Miss morre após cirurgia para tirar amígdalas; risco de operação é alto?

A miss e empresária Gleycy Correia, de 27 anos, morreu após complicações de uma amigdalectomia (cirurgia para retirada das amígdalas).

Ela passou dois meses internada em um hospital de Macaé (RJ) e as causas da morte foram pneumonia, encefalopatia anóxica, parada cardiorrespiratória, choque hemorrágico e hemorragia da artéria amigdaliana, informou o IML (Instituto Médico Legal) nesta terça-feira (21).

De acordo com o otorrinolaringologista Luciano Moreira, a cirurgia tem riscos inerentes a qualquer procedimento, mas é seguro quando indicado ao paciente. “Pensamos em fazer cirurgia quando entendemos que o potencial de benefício é superior aos riscos”, indica. Para isso, há avaliação de desconfortos na região, infecções de repetição, amígdalas aumentadas que causam alterações no sono e dificuldades de engolir, por exemplo.

A complicação de maior recorrência são os sangramentos, ainda assim reservados a uma pequena parcela dos pacientes. Eles podem ser logo no pós-operatório (primários) ou aparecer após o quarto dia de cirurgia (secundários), geralmente quando a pessoa já teve alta e está em casa.

“Eles são a principal complicação, mas não acontecem com frequência. Entre 2 e 7% das cirurgias podem evoluir com sangramento”, explica Renato Roithmann, presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).

Por isso, sobretudo quando já está de alta, é importante ter atenção ao notar qualquer sinal e buscar atendimento médico. É o caso de gosto de sangue na boca, vômitos ou saliva com sangue, independentemente da quantidade.

“Sangramento significa que o médico deve reavaliar o paciente. Pode existir reinternação para dar ponto, fazer cauterização. Normalmente é tranquilo, desde que vá ao médico”, pontua Roithmann.

Em alguns casos, também é possível ter dor além do normal, geralmente tratada com medicamentos.

Por que hemorragias ocorrem?

Segundo o otorrinolaringologista Luciano Moreira, os sangramentos são mais suscetíveis porque a cavidade da região tem muitos vasos sanguíneos. “As áreas internas do nariz e garganta são muito vascularizadas, irrigadas por vasos e altamente sangrantes.”

Essa característica difere em cirurgia que envolvem a pele, como as abdominais, diminuindo o risco de sangramento. No entanto, nestas, há maior possibilidade de infecções do que em uma amigdalectomia, afirma Moreira.

Quando é indicado retirar as amígdalas?

Embora não sejam órgãos vitais, as amígdalas desempenham uma função importante no sistema imunológico: produzem anticorpos e acionam os linfócitos, células defensoras do organismo contra vírus, bactérias e outros agentes nocivos que entram pelo nariz e a boca.

Sendo tão importantes na linha de defesa, precisam se enquadrar em critérios clínicos bem específicos para serem extraídas. Renata Lopes Mori, otorrinolaringologista do Hospital Santa Marcelina (SP) e também especialista pela ABORL-CCF, aponta algumas situações.

“A indicação cirúrgica é muito criteriosa. O paciente precisa ter mais de sete infecções em um ano ou cinco anualmente e durante dois anos consecutivos ou três por três anos consecutivos”, informa.

Adultos também podem ter que operar devido à apneia do sono, infecções repetitivas, quando restos de alimentos se depositam nas criptas, ou sulcos, das amídalas, gerando mau hálito (halitose), se forem diagnosticados abcessos e tumores ou em caso de febre reumática.

Existe idade certa para operar?

A amigdalectomia não costuma ser realizada em bebês e crianças menores de quatro anos, pois nessa fase o sistema imunológico está em processo de amadurecimento.

“Antes dessa idade, somente as amígdalas produzem um tipo de imunoglobulina que faz a proteção das vias aéreas superiores. Após os três anos, as glândulas salivares começam a produzir estas mesmas defesas naturais do organismo”, explica Fabiano Haddad Brandão, otorrinolaringologista do Hospital Paulista.

Porém, cabe ao médico avaliar a necessidade da cirurgia, que pode ser feita junto à retirada das adenoides, que desempenham papel similar e estão localizadas próximo. Tudo depende do estado clínico do paciente, diz a médica Renata Furlan, que afirma já ter operado crianças com menos de dois anos por apresentarem, por exemplo, quadros respiratórios obstrutivos severos que prejudicavam sono, alimentação, comportamento e disposição.

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