28 de novembro de 2014, aos 85 anos, vítima de um ataque cardíaco, decorrente de complicações da doença de Parkinson.
Ramón Valdés – Seu Madruga
Ramón Valdés é reconhecido até hoje como um dos maiores comediantes da história do México. Querido por fãs brasileiros, o simpático Seu Madruga vivia a fugir de Seu Barriga, a quem devia 14 meses de aluguel. Sem encontrar emprego, repetia que “não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar”. O intérprete de Seu Madruga – Don Ramón no original – nasceu em um bairro humilde da Cidade do México e começou sua carreira artística ainda nos anos 50. Valdés se despediu de seu personagem mais icônico em 1981, ano em que gravou seu último episódio em “Chaves”. O astro morreu em agosto de 1988, aos 64 anos, devido a um câncer no estômago.
Rubén Aguirre – Professor Girafales
Rubén Aguirre ficou eternizado como Professor Girafales, um dos personagens mais queridos da vizinhança do Chaves. Fazia o papel de namorado com Dona Florinda, casal romântico e apaixonado. Além de atuar na comédia e em “O Chapolin Colorado”, Aguirre teve uma prolífica carreira como ator, produtor, comediante, roteirista e diretor na TV mexicana. Acometido de diabetes avançada, ele morreu em 17 de junho de 2016, em casa, em Puerto Vallarta Jalisco, balneário mexicano, onde morava há alguns anos. Dois dias antes, havia feito aniversário de 82 anos. A morte foi causada por complicações de uma pneumonia.
Angelines Fernández – Dona Clotilde
Antes de interpretar a Dona Clotilde em “Chaves”, Angelines Fernández foi considerada uma das atrizes mais belas da Espanha. A estrela emigrou do país europeu para Cuba após se envolver na luta contra a ditadura de Francisco Franco. Depois, a eterna Bruxa do 71 se mudou para o México e começou a atuar em produções de sucesso da TV do país. Fernández morreu em março de 1994, aos 71 anos. A causa da morte foi um câncer relacionado às décadas de fumo constante. A atriz está enterrada no mesmo cemitério que Ramón Valdés, o Seu Madruga.
Horácio Gómez Bolaños – Godinez
Irmão mais novo de Roberto Gómez Bolaños, Horácio tornou-se conhecido por interpretar o avoado Godinez no seriado “Chaves”. Embora tenha atuado como Godinez em diversas produções do humorístico, preferia lidar com os aspectos logísticos dos projetos. O ator e produtor morreu em 21 de novembro de 1999, após sofrer um ataque cardíaco durante as gravações de uma homenagem a Chespirito na Televisa.
Raúl Padilla – Jaiminho
Raúl Padilla passou a integrar o elenco principal de “Chaves” em 1979, após a saída inicial de Ramón Valdés. O ator ganhou o coração de fãs no mundo inteiro como o atrapalhado e preguiçoso carteiro Jaiminho, morador de Tangamandápio e conhecido por seu bordão “quis evitar a fadiga”. Padilla morreu em fevereiro de 1994 aos 75 anos, após sofrer um ataque cardíaco. Raul Padilla Jr, o filho do ator, também trabalhou com Chespirito e faleceu em 2013.