Olhar atento, nervosismo imperceptível e concentração de quem vai lançar um foguete. Essa cena aconteceu dentro de uma das unidades do sistema socioeducativo do Acre e o personagem com figurino de cientista era um dos jovens alunos.
O lançamento do foguete aconteceu na manhã da última quarta-feira (29), no pátio do Centro Socioeducativo Aquiry, onde acontecia o encerramento da 1ª Feira de Ciências da Escola Darquinho, promovida pela equipe da escola, em parceria com o Instituto Socioeducativo do Acre (ISE).
Além do jovem que lançou o foguete, professores, servidores e visitantes da feira ficaram impressionados com a desenvoltura e com o interesse de cada aluno nas apresentações. Entre os visitantes, a defensora-geral da Defensoria Pública do Estado do Acre (DPE/AC), Simone Santiago e o defensor Celso Araújo Rodrigues, coordenador do Núcleo da Cidadania da DPE.
“A educação muda a realidade das pessoas e projetos como este podem mudar a vida desses jovens. Percebi que todos estavam muito engajados com os temas, que estudaram e pesquisaram. Isso é muito positivo”, comentou a defensora-geral, Simone Santiago.
O diretor da Escola Darquinho, Wagner Vasconcelos, enfatizou que o tema da feira “Ampliando saberes”, diz muito do anseio de toda a equipe técnica. “O trabalho foi intenso, de toda equipe, e o resultado foi incrível. Queremos muito que esse período de intensa pesquisa, de dedicação deles, seja inspirador, que eles descubram seus dons, suas aptidões para continuar nesse universo da educação”, comentou com entusiasmo.
As visitas à feira de ciências no Aquiry foram restritas, devido a uma tentativa de fuga da unidade ocorrida na semana anterior, mas a escola decidiu por manter a atividade. E valeu a pena. Quem viu a riqueza de detalhes e o empenho do alunos nas apresentações, saiu de lá motivado, acreditando que o futuro desses jovens está em oportunidades ligadas à educação.
Nas demais unidades, a exemplo da Acre e Mocinha Magalhães, até o familiares tiveram acesso à apresentação dos alunos, momento de orgulho e muita alegria.
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Pioneirismo do Acre
Numa iniciativa pioneira no Brasil, de acordo com o presidente do ISE, coronel Mário César Freitas, jovens reeducandos que estão privados da liberdade puderam dar asas à criatividade, mergulhar no universidade da ciência e alçar vôos que podem levá-los ao caminho mais feliz: o da educação.
“O Brasil todo tem muita deficiência nessa área, e as unidades socioeducativas nem sempre têm estrutura boa, com acesso à escola. Aqui no Acre temos escolas em todas as unidades, escola formal”, disse o coronel.
Uma feira de ciências é algo considerado comum nas escolas, mas de acordo com o presidente do ISE, em todos os anos de experiência e contatos com o sistema socioeducativo, a iniativa do Acre foi inédita. “É muito difícil acontecer por causa das questões relacionadas à segurança. Desconheço estado onde tenha acontecido feira de ciências dentro do sistema de socioeducação”, garantiu coronel Mário César.
Com temas relevantes para a sociedade, a exemplo de projetos sobre astronomia, uso de plantas medicinais na preparação de fármacos e tratamento de doenças, adulteração de gasolina e suas consequências, além de fontes renováveis e não renováveis de energia, os estudantes mostraram total empenho e desenvoltura nas apresentações.
Entre os projetos, um que foi inspirado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), chamou a atenção dos defensores do Estado. O nome do projeto é “Aprendendo geometria através de origame e kirigame”. “Um trabalho excelente, com uma riqueza de detalhes impressionante. Aliás, todos os projetos são muito bem pensados. A escola e o sistema socioeducativo do Acre estão de parabéns”, disse a defensora-geral, Simone Santiago.